Vinicius Galeazzi
Voltamos, familiares e amigos, de Cuba há poucos dias. Coincidentemente, chegamos a Santiago de Cuba, em 26 de julho, exatamente durante a cerimônia de comemoração dos 60 anos da invasão dos quartéis de Moncada naquela cidade, início da revolução cubana. Ouvimos os discursos dos vários presidentes e representantes de países caribenhos e da América Latina, entre eles do presidente Mujica do Uruguai.
A maior parte das falas vinha carregada de agradecimentos à solidariedade que Cuba presta à saúde e à educação de diferentes países, especialmente daqueles que mais precisam. Assim agindo, Cuba cumpre um preceito previsto em sua Lei Maior, uma vez que prestar solidariedade a outros países é norma da Constituição do país.
No Haiti, depois do terremoto que assolou aquele país, os médicos cubanos lá estiveram e permanecem até hoje, porque ainda existe muito o que fazer na área da saúde. Os nossos médicos ficaram lá somente dois ou três meses.
No rico Panamá, soubemos em nosso retorno, os médicos cubanos fizeram um mutirão de mil cirurgias de olhos, em pagamento à ajuda que tiveram daquele país. Esta semana, aqui, um médico do Uruguai, me relatou que tal mutirão de cirurgias de olhos por médicos cubanos também aconteceu no seu país e atingiu a cifra de 45 mil cirurgias grátis, 30.000 de cataratas, em cinco anos.
Além de muitas ilhas do Caribe, eles estão presentes na Venezuela, Equador, Bolívia, Portugal, vários países da África, sendo 47 ao todo. Em Chernobyl, atenderam, em 20 anos, mais de 25.000 pessoas, priorizando crianças. A Arábia Saudita, americanófila, recentemente contratou médicos cubanos para, além de clinicar, atuarem como professores dos médicos locais.
Desde a revolução, a saúde e a educação são as grandes prioridades em Cuba. Há 25 faculdades públicas de medicina, além da ELAM (Escola Latina Americana de Medicina) dedicada só a estrangeiros (conta com estudantes de 118 países, inclusive do Brasil). Há 6,4 médicos para cada 1000 pessoas.
Sem pagar
Como na Inglaterra, lá a medicina é comunitária: o médico conhece todos os seus pacientes e trata as pessoas para que não adoeçam e levem vida saudável. Em Cienfuegos, nosso companheiro de viagem teve sério problema estomacal, foi numa Clínica Internacional foi atendido e saiu de lá com a medicação que precisava, sem pagar nada.
Há, em Cuba, muitos problemas, é verdade. O bloqueio econômico e midiático, em 50 anos, comandado pelos Estados Unidos, obrigou e ainda obriga o país e a população toda a sacrifícios imensos. Mas, apesar dessa imposição internacional, ninguém pode afirmar que Cuba não tem uma das melhores medicinas e saúde pública, educação pública de qualidade e gratuita, uma música extraordinária e sorriso aberto das pessoas exibindo dentes sadios.
No Brasil, há 1,8 médicos para cada 1.000 habitantes. Na Argentina, 3,2. O programa Mais Médicos visa elevar nosso índice para 2,5 médicos para mil habitantes: um incremento de mais de 170.000 médicos, quando nossas escolas de medicina formam cerca de 18.000 médicos por ano.
Nesse contexto, não é aceitável que a corporação dos médicos brasileiros não concorde que se chame médicos de outros países para os postos carentes, onde eles não querem ir. Alegam que não há infraestrutura e, sem ela, os médicos não podem trabalhar, mas não lhes importa, parece, que pessoas adoeçam durante essa espera de infraestrutura. Como é que os médicos cubanos realizam curas onde não há nada? O que é que os médicos cubanos têm, que os nossos não têm?
Leio no blog Tijolaço: “Em Portugal, médicos cubanos são um problema. Ninguém quer que eles se vão”, uma vez findo o contrato. Parece que os interesses econômicos da medicina empresarial daqui temem, exatamente, que situação semelhante, também, aqui aconteça: outro conceito de medicina seja conhecido e experimentado e comecem a exigir outra política de saúde pública no Brasil.
É evidente que a indústria farmacêutica e de equipamentos, que lucra com a doença, não tem o menor interesse que a medicina preventiva, com foco na saúde, se estabeleça.
*Vinícius Galeazzi é arquiteto
Autor: Patrícia Marini
-
Os médicos cubanos são mais médicos
-
Rio Grande embarca milho do Centro-Oeste
Neste sábado, o navio Maritime Unit termina de ser carregado com 55.310 toneladas de milho vindo do Paraná e do Mato Grosso do Sul. Zarpará do terminal Termasa, no Porto de Rio Grande, rumo à Indonésia.
É o segundo navio que embarca milho de outros estados em Rio Grande. A expectativa da Termasa, do grupo CCGL, é embarcar um milhão de toneladas de milho do Centro-Oeste, aproveitando que esta não época tradicional de milho no Rio Grande do Sul.
O diretor-superintendente do Porto, Dirceu Lopes, destaca o posicionamento do porto gaúcho no ranking dos cem portos incluídos numa pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o Porto do Rio Grande aparece em 1º lugar no Brasil, e 7º lugar no mundo, em eficiência portuária para movimentação de grãos.
Os gargalos de operação nos portos do Sudeste estão fazendo-os perder também carga marítima em contêineres para os portos mais ao Sul. Em Santos (SP), o tempo médio de espera do navio para atracar saltou de 18,5 horas no segundo trimestre para 38,9 horas em julho (a média em 2012 foi 16 horas). Naturalmente, vão se agravando também os gargalos no Sul.
