Autor: Patrícia Marini

  • Música latino-americana e caribenha no FST

    O MusicAmerica, um dos projetos da Associação Cultural José Marti do RS, traz a Porto Alegre músicos do Brasil, Cuba, Nicarágua, Equador, Paraguai, Argentina e Uruguai.
    Eles interpretam canções identificadas com os direitos humanos – ambientais, culturais, sociais e políticos. Muitos deles participaram de movimentos de oposição às ditaduras em seus países e continuam apoiando iniciativas que contribuam para o fortalecimento da democracia.
    O MusicAmerica integra o show no Anfiteatro Pôr do Sol, após a Marcha de Abertura do FST. Nos dias 25 e 28 de janeiro, apresentam-se em Novo Hamburgo e São Leopoldo, respectivamente.
    Também estarão na mesa de debates sobre Produção para Inclusão Cultural, no dia 27, em parceria com a Secretaria da Cultura de São Leopoldo, e no 1º Encontro Mundial de Redes de Pontos de Cultura do Programa Cultura Viva, dia 25, em Canoas, para o qual são esperados painelistas da Colômbia, Argentina, El Salvador, Uruguai, Nicarágua, Paraguai e Brasil. A confirmar, outros da Costa Rica e Cuba.
    Conheça um pouco sobre os músicos reunidos no MusicAmerica:
    Pedro Munhoz – gaúcho, há mais de 25 anos dedica-se à defesa dos direitos humanos, em especial da ecologia e da reforma agrária. Já se apresentou no Canadá, França, Itália, Portugal, Espanha e em vários países latino-americanos. Participou dos Fóruns Sociais Mundiais de Porto Alegre em 2003, 2005 e 2010.
    Raul Ellwanger – iniciou a carreira em 1966, o gaúcho destacou-se em vários festivais de música. De 1970 a 1977, exilou-se no Chile e Argentina. Em 1979, no Brasil, lançou seu primeiro LP. No ano seguinte, relançou o disco, com a participação de Elis Regina. Elwanger já dividiu palcos e estúdios com Mercedes Sosa, León Gieco e Pablo Milanés.
    Leonardo Ribeiro – também gaúcho, após exílio em Paris radicou-se em Porto Alegre, a partir de 1994. Faz frequentes turnês na Europa. Compôs várias músicas em parceria com Gonzaguinha, além de autores como Helvius Villela, Teça Calazans, Ricardo Vilas e Juarez Fonseca. Como músico e arranjador, participou de discos e shows de Wagner Tiso, Robertinho Silva, Egberto Gismonti, Teca Calazans & Ricardo Vilas e Joyce.
    Nelson Coelho de Castro – um dos destaques da geração de compositores gaúchos que despontaram nos anos 1980, lançou em 1983 o primeiro disco independente do Rio Grande do Sul. No mesmo ano, venceu o 1º Festival Latino Americano da Canção – Musicanto. No final dos anos 1990, forma um coletivo de muito sucesso ao lado de Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Antonio Villeroy.
    Zé Martis – conta mais de 25 anos de participações em festivais, mostras coletivas, CDs, shows e eventos culturais em vários estados do Brasil e em países latino-americano como Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e Cuba. É presidente do Conselho dos Dirigentes Municipais de Cultura do Rio Grande do Sul.
    Victor Batista – compositor, cantor, violeiro, pesquisador da Cultura Popular e ex-componente da Orquestra Mineira de Violas e dos grupos Pára -Folclóricos Sarandeiros e Conga, na UFMG. Dirigiu gravações da Orquestra e o CD do MST – “Cantares da educação do Campo”. Seu primeiro CD, “Além da Serra do Curral”. Vai se apresentar com os músicos Antonio João (Galba) e Negrinho Martins.
