Omicron aumenta pressão por vacinação na Europa

Pressao sobre as criancas para a vacinacao contra o Coronavírus também é grande na Europa. Muitos pais e médicos ainda sao contra. (Dpa / Laci Perenyi)

A chegada da variante Omicron, do vírus Corona, sacudiu a já abalada política de combate da quarta onda da pandemia na República Federal da Alemanha. Antes da “nova variante”, estados como a Bavária estavam sendo obrigados a transferir pacientes a países vizinhos devido à superlotação de hospitais. Ao mesmo tempo, o número de infectados por dia em todo país bateu novo recorde, 75 mil.

“Análises preliminares indicam que essa variante é mais agressiva do que pensávamos”, alertou Karl Lauterbach (SPD), guru da pandemia e um dos candidatos a ministro da saúde, nas primeiras horas depois da notícia. Quatro casos de infecções do novo vírus já haviam sido confirmadas na Bavária.

Especula-se que a nova variante já esteja circulando pelo mundo há meses, assim como a cepa original em 2019. O que faz com que a análise minuciosa e demorada do DNA de um vírus defina sua origem geográfica, é uma questão que só o colonialismo geopolítico ocidental pode explicar. De um jeito ou de outro, a descoberta de Omicron bota mais lenha na fogueira do pânico, norteando a política das potências européias.

Vacinados, curados ou mortos

O ainda ministro já cantou a pedra: “Ao final dessa onda estaremos todos vacinados, curados ou mortos”.

Aconteça o que acontecer, a vacina é, ainda, a única salvação apresentada pelas autoridades do continente. Impossível não lembrar da frase do ainda Ministro da Saúde, Jens Spahn (CDU), dias antes no parlamento (Bundestag). “Ao final dessa pandemia estaremos todos vacinados, curados ou mortos”.

Outro apelo pela vacina veio da governadora do estado de Rheinland-pfalz, Malu Dreyer (SPD). “Queremos e devemos vacinar 30 milhões de pessoas até o Natal”, declarou ela dia 30 de novembro. O argumento, no caso, visa evitar um Lockdown no Natal, como no ano passado. Da mesma forma que antes, o que os políticos dizem sobre o combate da pandemia já não se escreve mais.

A última determinação, por exemplo, obrigando todos os passageiros do transporte público do país a fazerem um teste antes de qualquer embarque. Teoricamente tudo perfeito. Na prática, impera a dúvida: quem controla? Não sem cabimento que medidas assim não tenham sido adotadas antes. O fato principal é que independente da medida que o governo baixe, a curva do número de vítimas parece repetir a do gráfico do ano anterior. Impiedosamente. E assim também o consentimento da população.

O gráfico do número de mortos da pandemia na Alemanha mostra uma tendência muito semelhante entre a quarta e a segunda onda . (Fonte: https://github.com/CSSEGISandData/COVID-19)

Três meses

O fechamento dos aeroportos alemães para diversos aeroportos na África foi justificado e aceito como há um ano “É importante nos protegermos ao máximo, retardando dia-a-dia a chegada na nova variante”, defendeu Lauterbach na televisão pública. Para o político, vacinados e não vacinados correm risco agora, ao mesmo tempo em que recomenda: “A vacina de reforço, de tudo o que sabemos, protege também contra essa variante, pois seu efeito de reforço é enormemente forte”. 

Se não funcionar, a receita é simples. “Precisaremos desenvolver uma nova vacina que estaria no mercado em três meses”, sentencia o expert alemão.

Narrativa recorrente

Na história das variantes, antes da Delta, vale lembrar da brasileira Gama. Responsável por milhares de mortes, é conhecida por também escapar bem da proteção das vacinas. 

B 1.1.529 se apresenta como mais uma sequência de números a nos conduzir para o Lockdown. Virologicamente falando, o que se sabe de fato é que Omicron possui 30 ou mais mutações em relação ao vírus original. A título de comparação, a variante Delta tem cerca de 10 mutações.

O raciocínio é simples e parece que vai sendo confirmado pouco a pouco pelos acontecimentos. Se a variante anterior já vencia a barreira da vacina, que dirá a versão mais recente e turbinada. Em outras palavras, o que justifica a pressão redobrada por um imunizante que apresenta indícios  de não funcionar mais?