O vice-governador Beto Grill e o prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, foram ao Rio de Janeiro esta semana atrás de mais investimentos para o Pólo Naval. Em reunião no BNDES, apresentaram uma proposta para a recuperação do Porto Velho de Rio Grande.
Outra notícia para o Estado veio na audiência com o Comandante Geral da Marinha, Almirante de Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, que falou da possibilidade da Marinha do Brasil construir um estaleiro para fabricação e reparos de navios de guerra.
Com informações da Secom/RS e do Valor -
Lançado projeto da Lei da Mídia Democrática
A agenda do mundo ‘conectado’ tem um importante evento, que está sendo transmitido ao vivo pela internet.
A Lei da Mídia Democrática, projeto de inciativa popular para a regulamentação dos setores de rádio e televisão, está sendo lançada nacionalmente nesta manhã de 22 de agosto. A transmissão online está sendo feita pelo FNDC e pela PosTV, além do Twitter.
O projeto de Lei
O projeto de iniciativa popular foi levado às ruas em 1º de maio, Dia do Trabalhador, pelas entidades da sociedade civil que apoiam a campanha “Para Expressar a Liberdade”.
Desde então, já recebeu milhares de assinaturas e já terá atos de lançamento estaduais. Para ingressar no Congresso como vontade popular o Projeto de Iniciativa Popular deve receber 1,3 milhão de assinaturas. Ainda não há prazo para o término da coleta das assinaturas. Uma primeira contagem será realizada após o dia 22 de setembro (veja informação abaixo).
O projeto de lei da sociedade civil propõe a regulamentação dos artigos da Constituição de 1988 que garantem a pluralidade e diversidade e impedem monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação de massa, estabelecendo princípios para a radiodifusão sob concessão pública (rádio e televisão).
Apesar do que diz a carta magna, no Brasil há uma grave situação de concentração monopólica da mídia: poucos grupos privados e menos de dez famílias são donos dos meios de comunicação.
O documento é fruto de mais de 30 anos de luta pela regulamentação das comunicações no país e está baseado nos resultados da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em 2009. -
O Morro Santa Teresa é do povo
Foi sancionada ontem, pelo prefeito José Fortunati, a lei que torna o Morro Santa Teresa, em Porto Alegre, área de preservação ambiental, de interesse cultural e social, e portanto um bem de domínio público.
A lei também prevê a instalação de equipamentos públicos de saúde, assistência, educação, cultura, lazer e esporte.
O movimento comunitário que pressionou a criação coletiva desta lei, apresentada pela vereadora Sofia Cavedon, intesificou-se nos últimos anos, quando foi percebido o interesse do mercado imobiliário em construir prédios de apartamentos no Morro Santa Teresa.
Relembre o histórico do processo, divulgado hoje pelo Movimento de Defesa do Morro Santa Teresa:
“…Fortunati sancionou o PLC 07/2013, que os vereadores aprovaram por unanimidade no dia 3 de julho. Essa luta teve sua primeira vitória, em maio de 2010, quando a reação das comunidades e entidades, com o grito “o Morro é nosso”, impediu a venda da área. Em quatro anos de construção da proposta conjunta habitacional-ambiental, em 40 reuniões, o Movimento estudou, discutiu e elaborou o embasamento do projeto de lei que a Vereadora Sofia Cavedon, atuante desde o início, assinou e defendeu.
Agora é LEI:
Art. 1º – Fica instituída no Morro de Santa Teresa a Área Especial de Interesse Ambiental, com a identificação de Área Especial de Interesse Social, de Área de Proteção do Ambiente Natural, de Área de Interesse Cultural, nos termos dos arts.76 a 78 e dos arts 88 a 92 da LC 434/99, conforme delimitado no mapa constante do Anexo I desta Lei.
Art. 2º – A Área Especial de Interesse Ambiental no Morro Santa Teresa tem por finalidades consolidar a ocupação da área de forma que seja respeitado o direito à moradia das ocupações consolidadas, a preservação ambiental, a preservação do patrimônio cultural e as necessidades de ampliação e adaptação da estrutura física da FASE.
Agora, a lei grava aquele morro como área especial, condição para consagrar o tripé que o Movimento em Defesa do Morro Santa Teresa sempre defendeu: as moradias, o parque ambiental e as casas da FASE.
Nós, portoalegrenses, não podemos esquecer: O Morro Santa Teresa ainda é nosso graças à hombridade e cidadania dos moradores que ocupam aquele morro, há trinta anos. Quando, em junho de 2010, queriam vendê-lo, eles reagiram forte e, na negociação, deputados lhes ofereceram a oportunidade de permanecer lá, desde que permitissem vender o resto. Eles reagiram mais forte. Mirem-se no exemplo: “Ao defenderem o que é público, os manifestantes estão no exercício pleno de seus direitos como cidadãos”. Agora, defenderam com as entidades a criação da lei que definiu o destino da área ambiental-habitacional: Não está à venda.
Graças a eles, os moradores, e respeitado o espaço para suas vilas e atividades da FASE, que podemos pensar em garantir o restante como espaço público, como parque de preservação da imensa riqueza natural que existe no coração de Porto Alegre, como Parque Morro Santa Teresa.
A Lei Complementar 07/2013 define o destino de todo aquele terreno, 74 hectares – quase dois Parques da Redenção. O terreno é do Estado, da FASE, mas é atribuição do Executivo Municipal gravar, em lei, que aquela área é especial. Precisa um tratamento especial. Grava o Morro Santa Teresa como área especial a três níveis: Área Especial de Interesse Social – AEIS – para urbanizar as vilas adequadamente, de acordo com suas condições e obter recursos, Área Especial de Proteção do Ambiente Natural – AEPAN – para garantir a preservação das matas, córregos e campos com o Bioma Pampa, e Área Especial de Interesse Cultural – AEIC – para preservar e restaurar dois prédios históricos de 1845 e de 1912.