    Maurício Figueiral – cubano, é cantor formado em Comunicação Audiovisual, com especialização em direção de rádio, cinema e televisão. Fundador, com Adrián Berazaín, do projeto de cantautores. Pertence ao Centro Nacional de Música Popular.
    Ricardo Flecha – paraguaio, iniciou sua carreira artística com o Juglares, em 1980. Seu repertório se baseia em obras dos cancioneiros paraguaios e latino-americanos tradicionais e contemporâneos. Defende o idioma Guarani. É autor de dois volumes do “Canto de Ioskarai”, uma obra de reflexão, bilíngüe espanhol – guarani, sobre o cancioneiro latino-americano.
    Fabian Jarrin – trovador e poeta equatoriano, marca presença em festivais de seu país desde 1980. Tem compartilhado o palco com cantautores equatorianos e com nomes da Nova Trova latino-americana, como Hugo Idrovo, Jaime Guevara, Vicente Feliú, Leo Maslíah e Alejandro.
    Fabian Massuh – o equatoriano é um dos fundadores do movimento Canção do Autor Contemporânea, que transforma o cotidiano em poesia. Cantautor ligado a organizações de direitos humanos e movimentos sociais, participou de vários festivais e produziu numerosos concertos solidários. Desde 2007 produz os festivais “Canción de Autor”, que têm etapas nacional e internacional.
    Gloria Arcos – equatoriana, criou os grupos Sendero y Canto Nuevo até firmar-se como solista. Foi a primeira mulher a pisar em palcos do Equador, num cenário até então ocupado por homens. Conheceu Rick Nelson e Palo Santo, e encontrou novo sentido para a sua música através do jazz, o blues e a experimentação vocal.
    Numa Moraes – uruguaio, estudou bandonion e violão clássico. Em 1966 conheceu o poeta Washington Benavides; o trabalho conjunto durou até 2002, aliando letras de denúncia social a melodias de raiz folclórica uruguaia. Entre seus parceiros, destaca-se ainda o escritor Mario Benedetti. Em 1972, obrigado a exilar-se em Buenos Aires, depois no Chile e na Holanda, teve sua música censurada no Uruguai. Em 2008, a prefeitura de Montevidéu concedeu-lhe o título de Cidadão Ilustre, pela sua contribuição artística ao país.
    Paula Ferre – argentina, define-se como uma cantautora incapaz de colocar-se sua voz e sua criatividade a serviço de músicas desatentas à realidade. Além de suas composições, interpreta León Gieco, Víctor Heredia e Charly García, assim como grandes trovadores como Silvio Rodríguez, Pablo Milanés e Juan Manuel Serrat. Já compartilhou o palco com Mercedes Sosa, Silvio Rodríguez, Daniel Viglietti, Piero, Ignacio Copani, Julia Zenko e Adrián Abonizio, entre outros.
    Luis Enrique Mejia Godoy – músico e compositor há 40 anos, o nicaraguense começou a compor inspirado pela poesia de Ernesto Cardenal, Leonel Rugama e Carlos Martínez Rivas. Gravou 22 discos como solista, editados na Europa, Estados Unidos e América Latina. Compôs músicas para documentários em cinema e televisão. Recebeu vários prêmios na América Central, Estados Unidos e Canadá. Vai se apresentar com Manuel Guadamuz, Rigoberto Osorio, Jayron Noel Sandoval Montano e Edwin Rayo.
    Veja a programação:
    24 de janeiro de 2012, em Porto Alegre, na abertura do FST
    No Anfiteatro Pôr do Sol, 20h30.
    25 de janeiro de 2012, em Novo Hamburgo, no palco de atividades principais.
    No Pavilhão da FENAC, 20h.
    28 de janeiro de 2012, em São Leopoldo, no palco de atividades principais.
    No Centro Municipal de Eventos, das 18 às 23 h.
    (Com informações de Vânia Barbosa, na Associação Cultural José Martí do RS)

