Sem tinta, Lanceiros ganham homenagem a carvão

Geraldo Hasse
No último sábado (25), um grupo de três artistas plásticos liderado pelo professor Marcos Sari fez uma série inicial de desenhos no muro principal da Passagem Lanceiros Negros, o rico beco que liga os bairros Auxiliadora e Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Três carantonhas negras, cada uma com dois metros de altura, foram gravadas para lembrar a participação dos escravos na Guerra dos Farrapos (1835-1845). Com a promessa de ganhar a liberdade, os negros cativos formaram batalhões de choque contra as forças do Império.
A pé ou a cavalo, só tinham uma arma: as lanças de três metros de comprimento. Mesmo sendo considerados “valentes como o diabo”, os lanceiros perderam a guerra, sofreram um massacre no final e não ganharam o prometido passe livre.
Apesar do bom resultado final, a empreitada artística na Passagem dos Lanceiros foi frustrante porque o grupo – formado além de Sari por Paulo Correia, Leandro Machado e Fabriano Rocha – teve de trabalhar com recursos muito escassos, como no final da guerra que ensanguentou “esta bela província”, expressão deixada pelo general Netto.
Contrariando o que havia prometido ao presidente da Associação dos Moradores do Bairro Auxiliadora (AMA), uma grande loja de material de construção situada na rua Silva Jardim não entregou aos artistas o material necessário (tinta) para o mural – a explicação só viria dias depois: os herdeiros da loja não tinham sido avisados do compromisso assumido pelo fundador da ferragem…
Numa alegoria à penúria dos guerrilheiros farroupilhas nos últimos anos de sua aventura político-militar, os artistas fizeram o mural com carvão (de fazer churrasco) e duas caixas de giz doadas pela Papelaria Bambi, da mesma rua Silva Jardim, que honrou a promessa feita à AMA. O quarteto artístico trabalhou sem pró-labore, cachê ou ajuda de custo. Só na moral.

3 comentários em “Sem tinta, Lanceiros ganham homenagem a carvão”

  1. Saudações Griô aos Lanceiros Guerreiros, que tem sua luta forjada na defesa dos Direitos Humanos! O Direito da Livre Expressão de Arte, Cultura e da Educação Popular! PARABÉNS PELA LUTA! Essa caminhada nos representa nas “Vivências do Negro Contemporâneo – A mão afro-brasileira na construção do estado de direito”!
    VALE A PENA COMPARTILHAR!
    “Existe uma história do povo negro sem o Brasil; mas não existe uma historia do Brasil sem o povo negro”. (Januário Garcia).
    Vamos (continuar) caminhando juntos!
    Prudêncio
    Jornalista, Artista Plástico, Mestre Griô em comunicação social, Direitos Humanos e Cidadania
    grioprudencio.trocadesaberes@gmail.com
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