Não vem ao caso, agora, quando e como o Morro Santa Teresa será um parque adequado, como sua importância, localização, beleza, vistas e tantas outras características exigem. Ou quando o prédio que Dom Pedro II mandou construir, em 1845, será restaurado, como merece. O que interessa, agora, é que seja defendido o espaço público. Interessa, agora, é a defesa do uso coletivo desse espaço.
Interessa, também, que esse espaço público seja, de fato, preservado e fiscalizado, uma vez que as ocupações estão congeladas, pois os ocupantes já estão cadastrados e os levantamentos para elaboração dos projetos já estão realizados.
Interessa que o Estado, proprietário da área, elabore o projeto urbanístico adequado integrando a regularização fundiária, as áreas ambientais de preservação e os prédios históricos com as casas da FASE. Desde a sua edição, o Movimento em Defesa do Morro Santa Teresa está insistindo que as secretarias estaduais envolvidas atendam o Decreto N.º 49.256, de 21 de junho de 2012, que institui Grupo de Trabalho com a finalidade de elaborar projetos e ações para o imóvel da FASE,(…) com o objetivo de encaminhar e implementar ações e projetos vinculados que contemplem Regularização Fundiária, qualificação e ampliação da estrutura física da FASE e Parque ambiental Morro Santa Teresa.
Interessa, também, que seja conhecido e aproveitado pela população em geral, para caminhadas e tantas outras atividades que, ao tempo em que preservam o que deve ser preservado, permitam fazer o morro conhecido e desfrutado pelos cidadãos. Nada mais contemporâneo e democrático que a ocupação do espaço público para garantir a reconquista do que é público. O uso contínuo é a eterna vigilância.
Interessa vibrar porque “o Morro é Nosso” e é um marco histórico da mobilização pelo Direito de Morar aliado ao Dever de Preservar.” -
Complexo Cultural do Porto Seco em discussão
Foi marcada para a noite de hoje uma audiência pública sobre o Complexo Cultural do Porto Seco, reivindicada ontem pela comunidade do bairro Sarandi.
Segundo a vereadora Sofia Cavedon (PT), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude da Câmara Municipal, a audiência será para cobrar do Executivo a exposição do novo projeto do Complexo Cultural, o cronograma da obra e a ocupação imediata do espaço já existente com atividades culturais, esportivas e educativas para moradores do entorno.
Na audiência, conforme a vereadora, ainda será sugerida, ao governo municipal, a criação de uma comissão de acompanhamento do calendário com participação de moradores e entidades.
Será a partir das 19h30, na sede da Associação dos Motoristas, localizada na Rua Plínio Kroeff, nº 1000. -
"A população está vendo o que vocês estão fazendo"
O fotógrafo paulista Mauro Donato conversou com a garota da capa da revista Veja desta semana.
Ela estava indignada com a matéria, apontou os erros de informação e disse que vai escrever uma carta aberta à revista da editora Abril. Ela é uma das manifestantes acampadas no Ocupa Cabral, no Rio de Janeiro, e adepta do black bloc.
Mauro Donato relatou a conversa com ela no site Diário do Centro do Mundo.
Emma, de 25 anos, integrante dos black blocs no Rio”, conforme legenda que identifica o rosto coberto por uma camiseta na capa da Veja, está indignada. E afirmou que irá redigir uma “Carta aberta à Veja”.
Na tarde de sábado, logo após a revista chegar às suas mãos, Emma, acampada no Ocupa Cabral, apoderou-se do celular que fazia transmissão ao vivo pelo TwitCasting e passou mais de uma hora vociferando contra a publicação (vídeo aqui).
Revoltada, demonstrava discordar de A a Z da matéria. Ainda na capa, ela aponta um erro que considera primário ao inseri-la como membro de um grupo. “Black bloc não é grupo e sim uma tática de manifestação. Não tenho como ser integrante de uma coisa que não existe.” A chamada (O bando dos caras tapadas) também desperta ira quanto ao trocadilho que ela diz ser “digno do Zorra Total” e que jornalistas deveriam se envergonhar de trabalhar numa revista como aquela.
Auxiliada por um mascarado que a ajuda a folhear a revista cujas páginas estão rebeldes por causa do vento da praia, Emma vai analisando e xingando trechos preconceituosos e moralistas. Sua revolta (e dos que estão ao redor) aumenta diante do relato sobre consumo de drogas e sexo promíscuo. “Entre um baseado e um gole de vodka, (…) vinho barato e cocaína ! Onde isso?”
Ela segue jogando molotovs na Veja até chegar ao quadro de fundo cinza, parte que considera ter sido feita especialmente para si. Abaixo de uma foto em que aparece lendo História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, o texto procura atingi-la de modo a reduzir suas insatisfações a desvarios adolescentes. Emma ridiculariza a tentativa da revista de expor intimidades e frases soltas apenas para diminuí-la.
O mascarado também faz seu desabafo: “Isso foi tudo inventado. A grande mídia faz assim, ela conta a história que ela quer. Essa matéria aqui é completamente mentirosa, não é nem falaciosa, é mentirosa mesmo. A intenção é manipular a opinião pública”, diz ele.
Emma aponta a câmera para as barracas: “Olha lá, todo mundo transando e se drogando.” Ela se enfurece com o golpe baixo ao ser chamada de namoradeira e suspeita que gente infiltrada a delatou na passagem em que “fica” com dois acampados num mesmo dia.