  • O blogueiro Mosquito é encontrado morto

    O blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, foi encontrado morto ontem à tarde na sua casa, na grande Florianópolis. Estava enforcado, e o caso está sendo tratado como suicídio. A notícia se explalhou rapidamente pela internet e logo a morte do blogueiro era o assunto mais citado no twitter do Brasil.
    Seu blog Tijoladas do Mosquito estava proibido de ir ao ar. Ele denunciava sistematicamente casos de corrupção e outros crimes envolvendo políticos e integrantes do Judiciário de Santa Catarina. Figura polêmica, não media palavras para denunciar corruptos e poderosos omissos.
    Era popular e sensacionalista, na linha dos antigos pasquins que circulavam na ilha. Enfrentava mais de 50 processos na Justiça. Sua cobertura para o caso de um estupro que envolveu um menor da familia Sirotsky, no ano passado, rendeu 200 mil acessos num dia.
    A polícia abriu investigação. Quem dá detalhes é o Cangablog, do jornalista Sérgio Rubim. O sepultamento será às 15 horas, no cemitério do Itacorubi, em Florianópolis.

  • CNBB divulga nota sobre o Código Florestal

    A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na manhã desta quinta-feira, 1º de dezembro, uma Nota sobre o Código Florestal na qual expressa sua preocupação pela possível aprovação do projeto com a falta de algumas “correções necessárias”.
    “O projeto, ao manter ocupações em áreas ilegalmente desmatadas (Artigos 68 e 69) e permitir a recuperação de apenas metade do mínimo necessário para proteger os rios e a biodiversidade (Artigos 61 e 62), condena regiões inteiras do país a conviver com rios agonizantes, nascentes sepultadas e espécies em extinção”, destaca a CNBB em um trecho da Nota.
    Ainda no texto, a Conferência sublinha que o projeto “não representa equilíbrio entre conservação e produção, mas uma clara opção por um modelo de desenvolvimento que desrespeita limites da ação humana”.
    Leia a nota na íntegra:
    Nota da CNBB sobre o Código Florestal

    O Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da Conferência Nacional dos bispos do Brasil – CNBB, reunido nos dias 29 e 30 de novembro de 2011, vem manifestar sua preocupação com a possível aprovação, pelo Congresso Nacional, do projeto de reforma do Código Florestal brasileiro. Já aprovado nas devidas Comissões do Senado Federal, o novo Código Florestal, tão necessário ao Brasil, embora tenha obtido avanços pontuais na Comissão do Meio Ambiente, como um capítulo específico para a agricultura familiar, ainda carece de correções.
    O projeto, ao manter ocupações em áreas ilegalmente desmatadas (Artigos 68 e 69) e permitir a recuperação de apenas metade do mínimo necessário para proteger os rios e a biodiversidade (Artigos 61 e 62), condena regiões inteiras do país a conviver com rios agonizantes, nascentes sepultadas e espécies em extinção. Sob o pretexto de defender os interesses dos pequenos agricultores, esta proposta define regras que estenderão a anistia a quase todos os proprietários do país que desmataram ilegalmente.
    O projeto fragiliza a proteção das florestas hoje conservadas, permitindo o aumento do desmatamento. Os manguezais estarão abertos à criação de camarão em larga escala, prejudicando os pescadores artesanais e os pequenos extrativistas. Os morros perderão sua proteção, sujeitados a novas ocupações agropecuárias que já se mostraram equivocadas. A floresta amazônica terá sua proteção diminuída, com suas imensas várzeas abertas a qualquer tipo de ocupação, prejudicando quem hoje as utiliza de forma sustentável. Permanecendo assim, privilegiará interesses de grupos específicos contrários ao bem comum.
    Diferentemente do que vem sendo divulgado, este projeto não representa equilíbrio entre conservação e produção, mas uma clara opção por um modelo de desenvolvimento que desrespeita limites da ação humana.
    A tão necessária proteção e a diferenciação mediante incentivos econômicos, que seriam direcionados a quem efetivamente protegeu as florestas, sobretudo aos agricultores familiares, entraram no texto como promessas vagas, sem indicativo concreto de que serão eficazes.
    Insistimos que, no novo Código Florestal, haja equilíbrio entre justiça social, economia e ecologia, como uma forma de garantir e proteger as comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas e de defender os grupos que sabem produzir em interação e respeito com a natureza. O cuidado com a natureza significa o cuidado com o ser humano. É a atenção e o respeito com tudo aquilo que Deus fez e viu que era muito bom (cf. Gn 1,30).
    O novo Código Florestal, para ser ético, deve garantir o cuidado com os biomas e a sobrevivência dos diferentes povos, além de preservar o bom uso da água e permitir o futuro saudável à humanidade e ao ecossistema.
    Que o Senhor da vida nos ilumine para que as decisões a serem tomadas se voltem ao bem comum. Brasília-DF, 30 de novembro de 2011
    Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/sala-de-imprensa/notas-e-declaracoes/8212-cnbb-divulga-nota-sobre-o-codigo-florestal

