Economia brasileira desce a ladeira 

A Focus, pesquisa que monitora a evolução das expectativas de mercado para as principais variáveis macroeconômicas, divulgada semanalmente pelo Banco Central, há cinco semanas projetou uma queda de 2,96% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Sete dias depois aumentou a redução para 3,34% e agora a previsão está em quase 6%. O mercado tentou ao máximo mascarar o desastre que serão os números da economia em 2020, mas aos poucos está chegando próximo da realidade. Eles sabem que os números serão ainda piores.

Portanto, a retração do PIB de 1,5% no primeiro trimestre de 2020 (comparado ao quarto trimestre de 2019), divulgada na sexta-feira (29) é um retrato anterior da pandemia do novo coronavírus. Só ratifica que a economia brasileira já vinha cambaleante. O País vive uma crise econômica há cinco anos, provocada por questões e decisões políticas. Já existem projeções de uma queda próxima dos 10% do PIB em 2020.

Essa é a realidade econômica no mundo,  mas com previsões de estímulos dos governos para evitar uma quebradeira geral.  Os Estados Unidos devem gastar 35% do PIB em pacotes de transferência de recursos do Tesouro para trabalhadores e empresários. Na Alemanha, os gastos do governo para enfrentar a crise do coronavírus atingiram 37% do PIB.

Já as iniciativas anunciadas até o momento pelo governo Bolsonaro — como antecipação do 13º salário de pensionistas e aposentados do INSS, redução temporária de impostos para empresas, ampliação do programa Bolsa Família, novos recursos para o Ministério da Saúde e transferências para Estados e municípios — somam cerca de 4% do PIB, conforme levantamento do Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

Para piorar, o valor do auxílio emergencial, pago a trabalhadores informais e pessoas de baixa renda por causa da pandemia, pode sofrer uma redução de R$ 400. O auxílio, que atualmente é de R$ 600, poderá passar a ser de R$ 200, conforme possibilidade levantada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

O governo oferece o Programa de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe), que ainda não chegou ao sistema bancário. O programa destina às microempresas cerca de R$ 15,9 bilhões com prazo de 36 meses e custo de taxa Selic mais 1,25%, ou seja 4,25% ao ano. As pequenas e microempresas estão fechando suas portas e colocando na rua seus funcionários. E o governo oferece um financiamento bancário.

Os próprios assessores do Ministério da Economia reconhecem a contrariedade dos bancos privados em operar com essa linha de crédito, pois alegam que 4,25% não seria suficiente para cobrir os custos operacionais. O sistema privado teme também o risco de crédito para empresas sem caixa.

Segundo a consultoria Tendências, as famílias devem deixar de gastar R$ 225,1 bilhões neste ano na comparação com 2019. E a perda de fôlego deve ser ainda mais intensa porque os números devem ser revisados, dado que o ritmo da atividade caminha para ser ainda mais fraco do que o esperado.

O desemprego aumentou e atingiu 12,9 milhões de brasileiros no primeiro trimestre do ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a taxa de desemprego pode chegar a 18,7% no País, conforme estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  Seria a maior taxa desde os anos 1980, quando começou a pesquisa. Esses quase 19% representariam 19,6 milhões de brasileiros sem trabalho algum ao final deste ano –  sem contar os que sequer entram na estatística porque simplesmente desistem de procurar uma vaga. Os números reais são bem piores.

Mesmo economistas conservadores, grandes empresários brasileiros, estão sugerindo há um bom tempo algo semelhante ao New Deal – plano adotado pelo governo do Estados Unidos para recuperar a economia depois da quebra da Bolsa de Valores, em 1929.  A proposta é uma injeção pelo governo de muito dinheiro na economia, com repasses diretos para a população a fundo perdido.

Enquanto isso, economistas calculam que o Tesouro brasileiro tenha aproximadamente R$ 540 bilhões em caixa hoje para pagamento dos juros da dívida em 2020.