Assunto polêmico
As fotos nas quais ela aparece (capa e miolo) são assunto polêmico. Ainda que através de uma elíptica fenda apenas se revelem os olhos azuis, sobrancelhas finas e um pouco do nariz, todos de traços sugestivamente médio-orientais e de ar misterioso, fica evidente que Emma mexe com a curiosidade. Enquanto conta que o fotógrafo se fez passar por membro de agência internacional, Emma recebe um elogio à sua beleza através do chat interativo.
“Obrigada, mas a reportagem não mexeu com meu ego. Não adianta nada a foto estar bonita se o conteúdo é escroto”, disse. “Não vendi foto nenhuma, publicaram isso sem minha autorização”. Uma senhora que estava ao lado pergunta se ela pode processar a revista por uso indevido de imagem. “Sim”, responde Emma.
Um outro espectador bem humorado diz ter sentido falta de um poster central na revista. “Poster o caralho, já falei para parar com a idolatria. Não vim aqui para mostrar a bunda, vim mostrar o que tenho no cérebro.”
Emma diz ter sido procurada no acampamento por uma repórter da Veja e também pelo Globo. Dá a entender que recusou ambos os convites por não concordar com a grande mídia. Afirmou ter dito à repórter da Veja que não conversaria com ela pois o editor manipularia tudo conforme seu interesse. Contudo, enquanto lia a reportagem, por diversas vezes declarou: “Eu não disse isso, desse jeito.”
Além dos equívocos denunciados por Emma, a matéria afirma que os blacks blocs são um grupo pequeno e não chegariam a duzentos miilitantes. Apenas na frente da Assembleia Legislativa de São Paulo, na semana passada, havia um grupo de aproximadamente cem indivíduos. Comunidades black blocs no Facebook são encontradas em São Paulo, Caxias do Sul, Minas, Ceará, Niterói, Rio de Janeiro. Só a do Rio possui mais de 23 mil “curtidores”.
Também não é verdade quando a revista afirma que black blocs haviam queimado uma catraca durante uma manifestação (o ato é simbólico e religiosamente proporcionado pelo MPL, não teve nada a ver com black blocs) ou quando alega que nenhum McDonald’s ou Starbucks escapem ilesos de protestos em que haja pelo menos um mascarado (na noite de sexta-feira, novamente na Assembleia, nenhuma guerra de spray ou gás ocorreu mesmo na presença de 60 ou 70 black blocs).
Criticando professores universitários admiradores do movimento, a Veja incita a polícia a enquadrar os “arruaceiros” pelo crime de formação de quadrilha, algo ainda não feito, obviamente, por não ser possível juridicamente (como foi dito por um membro dos Advogados Ativistas aqui no Diário).
Na Carta ao Leitor da mesma edição, lê-se que “VEJA sempre se pautou pela busca da informação correta em nome do interesse público.” Ao encerrar sua participação no Twitcasting, Emma diz para a Editora Abril: “A população está vendo o que vocês estão fazendo.” -
Como a CTPM ficou refém dos gigantes
Enquanto a imprensa divulga a formação de cartel para o fornecimento de equipamentos e serviços para as empresas do chamado sistema metro-ferroviário do Estado de São Paulo, a estatal paulista CPTM saiu às compras, com dinheiro do contribuinte.
No dia 3 de julho de 2013, o Diário Oficial do Estado publicou o aviso de homologação da concorrência número 8085132011. Com esta publicação, sabe-se que a CPTM comprará de dois consórcios internacionais 65 trens pelo valor de R$ 1,8 bilhão.
Esta é uma das maiores compras da história da empresa que nasceu da fusão das estatais Fepasa, paulista, e CBTU, federal, em 1992, no rastro de um programa que o governo do então presidente Fernando Collor chamava genericamente de enxugamento da máquina pública.
Ao contrário do que ocorreu com outras empresas públicas, a CPTM ficou sob controle do governo do Estado. “Não foi privatizada, mas quem dá as cartas são empresas privadas e, pior, gigantes estrangeiras”, diz Rogério Centofanti, psicólogo de formação, assessor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, que atua nesta área há mais de 30 anos.
“É como se o estado fosse o dono da vaca, mas quem mama são empresas como a Siemens, a Alston e a CAF”, acrescenta Éverson Craveiro, presidente do Sindicato.
Essa simbiose começou em 1997, quando, sob administração de Mário Covas, o governo do estado aceitou a doação de 48 trens da Renfe, a estatal espanhola de trens.
Segundo Craveiro, foi um presente de grego. “Os trens tinham ar condicionado e música ambiente, mas, para os padrões europeus, não serviam mais, iriam virar sucata”, conta o presidente do Sindicato.
Mas, como na história de Troia, os inimigos estavam ocultos. Logo veio a conta. No acordo de doação, o governo do estado concordou com uma cláusula de exclusividade: a reforma dos trens caberia à Renfe. E havia necessidade de reforma.
O estado gastou, segundo Craveiro, quase o mesmo que o valor de um trem novo. E permitiu a entrada de empresas estrangeiras ao pátio da ferrovia paulista, até então ocupada majoritariamente por empresas nacionais, entre as quais despontava a Mafersa.
O próprio Craveiro denunciou o caso à Justiça, através de uma ação popular, que foi arquivada em razão da existência de outro processo parecido, só que assinada por um deputado, Caldini Crespo, hoje no DEM.
Caldini Crespo tinha uma ação contra o estado, mas estranhamente, durante anos, exerceu influência política na CPTM e no Metrô, nomeando afilhados para a diretoria das duas empresas.
Depois de disputar duas vezes a prefeitura de Sorocaba, berço da ferrovia, Crespo saiu de cena sem conseguir se eleger, apesar das campanhas milionárias.