  • Senado deve voltar a debater acordo ortográfico

    O novo acordo ortográfico, elaborado sob o argumento de unificar a língua culta nos sete países de língua portuguesa, já gerou grandes negócios no mercado editorial brasileiro. No ano passado, o segmento didáticos faturou R$ 2,1 bilhões, num total do setor editorial de cerca de R$ 4,5 bilhões.
    O Brasil prevê concluir sua implementação em 2013, mas nos demais países o acordo enfrenta resistências, inclusive em Portugal.
    Após reunião esta semana com o professor Ernani Pimentel, autor de diversas críticas ao novo acordo ortográfico, a senadora Ana Amélia Lemos, do PP gaúcho, anunciou que solicitará à Comissão de Educação do Senado que promova no início do ano que vem uma audiência pública sobre o assunto.
    Pimentel criou o Movimento Acordar Melhor para defender a simplificação das regras, porque o novo acordo contém “incoerências, incongruências e muitas exceções”. Um dos vários exemplos que citou foi a dificuldade para se compreender quando usar ou não usar o hífen. “Por que ‘mandachuva’ se escreve sem hífen e ‘guarda-chuva’ se escreve com hífen? É ilógico. E há muitos outros exemplos.”
    “Nenhum professor de português de nenhum país signatário é capaz de escrever totalmente de acordo com as novas regras e, como os professores não têm condições de compreender, os países não terão condições de implantá-las”, afirmou.
    Ele também sugeriu que os países signatários criem um órgão similar à Real Academia Espanhola, que seria responsável pela uniformização da ortografia nos países de língua portuguesa.
    Ao comentar as resistências externas ao acordo, ele lembrou que alguns países alegam – “com razão”, observou – que as novas regras foram pensadas somente a partir de Brasil e Portugal, ignorando especificidades culturais de outras nações de língua portuguesa.
    Em Portugal, segundo ele, há os que defendem o acordo e os que preferem adiá-lo devido aos interesses do mercado editorial português (que, dessa forma, não enfrenta a concorrência de livros brasileiros em seu próprio país e também nos países africanos de língua portuguesa).
    Sobre a atuação do Ministério das Relações Exteriores, Pimentel entende que “o Itamaraty está correto ao querer a unificação, mas está errado ao permitir que o interesse político desconsidere as questões educacionais, pedagógicas e culturais”. “Ao forçar o acordo, o Brasil está sendo visto como impositor. É importante que haja discussão entre os países”, avalia.
    “Nada me convencerá do contrário: a reforma ortográfica, implementada por um conselho de notáveis escolhido a dedo, não passa de uma política cínica para incrementar a venda de livros, milhões de livros, e engordar os lucros do setor livreiro do país e fora dele. Dicionários e gramáticas novos, livros didáticos e paradidáticos encabeçam o mercado brasileiro”, comentou o jornalista paulista Eduardo Maretti em seu blog Fatos Etc. “Espero que o Congresso Nacional faça alguma coisa contra esse crime de lesa-língua.”
    * Com informações da Agência Senado

