Obrigatoriedade radicaliza opositores da vacina na Europa

Na Turíngia milhares de pessoas foram novamente às ruas para protestar contra as medidas do governo para o combate da pandemia, em desafio frontal às ordens da polícia. (pa/dpa/Bodo Schackow)

Em paralelo à massiva campanha de vacinação, a Alemanha se confronta às vésperas do Natal com a “radicalização” dos grupos opostos à política de combate da pandemia. “Eu dividiria em três grupos: radicais de direita e inimigos da democracia, negacionistas e crentes de teorias conspiracionistas, paranóicos e pessoas com medos difusos e irracionais”, ensinou Winfried Kretschmann, governador do estado de Baden-Württemberg, durante o programa do jornalista Markus Lanz.

O Governador de Baden-Württenberg, Winfried Kretschmann, acredita que é fundamental não dividir a sociedade por conta da obrigação da vacina.

Protestos, alguns violentos, irromperam pelo país após o anúncio da proposta de lei para tornar obrigatória a vacinação contra a Covid-19. Ao mesmo tempo em que iniciou na mídia público/estatal a campanha para vacinar crianças de 5 a 11 anos, políticos, médicos e jornalistas começaram a receber ameaças.  No início de Dezembro, um grupo denominado Freie Sachsen (Saxônia Livre) organizou um protesto na frente da casa da secretária de saúde do Estado, Petra Köpping. A ação foi filmada e distribuída nas redes sociais.”Temos um problema fundamental aqui, esse é meu sentimento”, disse Lanz, com relação à polarização da sociedade alemã neste momento.

Influência fascista

Em geral tratados como “minoria”, estima-se que os indignados em alguns casos, como no estado da Saxônia, correspondam à metade da população. No estado da Turíngia menos, mas suficiente para levar milhares de pessoas às ruas, contrariando as ordens da polícia. O fenômeno é o mesmo em outros países da Europa, como Áustria, Luxemburgo, Espanha, Bélgica e Holanda. Em todos os casos, a grande mídia trata o fato de os protestos ocorrerem após a imposição de uma imunização obrigatória, como mero acidente.

A radicalização é associada à influência fascista, sem tratar o cerne da questão. Por que vacinar a todos, até mesmo as crianças, é tão crucial para o governo? Especialmente, considerando todas as incertezas que se acumulam sobre a vacina atual.

O grupo Freie Sachsen (Saxônia Livre) organizou um protesto na frente da casa da secretária de saúde do Estado, Petra Köpping. A ação foi filmada e distribuída nas redes sociais.

Números confiáveis

O virólogo Christian Drosten é um dos mais engajados na campanha de convencimento que circula pelos meios convencionais. “Tivemos problemas de efeitos colaterais graves em crianças na faixa etária acima dos 12 anos, mas no caso era a dose adulta. Atualmente usamos um terço da dose dos adultos”, explica ele, que é membro da comissão de experts recém criada pelo governo. Reiterando os perigos da nova variante, que se espalha mais rapidamente que as anteriores, Drosten minimiza os efeitos colaterais que, ainda assim, podem ocorrer com a vacina. “Seja pelo não fechamento das escolas, seja pela própria proteção, por precaução todos devem se vacinar”, defende ele. 

Na verdade não há números confiáveis sobre a quantidade e a gravidade de casos adversos. Médicos preferem não se pronunciar ou especular sobre o assunto. “É muito difícil você provar a causalidade original de uma morte. Ainda que através da autópsia você consiga saber exatamente porque uma pessoa morreu, a origem do problema é muito mais complicada de se achar”, diz Dr. Stefan Minks, médico clínico geral de Berlim. Segundo Minks, no caso de uma vacina é ainda mais complicado de encontrar e determinar a correlação dela com outros fenômenos fisiológicos. 

Analogia automobilística

“Estudos assim demoram anos para serem concluídos. A urgência fez com que abrissemos mão desses mecanismos de segurança”, acredita o médico. Ele lembra que, das duas mil pessoas com Covid-19 que tratou desde o início de 2020 em seu consultório, 20% a 30% tiveram reincidência da infecção. “A segunda vez é quase sempre pior que a primeira”, garante. Para os céticos da vacina, o Dr. Stephan recomenda a NovaVax, vacina feita da forma tradicional, com vírus inativos. O produto espera a autorização da Agência Médica Européia (EMA) e deve chegar no mercado Europeu no início do próximo ano. 

A grande mídia faz a propaganda da vacina em uma analogia com a indústria automobilística. “A Biontech-Pfizer é a Mercedes, e a Moderna é o Rolls-Royce”, escreveu a Revista Der Spiegel no final de Novembro. Abastecida exclusivamente por esses dois tipos de imunizantes, a Alemanha enfrenta hoje um racionamento. “Nosso inventário demonstrou que não temos vacinas suficientes para imunizar todos agora em dezembro”, declarou o novo ministro da Saúde, Karl Lauterbach (SPD). Ele anuncia que já está em contato com as fabricantes para encomendar o número suficiente de vacinas até o primeiro quadrimestre do próximo ano. Com sorte, todos receberão o reforço antes do lançamento da nova fórmula imunizante da Biontech e da Moderna anunciada para Março de 2022. Ela seria, então, a proteção contra a Omicron. 

Autor: Mariano Senna

Mariano Senna, nasceu em Porto Alegre. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995). Trabalhou em veículos impressos diários, semanários e mensários no Sul do Brasil. No JÁ, coordenou o projeto dos jornais de bairro (JÁ Bom Fim, JÁ Moinhos) e a criacao da Agência de Notícias Ambientais - Ambiente JÁ, no final dos anos 90. Em 2003 mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde atua como correspondente, tradutor e consultor. Mariano têm mais de 20 anos de experiência no acompanhamento e reportagem de temas controversos, envolvendo interesses corporativos. É mestre (Master of Science) em mídia digital pela Universidade de Lübeck e tem doutorado (PhD) em ciência da informação no Instituto de Biblioteconomia e Ciência da Informação (IBI) da Universidade Humboldt de Berlim.

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