O processo dele contra o estado também deu em nada, assim uma investigação aberta na época pelo Tribunal de Contas do Estado, que hoje tem entre seus conselheiros Robson Marinho, ex-chefe da Casa Civil do governo Covas e denunciado pela justiça suíça como titular de uma conta usada para receber propinas da Alstom.
“A CPTM se tornou um balcão de negócios do governo tucano”, diz Centofanti, antes de entrar em detalhas da compra mais recente, a de R$ 1,8 bilhão. No edital, a CPTM avaliou em R$ 23,7 milhões o preço de um trem, mas a proposta mais barata foi de R$ 26,2 milhões, oferecido pelo consórcio IESA/Hyundai.
Era um preço superior ao de referência, mas o menor entre três propostas apresentadas. Mesmo assim, o consórcio vendeu apenas trinta dos 65 trens encomendados pela CPTM.
A maior parte – 35 trens — foi para o consórcio da espanhola CAF com a francesa Alstom, que cobrará R$ 28,9 milhões por trem.
Se não tivesse dividido a licitação em dois lotes, a CPTM — com dinheiro do contribuinte paulista, repita-se –, compraria todos os trens por cerca de R$ 1,5 bilhão.
Mas, em razão das estranhas regras do edital, a conta sairá por R$ 1,8 bilhão. Para onde vai essa diferença de R$ 300 milhões?
A IESA/Hyundai poderia ter ficado com toda a encomenda, já que participou da licitação nos dois lotes. Curioso é que em um, o de trinta trens, ela apresentou um preço mais baixo, e ficou em primeiro lugar. No outro, o de 35 trens, ela apresentou um preço mais alto do que a CAF/Alstom, ficando em segundo lugar.
É um indício de que houve acerto entre as empresas, mas a CPTM, comandada pelo governo do Estado de São Paulo, em vez de suspender a compra por suspeita de cartel, homologou a licitação assim mesmo.
Escandaloso também é que, há três anos, a CPTM, com dinheiro do contribuinte paulista, comprou nove trens da Alstom por um preço ainda mais alto: R$ 31,6 milhões cada um.
Segundo o sindicato, esses trens ainda não rodaram, por não estarem adaptados para a obsoleta linha férrea da Grande São Paulo. Estão no pátio da estação Presidente Altino, onde, até alguns meses atrás, o sindicato ocupava um pequeno prédio. Foi despejado de lá depois das denúncias feitas por Craveiro.
Entre outras coisas, ele dizia que os trens estrangeiros que o estado compra não servem para as linhas da CPTM. “É necessário fazer obras de infraestrutura. Quando colocamos esses trens para rodar, é como se colocássemos um motor de Ferrari num Fusquinha. Dá pau. Esta é a razão de tantas panes e acidentes no sistema”, diz Craveiro.
Na última sessão da CPI do Transporte realizada na Câmara Municipal de São Paulo, uma burocrata do governo do Estado, Rosimeire Salgado, coordenadora de Transportes Coletivos da Secretaria de Transportes Metropolitanos, em cujo guarda-chuva se abriga a CPTM, admitiu que a empresa precisa de maior capacidade de energia para fazer rodar os trens adequadamente.
Para isso, é necessário fazer obras, mas são obras civis e de engenharia, atividades fora do catálogo das gigantes Alstom, Siemens e CAF.
Rosimeire atribuiu à falta de recursos o fato de não terem sido realizadas essas obras de adaptação das linhas da CPTM – esta é uma das razões pelas quais os trens aqui sacodem mais do que pipoca na panela, enquanto na Europa deslizam como patins sobre o gelo.
“São R$ 66 milhões para obras de manutenção”, disse Rosimeire. Pode ser pouco em relação ao montante que se gasta para trazer os trens estrangeiros, mas é o suficiente para fazer a alegria de empresas que andam entre as penas das gigantes.
É o caso da Tejofran, que até a chegada do PSDB ao governo do estado só fazia serviço de faxina em prédios públicos. Hoje, um de seus negócios mais prósperos é o de manutenção de trens. Trens da CPTM.
A Tejofran pertence a Antônio Dias Felipe, o Português. Quando era governador, Covas ficava bravo quando os jornalistas lhe perguntavam sobre a sua amizade com o Português e a relacionava aos contratos da Tejofran no governo.
Eram contratos em que a Tejofran entrava com faxineira e vassoura, e o estado com o dinheiro. Além da limpeza, a Tejofran agora, depois de quase vinte anos de governo do PSDB, empunha alicate e chave de fenda, para serviços mais complexos das ferrovias e, portanto, mais caros. Mas continua sendo difícil questionar o governo do Estado sobre a Tejofran.
Na reunião da CPI do Transporte da Câmara Municipal, o filho de Mário Covas, o vereador Zuzinha, acompanhou tudo. Ele não é membro da comissão, mas se sentou numa cadeira perto e olhava para os vereadores encarregados de questionar os burocratas do Estado.
A Tejofran não foi citada uma única vez. Coincidência ou não, Zuzinha é afilhado do Português. Foi na Tejofran que ele começou sua carreira profissional, formalmente contratado como advogado. Português foi padrinho de seu casamento.
“Está na hora de fazer uma faxina nessas relações promíscuas. Alguém ganha com isso, e não é o passageiro, que paga caro por um serviço ruim”, diz Centofanti, o Sancho Pança da luta pela moralização da estatal.