  • Edgar Morin apresenta alternativas à crise mundial

    Cláudia Dreier*
    Contextualização e exemplos pontuais marcaram a palestra de Edgar Morin que aconteceu na segunda-feira, 08 de agosto, integrando a programação Fronteiras do Pensamento em 2011. Com 90 anos e um mês exatos, o francês tem como valores principais o amor e o conhecimento. Ele aponta soluções para a crise atual a partir de suas pesquisas e vivência ao longo da História.
    Segundo Morin, a crise econômica iniciada em 2008 colocou em xeque o modo de conhecimento que fragmenta as várias disciplinas, impedindo a compreensão dos problemas globais. Para entender o que acontece é fundamental conhecer o processo de globalização cada vez mais acelerado pela modernidade. “Não sabemos o que se passa e é isso que se passa. A crise econômica atual resulta de uma crise da sociedade moderna, da sociedade tradicional, da democracia, do pensamento, em fim, uma crise geral da humanidade.”
    Dois lados da globalização
    O francês considera a mundialização como a pior das coisas possíveis e, ao mesmo tempo, a melhor delas. Integrando o primeiro aspecto, ele lista o desenvolvimento da técnica que constrói fantásticas armas de destruição de massa e que gera a crise ambiental. “Mesmo com toda técnica desenvolvida somos incapazes de frear esta crise. Um dos problemas está nos Estados Nacionais, agora incapazes de manter as promessas feitas à população”. Ele propõe que os Estados Nacionais associem-se entre si para que possam ficar protegidos. “A ONU tem pouca força para decisões em esfera planetária que envolvam a questão armamentista e o necessário cuidado com a biosfera”.
    Morin discorre sobre as ameaças à civilização utilizando uma metáfora. “No século XX um monstro, uma espécie de polvo gigante com muitos tentáculos, amedrontava a humanidade: era o totalitarismo exemplificado no nazismo e no fascismo. Com a queda do comunismo despertou um novo polvo: o do fanatismo e do maniqueísmo, de cunho étnico e religioso. A partir da abertura econômica da China e do Vietnã, ganha força o polvo da economia globalizada, do capitalismo financeiro que é mais poderoso do que o Estado Nacional”. Como exemplo recente, ele cita o caso dos EUA, no qual uma agência abaixou a nota dos americanos e os demais países vêem-se incapazes de contornar a crise mundial.
    Para o francês, o aspecto positivo da globalização é unir os povos na mesma comunidade, no mesmo destino ao viverem perigos semelhantes, o que cria condições para surgir um novo mundo. “O desafio é inventar uma sociedade global sem o modelo dos Estados Nacionais. Há outra sociedade a ser criada.” Ele enfatiza a importância da palavra “pátria” que reúne os conceitos paterno e materno na mesma expressão. O amor de mãe e o suporte dado pelo pai geram a idéia do Estado que fraterniza, tem nos seus cidadãos filhos que devem tratar-se como irmãos. “O grande desafio é edificar uma terra-pátria que respeite as comunidades.”
    Componente aleatório
    Para Morin existe um componente aleatório na história da vida e da civilização, exemplificado pela origem do regime de governo preponderante nos Estados Nacionais. No século quinto antes de Cristo, a cidade de Atenas, berço da democracia, resistiu ao primeiro ataque dos persas com o auxílio dos soldados de Esparta. No segundo confronto, ela foi arrasada. Ao regressar da batalha, os barcos da frota inimiga foram afundados no Peloponeso, assim Atenas pode reerguer-se e a democracia persistiu por mais 50 anos. Na Era Moderna, este regime foi ressuscitado nas cidades italianas, belgas e na Revolução Francesa. E o improvável aconteceu: a democracia, criada em uma pequena cidade grega, estabeleceu-se como uma característica da sociedade vigente.
    “Mas como é possível mudar o caminho, como parar um trem desenfreado em direção à catástrofe?” questiona ele, voltando à crise atual. “Em vários momentos a sociedade humana mudou de rumo graças a um indivíduo e a um pequeno grupo a ele associado.” Morin cita Buda, Maomé e Jesus Cristo. Este, após a pregação, em dois ou três séculos teve sua doutrina transformada na religião do Império Romano. “Isso aconteceu graças a Paulo que teve uma revelação no caminho para Damasco, permitindo universalizar a mensagem: não há judeus nem gentios, homens ou mulheres, a palavra é dirigida à humanidade tornando o cristianismo a grande religião.”
    Morin aponta exemplos semelhantes para a ciência moderna, referindo-se a Galileu, Descartes e Bacon, e para os modelos sociais citando os criadores do Comunismo e do Anarquismo. “As mudanças são possíveis, começam moderadamente. Se o sistema não trata dos problemas fundamentais, ele se desintegra, mas é possível que, de algum modo, com criatividade este mesmo sistema seja metamorfisado gerando um novo sistema.”
    Metamorfose
    Segundo o francês, os sistemas na Terra respondem aos problemas de três maneiras: regridem a um estágio anterior, desintegram-se ou passam por uma metarmorfose. “Temos na borboleta um belo exemplo. Quando se rompe o casulo da larva, o mesmo ser passa a ter asas e alimenta-se diferentemente de quando estava enclausurado.” Morin lembra que o próprio ser humano, quando no ventre materno, é um ser aquático.