Vacinação obrigatória

O desencontro entre as informações noticiadas pela grande mídia e os abundantes depoimentos de médicos em redes sociais aumenta na mesma proporção que o número de infectados. Ainda que as análises mais sérias não corroborem com as teorias mais conspiratórias, faltam esclarecimentos rudimentares para amparar o discurso político veiculado no mainstream.

A vacina obrigatória protege nossa liberdade. Esse é o novo slogan dos governadores de alguns estados alemães ao apresentar sua recorrente proposta de combate da pandemia do corona. “Apenas abrimos o debate sobre a obrigatoriedade. Queremos sair o mais rápido dessa pandemia”, sentencia Winfried Kretschmer, governador verde de Baden-Wurttenberg.

Mas e as crianças? A Stiko (Ständige impfkommission), comissão responsável pela recomendação técnica de vacinas, ainda não emitiu seu parecer final sobre o assunto. “Mas a pressão já é enorme”, reclama seu presidente, Prof. Dr. Thomas Mertens.

Anticorpos naturais

Na Alemanha, crianças a partir dos 12 anos vêm sendo vacinadas desde junho. E já há jurisprudência para casos em que menores de idade decidem isso em contrário à recomendação dos próprios pais. “Vacinar contra a vontade dos adultos responsáveis já é possível”, conta Jakob Maske, diretor da Federação de Pediatras Profissionais da Alemanha. 

Foi o que quase aconteceu com a adolescente Dora Kuhlmann, de 13 anos. Pressionada pela escola e pelas associações desportivas da qual participa, ela estava decidida a ser vacinada. Por influência do avô, clínico geral, foi convencida a fazer um exame de anticorpos para verificar sua imunidade. A menina havia contraído Corona em dezembro de 2020, passando pela doença sem nenhum sintoma grave. 

O resultado do exame contradiz as recomendações e análises dos experts do governo. Apesar do tempo, Dora apresentava uma quantidade de anticorpos para o Corona bem acima do mínimo determinado. Algo como 80% de imunidade. “Ficamos aliviados por agora, pois com o resultado ela ganha a carteira de imunidade por mais alguns meses”, diz a mãe da menina.

General da crise

O novo chanceler Alemao, Scholz, antes mesmo da posse, já anunciou que vai propor a vacinação obrigatória contra a covid-19. (dpa)

De qualquer forma, a pressão vem aumentando para os que ainda não se vacinaram. O próprio futuro chanceler, Olaf Scholz (SPD), já anunciou que irá propor a análise de um projeto de lei para a vacinação obrigatória contra o coronavírus. “Precisamos aplicar milhões de vacinas nos próximos meses, e para isso já constituímos um gabinete de gerenciamento da crise”, anunciou Scholz, se referindo a um grupo criado semana passada e comandado por um general de brigada. A expectativa é ter a obrigação aprovada até o fim do primeiro trimestre do ano que vem.

Buscando uma saída convergente para a nação, o presidente da República, Frank-Walter Steinmeier, apelou em seu discurso de 29 de novembro para uma redução voluntária de contato, “visando evitar um Lockdown”. O desenfreado contágio do coronavírus, no momento, conduz sem dúvidas para um novo confinamento. Independente do nome que ele receba.

Autor: Mariano Senna

Mariano Senna, nasceu em Porto Alegre. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995). Trabalhou em veículos impressos diários, semanários e mensários no Sul do Brasil. No JÁ, coordenou o projeto dos jornais de bairro (JÁ Bom Fim, JÁ Moinhos) e a criacao da Agência de Notícias Ambientais - Ambiente JÁ, no final dos anos 90. Em 2003 mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde atua como correspondente, tradutor e consultor. Mariano têm mais de 20 anos de experiência no acompanhamento e reportagem de temas controversos, envolvendo interesses corporativos. É mestre (Master of Science) em mídia digital pela Universidade de Lübeck e tem doutorado (PhD) em ciência da informação no Instituto de Biblioteconomia e Ciência da Informação (IBI) da Universidade Humboldt de Berlim.

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