A última da cruzada dele e de Craveiro, o Dom Quixote: juntaram outros sindicatos para formar a Associação dos Usuários de Trens de São Paulo. Vem mais denúncia por aí. Mas quem se importa? -
Tribunal de Contas paulista quer barrar cartel
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) quer declarar indôneas a Siemens e todas as empresas que atuaram no cartel de trens em São Paulo
O objetivo do procedimento é vetar faturas contratações dessas empresas pelo governo estadual Investigações em curso pela Polícia Federal e Ministério Público Federal apuram denúncias de que agentes do governo paulista, de 1998 a 2008 – gestões do PSDB teriam recebido propina dessas empresas.
O presidente do TCE, Antônio Roque Citadini, requereu ao Ministério Público de Contas abertura de procedimento para eventual declaração de ini-doneidade das companhias que atuariam no cartel.
O processo deverá ser instaurado assim que a Procuradoria de Contas tiver acesso ao acordo de leniên-cia em que a multinacional alemã denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a existência de um cartel em licitações no setor.
Ao todo, vinte empresas foram envolvidas pela Siemens na denúncia de cartel, incluindo a própria multinacional alemã, Dentro do Ministério Público de Contasjáse dá como certa a abertura do procedimento de declaração de inidoneidade tão logo os documentos do Cade sejam acessados.
A estratégia do órgão controlador do Estado é a mesma adotada pelo governo federal, por meio da Controladoria-Geral da União (CGU), que rotulou de inidônea a empreiteira Delta, protagonista do escândalo envolvendo o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Caso o procedimento seja aberto, um dos sete conselheiros do TCE que julgará o feito será Robson Marinho, ex-secretário da Casa Civil do governo Mário Covas, sobre quem paira a suspeita de ter recebido propina da empresa francesa Alstom para beneficiá-la em processos de contas no próprio TCE envolvendo contratações no sistema metroferroviário paulista.
Siemens
Controvérsia jurídica. Não há uma pacificação jurídica sobre o efeito de eventual declaração de inidoneidade para contratos vigentes. Os contratos em que a Siemens apontou a existência de cartel á foram todos encerrados, mas a multinacional alemã e várias empresas por ela denunciadas participam, por exemplo, de pelo menos um dos quatro contratos da reforma dos trens das Linhas 1 e 3 do Metrô de São Paulo, que ainda vigem,
Há decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que invocam o princípio da segurança jurídica para determinar que a inidoneidade só valha para contratações feitas depois do julgamento. Contudo, outras decisões do próprio STJ facultam à administração a promoção de medidas para a rescisão de contratos vigentes.
Por meio do ofício 407/2013 ao procurador-geral de Contas, Celso Augusto Matuck Feres Junior, o presidente do TCE aponta a amaciça veiculação por todos os meios de imprensa de suposta formação de cartel no setor metroferroviário”.
Citadini pede ao procurador que avalie aa conveniência e oportunidade de provocar junto a este TCE a instauração de processo sobre eventual inidoneidade de licitantes”.
O Ministério Público de Contas afirmou, em nota, que aguarda resposta ao ofício enviado ao Cade no último dia 07 para tomar as devidas providências, aO teor da resposta é bastante importante porque, em relação aos feitosjájulgados, poderá legitimar ações de rescisão”, afirmou o procurador José Mendes
Neto, responsavei peia comunicação do órgão.
Os processos envolvendo os contratos já encerrados podem ser reabertos para nova análise. Caso comprovadas irregularidades, as empresas podem sofrer sanções que vão desde multas até a declaração de idoneidade.
No ofício à Procuradoria de Contas, Citadini invoca o artigo 108 da Lei Orgânica do TCE para lembrar que é da competência do tribunal decidir sobre a inidoneidade. O artigo dispõe que “o Tribunal Pleno poderá declarar, por maioria absoluta de seus membros, inidôneo para contra tarcoma administração pública, pelo prazo de até 5 (cinco) anos, o licitante que, através de meios ardilosos e com o intuito de alcançar vantagem ilícita para si ou para ou trem, fraudar licitação ou contratação administrativa”.
Conselheiro sob suspeita» O conselheirodo TCE Robson Marinho, suspeito de ter recebido propina da Alstom, teve bens no exterior bloqueados pela Justiça em 2009. Ele teria pelo menos US$ 1 milhão em contas na Suíça, valor que, segundo investigadores, tentou transferir para os EUA.
A promotoria suíça, porém, impediu a operação. Os sigilos fiscal e bancário de Marinho também foram quebrados.
Fausto Macedo e Fernando Gallo, de O Estado de S.Paulo -
Unasul reintegra o Paraguai ao bloco
A Unasul, em encontro de cúpula, chamou de volta o Paraguai, suspenso do Mercosul e da Unasul, em junho de 2012, após a destituição de Fernando Lugo da Presidência. A previsão era que o fim da suspensão ocorresse a partir do dia 15 deste mês – quando o presidente eleito Horacio Cartes será empossado.
Durante a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, Dilma, Mujica, Cristina Kirchner e Maduro concordaram com a reintegração do Paraguai a partir de 15 de agosto, posse de Cartes. Mas ele condiciou o retorno do país ao Mercosul, a assumir a presidência pro tempore (temporária) do bloco.
O governo do Peru, que está na presidência pro tempore da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), anunciou hoje o fim da suspensão do Paraguai do bloco. Em nota, divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores do país, os peruanos informam tornar “sem efeito a suspensão da participação do Paraguai” de órgãos ligados à Unasul.
O Paraguai foi suspenso do Mercosul e da Unasul, em junho de 2012, após a destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai. A suspensão foi definida, pois os líderes concluíram que o processo de impeachment de Lugo não seguiu os preceitos legais. A previsão era que o fim da suspensão ocorresse a partir do dia 15 deste mês – quando o presidente eleito Horacio Cartes será empossado.