    “A história humana é uma história de metamorfoses.” Morin enfatiza que as pequenas sociedades de centenas de indivíduos, viáveis ecologicamente, tiveram diferentes estágios de evolução para se transformarem em grandes cidades e civilizações como as dos Astecas e Incas, na América. “Esta metamorfose específica vai desagregando os valores da comunidade no seu processo de crescimento.”
    Atualmente, na França fala-se em desglobalização, pois a mundialização destruiu as realidades regionais e a solidariedade típicas da vida comunitária. “Busca-se agora sair deste processo, estimulando as trocas que possibilitem uma nova sociedade.” O palestrante defende o pensamento binário, onde coexistam a globalização e a desglobalização. “Podemos manter os pontos positivos da globalização, preservando as culturas nacionais e a agricultura de subsistência do país para garantir os alimentos da nação sem precisar importá-los. É preciso ter a virtude de proteger as comunidades locais.”
    Outra proposta de Morin é trocar o desenvolver pelo envolver. Enquanto o primeiro promove o crescimento econômico material, destrói a solidariedade, traz a corrupção política e a tecnologia destrutiva; o segundo mantém o sistema unido, fortalece a comunidade, a cultura e a identidade. Aceita o que vem de fora, respeitando os aspectos de cada cultura, fazendo uma simbiose entre o Ocidente e as antigas culturas tradicionais.
    Alternativas
    Baseada no desenvolvimento material, a Sociedade Ocidental carece de hospitalidade, de cortesia e de uma maior harmonia com a natureza. Para alterar este quadro, Morin propõe um decrescimento econômico e energético em prol do florescimento de uma economia verde, remodelando as cidades para torná-las humanas e suportáveis. “Precisamos de uma economia solidária e verde que vença o lucro.”
    No decorrer da palestra, ele cita várias iniciativas que promovem a humanização de comunidades carentes e ressalta a falta de conexão entre elas, sugerindo que a internet possa ter um papel fundamental nesta necessária comunicação. Ele propõe reformas na agricultura convencional que traz mais males do que benefícios. “Também precisam ser revistas, além da pecuária moderna, a consciência de mundo e a educação.”
    Referindo-se ao processo educativo, Morin cita Rousseau. “Educar é ensinar a enfrentar os problemas da vida, a ter compreensão humana, a encarar as incertezas e as armadilhas do conhecimento”. Uma nova idéia de mundo está relacionada à reforma da educação e do pensamento. As vidas cronometradas e monótonas também podem ser modificadas para originarem maior autonomia e maior experiência de comunidade.
    “Devemos viver a vida de maneira polarizada em prosa e em poesia. Em prosa fazemos o que somos obrigados, o que pode cansar e entristecer, mas é necessário para ganhar o pão. Em poesia temos o que realmente nos faz vive:r o amor, a amizade, a comunhão, a dança, o lúdico.” Desenvolver o poético da vida permite reformá-la e construir a partir do outro. “O outro é diferente e semelhante a nós por possuir a mesma capacidade de sofrer, sorrir, amar, pensar e refletir.” Ele ressalta que primeiro é preciso conhecer a si mesmo para evitar transferir as próprias fraquezas para o comportamento do outro que deve ser apreciado como se estivesse em uma tela de cinema. “Lá aplaudimos um mendigo, um operário se este for vivido por Charles Chaplin”.
    Ao “bem estar” que remete a aquisição de objetos materiais, Morin contrapõe a proposta de “bem viver”, citando Evo Morales. Esta propõe-se a ensinar um novo viver e também auxiliar o outro a viver bem. “Uma reforma deve incluir tanto a vida social quanto a individual, uma reforma isolada não dá certo. Um exemplo claro disto é a Revolução Comunista de 1917 incapaz de criar um sistema semelhante à sua ideologia. Aquilo que foi criado ficou pior do que existia anteriomente e emplodiu em 70 anos, dando lugar ao capitalismo e a religiões mais poderosas do que as sufocadas no início do século.”
    Morin apresenta-se otimista acreditando que exista salvação para continuar a aventura da humanidade, para ele a História é uma sucessão de crises e nelas aumentam as incertezas. “Como respostas nos períodos conturbados podemos encontrar a solução em algo novo, regredir ao passado ou acharmos um bode expiatório.”
    Nas suas últimas palavras, ele afirma que “toda transformação cultural também é mental e psicológica. A esperança é como um fermento para a transformação e a metamorfose. Todas as reformas intersolidárias, são como córregos que se unem para formar rios os quais se juntam até chegar a um Amazonas. Assim se forma um novo caminho e o antigo desintegra-se.” Ele recomenda copiar o modelo dos adolescentes que têm como aspirações a maior autonomia e a maior vivência em comunidade.
    “Hoje, o melhor da humanidade pode se desenvolver no Brasil, pois aqui existe uma simbiose entre diferentes povos e nações. Eu mesmo penso algumas vezes em me mudar para o Brasil”, conclui Morin despertando risos na platéia do Salão de Atos da UFRGS e no jornalista Juremir Machado da Silva, que apresentou o palestrante francês.
    *Jornalista e geógrafa. Texto originalmente publicado no Informativo Fundação Gaia.

