Crise política pode ser mais danosa que a epidemia no Brasil

“Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus”.

“Espero que não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”.

As declarações do presidente Jair Bolsonaro à Rede Record, na noite deste domingo, 22, são os sintomas mais leves da grave doença institucional que se dissemina  pelo corpo político do país, turbinada pela emergência da epidemia de Covid-19.

O coronavirus, já sob controle nos países asiáticos, chegou há 35 dias ao Brasil, alcançando já 1.600 casos, com 25 mortes e com a expectativa de que se alastrará em progressão geométrica nas próximas semanas.

A emergência médico-sanitária que assombra a população, no entanto, ainda não foi suficiente para promover uma trégua na guerra político-ideológica que se radicalizou no país desde o impeachment  da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015.

Ao contrário, a divisão se aprofundou e ampliou.

O virus das ambições político-eleitorais racha a oposição, que nem o golpe de 2016 conseguiu galvanizar e, agora, se dissemina como uma epidemia pelas forças governistas, cujo líder, o presidente da República, de olho na reeleição, parece não ver a realidade.

Desdenhou dos riscos da epidemia, não foi, até agora, capaz de liderar um esforço conjunto para enfrentar o vírus e, vendo ameaças às suas pretensões em todo o lado, esvazia seu ministro da Saúde e hostiliza governadores que tentam tomar a iniciativa.

As desastradas manifestações do presidente-candidato solapam a sua popularidade  e estimulam ambições no Congresso (o presidente da Câmara já se move como candidato) e nos Estados (pelo menos quatro governadores são pré-candidatos) e até no Judiciário.

Panelaços diários nas principais cidades do país registram a inconformidade da população e alimentam os discursos de ruptura – pelo menos três pedidos de impeachment do presidente estão protocolados no Congresso.

Cinco anos de recessão, desemprego renitente, desigualdade crescente e um pleito municipal à vista -são os ingredientes básicos desse caldo grosso que alimenta o vírus da crise política.

As estimativas mais pessimista falam em 40 milhões de desempregados em consequência da paralisação da economia por conta do combate à epidemia.

A disseminação previsível do coronavírus nas cadeias, onde 700 mil prisioneiros estão segregados em condições sub-humanas,  e nas áreas vulneráveis das periferias das grandes cidades do país, onde vivem milhões e falta até água e sabão, completa o quadro da grave ameaça que paira sobre o Brasil.

A epidemia vai passar, mas as consequências dela para os brasileiros são imprevisíveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bolsonaro ainda chamou os governadores de “exterminadores de empregos” por decretarem medidas restritivas à circulação de pessoas.

 

 

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