“A Unasul deixa sem efeito a suspensão a participação da República do Paraguai nos órgãos e instância da união [do bloco]”, diz o comunicado, lembrando que a comissão de alto nível da Unasul, liderada por Salomón Lerner, “constatou” que a eleição de Cartes, em abril, “transcorreu com total normalidade e ampla participação cidadã”.
A três dias da cerimônia de posse de Cartes, seis presidentes da República e o príncipe de Astúrias, Felipe de Borbón, confirmaram presença na solenidade no próximo dia 15, em Assunção, capital do país. As autoridades paraguaias divulgaram que deverão comparecer à cerimônia os presidentes Dilma Rousseff, Cristina Kirchner (Argentina), José Pepe Mujica (Uruguai), Sebastián Piñera (Chile), Ollanta Humala (Peru) e Ma Ying-jeou (Taiwan). Esperam que o Paraguai aceite voltar ao Mercosul.
Durante a Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, Dilma, Mujica, Cristina Kirchner e Maduro concordaram na reintegração do Paraguai a partir do 15 de agosto – data da posse de Cartes. O presidente eleito condiciou o retorno do Paraguai ao Mercosul, desde que o país assumisse a presidência pro tempore (temporária) do bloco.
Patriota disse que a discussão sobre o Paraguai ocupar a presidência temporária do Mercosul não está mais em debate.
O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Luis Almagro, também descartou a hipótese alegando que a presidência temporária segue o critério de ordem alfabética e que o Paraguai ainda estava suspenso, por isso a Venezuela, assumiu o comando. Cartes reiterou não reconhecer o ingresso da Venezuela no Mercosul.
Contra espionagem
A Unasul aprovou uma declaração conjunta em que rechaçam a interceptação de comunicações sem consentimento das autoridades de cada país.
O documento é uma resposta coletiva às denúncias de que as agências dos Estados Unidos monitoraram cidadãos dentro e fora do país. A declaração conjunta foi assinada durante a terceira reunião de ministros das Comunicações, em Lima, no Peru.
O ministro brasileiro, Paulo Bernardo, participou das reuniões e apoiou o documento. A declaração, assinada no último dia 9, condena “qualquer ação de interceptação” das comunicações sem a autorização das autoridades competentes.
A declaração reúne 19 pontos. No item 8, o documento diz: “Constitui uma violação da soberania das nações, do princípio de não intervenção em assuntos internos dos Estados [países] estabelecidos na Carta das Nações Unidas, dos tratados e convênios internacionais, dos direitos humanos e fundamentais e do direito da privacidade dos cidadãos”.
A reunião, em Lima, fez parte do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan). Participaram das reuniões os ministros do Peru, da Bolívia, do Brasil, da Guiana, do Uruguai, da Venezuela, assim como representantes da Colômbia, do Equador, Chile e da Argentina.
No item 10, os ministros das Comunicações ressaltam “a necessidade de elaborar uma agenda conjunta sobre o desenvolvimento tecnológico” para “reduzir a vulnerabilidade das comunicações”. O item 11 complementa: “Reconhecemos a importância de fortalecer o diálogo sobre a privacidade e a segurança cibernética no âmbito da Unasul e nos organismos multilaterais de telecomunicações”.
Com informações da Agência Brasil -
Campanha #QueroMeVerNaTV está no ar
Trazer a diversidade cultural brasileira para a TV aberta, com produções locais, parece simples e está há mais de vinte anos na constituição.
Semana passada, foi lançada na Câmara dos Deputados, a campanha #QueroMeVerNaTV, em defesa da regionalização da produção de rádio e TV. É uma das ações articuladas entre a sociedade civil, parlamentares e gestores públicos para trazer à tona esta discussão e mobilizar os atores em defesa de uma regionalização plural e democrática.
Um abaixo-assinado pode ser acessado no site www.queromevernatv.com.br.
Para Renata Mielli, coordenadora executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o projeto de lei 5992/2013, que aguarda votação em plenário, é um golpe e descaracteriza a regionalização. “Repudiamos esse PL e a forma como ele foi aprovado”, diz.
No dia 11 de julho, a Comissão Especial Mista de Consolidação da Legislação Federal e Regulamentação de Dispositivos da Constituição Federal (CMCLF) aprovou no Senado Federal o relatório do senador Romero Jucá (PMDB/RR) – precedido de sub-relatório do deputado federal Sérgio Zveiter (PSD/RJ) – com uma proposta de regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal.
Sai a produção independente
O texto – que chegou à Câmara sob nº PL 5992/2013 – ignorou um processo de construção conjunta de mais de 20 anos e fortalece os grandes conglomerados de mídia. Entre os retrocessos do PL 5992/2013 apontados pela campanha, estão a redução do tempo de programação regional; a inserção de conteúdos religiosos, como missas e cultos, pronunciamentos em rede nacional e propaganda eleitoral para cumprimento da cota; exclusão da obrigatoriedade de contratação da produção independente.
“Destruiu-se tudo para servir a quem?”, pergunta a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), presidente da Comissão de Cultura e autora do mais antigo projeto que trata da regionalização na Câmara, o PL 256/1991.
Estiveram presentes ao lançamento da campanha os deputados NilmárioMiranda (PT/MG), Jorge Bittar (PT/RJ), Luciana Santos (PCdoB/PE), Jean Wyllys (PSOL/RJ), Paulo Rubem Santiago (PDT/PE), Artur Bruno (PT/CE) e José Stédile (PSB/RS). Também participaram Paulo Miranda, presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM); Paulo Dantas, da Movie & Art Produções Cinematográficas e diretor do Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo (Siaesp); Ernesto Scatena, da Movie Rental System S/A e diretor financeiro da Siesp; Luiz Henrique Romanholli, da Associação de Produtores Independentes de Rádio.