  • CLINICAS É MODELO PARA TODO O BRASIL

    O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é o modelo para a grande reforma que o governo federal está fazendo nos 46 hospitais universitários existentes no país.
    “O Clínicas de Porto Alegre é um caso exemplar de sucesso, que vamos seguir”, disse ao JÁ o diretor de Hospitais Universitários do MEC, José Rubens Rebelatto.
    A forma de empresa pública, adotada pelo HCPA, que está completanto 40 anos em 2011, será estendida a todos os demais.
    Os hospitais universitários federais se tornarão unidades subsidiárias da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, cujo projeto de criação está para aprovação
    no Congresso Nacional.
    Hoje, com exceção do Clínicas de Porto Alegre, quase todos os hospitais universitários são autarquias federais ligadas às universidades, com pouca autonomia e muitos entraves para seu funcionamento.
    Com a forma de “empresa pública com personalidade jurídica de direito privado”, terão
    recursos do orçamento da União e ganharão autonomia administrativa, principalmente no que se refere à contratação de pessoal, por regime de CLT.
    A reforma começou ainda no governo Lula, a partir de um diagnósticos que apontou uma série de problemas crônicos, que tornam caro e ineficiente o funcionamento dos hospitais-escola ligados às universidades federais no país.
    O projeto já passou pela Câmara e está para ser votado no Senado, com a previsão de aprovação ainda este ano.
    Revitalização física e tecnológica dos hospitais universitários já começou, com recursos dos Ministérios da Saúde e Educação.
    Este ano já serão destinados R$ 500 milhões para reconstrução dos cinco piores, entre os quais se encontra o hospital ligado à Universidade Federal de Pelotas (os outros são: Amazonas, Uberlândia, Juiz de Fora, Mato Grosso e a Maternidade de Salvador). (

  • Adolescente vai ao shopping e desaparece

    Era sábado, 9 de julho. Sem avisar a família, Jessica saiu para ir ao centro comercial João Pessoa, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Não se teve mais notícias dela.
    Jessica Fernandes Salazar tem 16 anos de idade. A família soube por uma amiga que ela foi lá encontrar-se com alguém que conheceu pela internet. O celular está sempre desligado.
    O irmão dela, Paulo Salazar, conta que a família pediu ajuda à polícia. “O que foi dito é que eles só poderiam fazer alguma coisa se aparecesse alguma pessoa morta e sem identificação, só assim poderiam comparar as feições físicas entre a foto deixada com eles e o cadáver. Disseram que é a família que deve procurar, através de contatos da pessoa desaparecida”, conta Paulo.
    Paulo deixa telefones para contato: 33171741 (casa) 7812-3208 (Cecília, mãe de Jessica e Paulo), 7812-2073, 9238-8478 e 54-9652-2663 (Paulo). Ou pelos emails adao.rosa@gmail.com, almeidaeko7@hotmail.com, jaeditores@gmail.com, vania.mattos@yahoo.com.br, adelisell@camarapoa.rs.gov.br

  • Terça Ecológica discute o futuro da gestão do lixo

    As cidades brasileiras estão diante de um novo desafio ambiental: elaborar seus planos de gestão do lixo urbano, depois que a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi finalmente aprovada, em agosto de 2010. Também as indústrias e o comércio terão que se adequar.
    A lei nacional estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, o que envolve fabricantes e seus fornecedores, importadores, distribuidores e comerciantes, além dos consumidores e dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
    Só em Porto Alegre, a média diária por habitante é de quase um quilo, quase 1,4 tonelada de resíduos recolhidos na cidade diariamente.
    O debate sobre a situação na capital, e como esta lei está repercutindo no Estado, será o tema da Terça Ecológica deste dia 21, evento do NEJ (Núcleo dos Ecojornalistas do RS), este mês realizado em parceria com o Jornal JÁ.
    Os convidados são a engenheira química da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Carmem Níquel, o repórter e editor do Coletivo Catarse, André de Oliveira, e o diretor técnico do Instituto Venturi para Estudos Ambientais e diretor da Consulte Ambiental, Eduardo Mc Mannis Torres.
    Carmem Níquel trabalha há 30 anos na Fepam e atua no serviço de licenciamento de atividades industriais em implantação; André de Oliveira é um dos responsáveis pela produção do vídeo sobre lixo doméstico, a ser exibido durante o evento; e Eduardo Mc Mannis Torres é engenheiro químico com larga experiência em gestão ambiental.
    A Terça Ecológica é um evento mensal do NEJ-RS, realizado desde 1994. O evento de hoje será no auditório pequeno do Instituto Federal Rio Grande do Sul (ex-Escola Técnica), na Ramiro Barcelos, 2777, às 19 horas, com entrada franca.