Em 7 de agosto, foi lançado o Manifesto em Defesa da Regionalização da Programação na Radiodifusão, assinado por diversas entidades. Leia abaixo:
“Rio Branco, terça-feira, 22h30. Uma família sentada em frente à televisão assiste ao programa Louco Por Elas, transmitido pela Rede Amazônica, afiliada da TV Globo. Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o mesmo programa está sintonizado na RBS. A série mostra o cotidiano de uma família de classe média carioca.
Roraima, 17 horas. A TV Imperial – afiliada da Record – transmite o Cidade Alerta. O mesmo programa é veiculado pela RIC TV, na cidade de Xanxerê, interior de Santa Catarina. O programa jornalístico da Record faz a cobertura do que acontece nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Essa realidade se repete em todo o Brasil e vale para todas as emissoras de televisão. Ou seja, não importa onde você esteja, excluindo as edições locais dos jornais vespertinos e matutinos (em algumas emissoras os matinais), mais de 90% da grade de programação destas emissoras é composta por conteúdos produzidos no eixo Rio-São Paulo (novelas, seriados, programas de lazer, infantis, culturais, shows, variedades).
Ninguém se vê
Os acreanos não se vêem na TV, assim como não se vêem os amazonenses, baianos, pernambucanos, gaúchos, mineiros e assim por diante. Não vemos na TV a riqueza da cultura do centro-oeste brasileiro, como é a vida dos ribeirinhos, ou dos agricultores do interior. Como é a realidade de quem vive nas pequenas cidades. Não temos acesso à produção cultural independente que fervilha em todo o Brasil, que é bloqueada pela homogeneização cultural do eixo Rio-São Paulo.
A luta para mudar este cenário, garantindo que os brasileiros dos múltiplos Brasis tenham representação na mídia, é uma das principais bandeiras dos movimentos que lutam pela democratização dos meios de comunicação. É uma reivindicação de artistas, produtores culturais e da sociedade.
A garantia de conteúdo regional e independente na radiodifusão é prevista no texto Constitucional de 1988, em seu artigo 221. Mas, até hoje, o Congresso Nacional não regulamentou este dispositivo, principalmente em razão de interesses políticos e econômicos das grandes cadeias de TV.
Para se ter uma ideia do bloqueio imposto à regulamentação do art. 221, há quase 20 anos, um projeto de lei sobre o tema, de autoria da deputada Jandira Feghali, aguarda para ser votado. No Senado o PL já tramita há 10 anos.
Para nossa surpresa, sem qualquer debate mais amplo com a sociedade, uma comissão mista do Congresso Nacional criada há pouco mais de dois meses para analisar projetos de lei que visem a regulamentação da Constituição – composta por seis deputados e seis senadores – aprovou um relatório sobre o tema em menos de cinco minutos, alterando a redação do projeto de lei da deputada Jandira Feghali e desvirtuando os objetivos que devem ser alcançados com a regionalização – garantir mais espaço na grade de programação das emissoras para a produção de conteúdos locais, produzidos localmente, com artistas e profissionais da região, incentivando a produção independente.
Esta proposta aprovada na Comissão Mista será agora apreciada pelo plenário da Câmara dos Deputados, onde poderá receber emendas dos parlamentares no sentido de resgatar este objetivo.
Nós – representantes de entidades do movimento social, artistas, produtores culturais e cidadãos – exigimos que os deputados federais, que representam a população dos vários estados brasileiros, apresentem emendas para garantir que o projeto efetive o direito à comunicação, assegurando de fato espaços na programação das emissoras para a produção local, regional e independente.
Você, que não se vê na TV e que luta para que exista mais pluralidade e diversidade nos meios de comunicação venha se somar a esta luta!
Votar pela aprovação do projeto tal como está é dar às costas ao povo!”
Assinam este manifesto:
Associação Brasileira de Canais Comunitários – ABCCOM
Associação Brasileira de Documentaristas – seccional PE
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – ABRAÇO – Nacional
ABRAÇO-BA
ABRAÇO-GO
Associação de Entidades Usuárias do Canal Comunitário de Ponta Grossa (TVCom PG)
Associação Pernambucana de Cineastas (ABD/APECI)
Andi – Comunicação e Direitos
ARCO-RJ
Arpub – Associação de Rádios Públicas do Brasil
Blogoosfero – Plataforma Livre e Colaborativa desenvolvida em Software Livre Brasileiro
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Centro de Cultura Luiz Freire
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Conselho Comunitário de Maricá – CCM-CONSELHO
COMPOP
Clube de Engenharia
Conceição Lemes – blogueira
Conceição Oliveira – Blog da Maria Frô
Conselho Comunitário de Aricá-RJ
Conselho Federal de Psicologia – CFP
Edison Munhoz, secretário de comunicação da CUT-RJ
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar – Fetraf
FNDC- Comitê BA
Fundação Maurício Grabois
Fundação Perseu Abramo
Intervozes
Instituto Patrícia Galvão
Instituto Telecom
Luana Bonone, presidenta da Associação Nacional de Pós-graduandos
Movimento Nacional de Rádios Comunitárias – MNRC
Paraná Blogs – Coletivo de Blogueir@s e Ativistas Digitais do Paraná
Rádio Comunitária Pop-Goiaba
Sindicato dos Radialistas de São Paulo
Sociedade Civil Acauã
TIE-Brasil – Troca de Informações sobre Empresas Transnacionais
TV Cidade Livre DF
União Geral dos Trabalhadores – UGT