  • Brasil precisa de consolidação das leis ambientais

    Geraldo Hasse
    Se tivesse autoridade para orientar o debate sobre a reforma do Código Florestal, eu obrigaria todas as instâncias governamentais a promover o cruzamento do tema florestal com a política agrícola, a gestão das águas, o uso das propriedades rurais e assuntos correlatos, entre eles a reforma agrária, “esquecida” pelo governo em respeito ao zelo patrimonialista dos provedores do Agronegócio.
    Tudo que diz respeito ao Código Florestal e assuntos afins deveria ser juntado numa espécie de Consolidação das Leis Ambientais, tendo por objetivo e referência a sustentabilidade de cada bioma ou ecossistema. Isso ainda é possível pois o projeto do novo Código Florestal vai ficar no Senado por cerca de quatro meses, durante os quais passará por três comissões (meio ambiente, agricultura e constituição-e-justiça). É provável que a votação final ocorra apenas na primeira quinzena de dezembro, isso se os senadores não empurrarem o desfecho final para o primeiro semestre de 2012.
    Na real, é bom que se estique o prazo para discussão, pois a urgência em mudar o Código Florestal atende exclusivamente à ânsia empreendedora dos senhores rurais associados aos segmentos industriais e comerciais situados a jusante e a montante de lavouras e criações.
    Essa correria capitaneada pela senadora “faca-na-bota” Kátia Abreu virou um deus-nos-acuda que desvia a atenção de outros problemas intocados nas áreas agrícola e ambiental. Entre eles destacam-se a poluição dos cursos d’água por venenos agrícolas, dejetos industriais e esgotos domésticos. Além de licença para desmatar, os agronegociantes querem liberdade para plantar sementes transgênicas e aplicar impunemente nas lavouras produtos tóxicos que contaminam até os aquíferos subterrâneos.
    Ao focar apenas o manejo da vegetação, esquece-se deliberadamente que toda floresta, pequena ou ampla, rala ou densa, é um manancial de água.
    Tendo por base a última versão do código, que dispensa de recuperação vastas áreas desmatadas, um recente estudo do IPEA concluiu que haverá um aumento de áreas degradadas e do passivo ambiental. Segundo o estudo do IPEA, a área isenta de preservação chegaria a 79 milhões de hectares, mais do que a área ocupada por lavouras no país (60 milhões de hectares).
    Se permanecer tal como foi aprovado em 24 de maio pela Câmara dos Deputados, o novo Código Florestal vai permitir a manutenção de atividades agrossilvopastoris, de ecoturismo e de turismo rural nas áreas de preservação permanente (APPs) desmatadas até 22 de julho de 2008. Entre outras alterações, a nova lei retira a proteção de topos de morros, restingas e altitudes inferiores a 1.800 metros. Além disso, admite culturas lenhosas perenes (árvores madeireiras), atividades florestais e de pastoreio nas APPs de topo de morro, encostas e de altitudes elevadas (acima de 1.800 metros). Em manguezais com função ecológica já comprometida, o texto permite a urbanização e a regularização fundiária.
    “A manutenção de plantios e pastagens em áreas de APPs é absurda, pois significa eternizar o dano ambiental provocado”, disse ao Jornal da USP o professor de botânica Sergius Gandolfi, da Escola Superior de Agricultura de Piracicaba. Para ele, está se garantindo assim o assoreamento dos rios, lagos, açudes e represas com o sedimento produzido pela erosão das áreas de agricultura e pecuária.
    Outra mudança importante é a redução pela metade (de 30 para 15 metros) da obrigação de se manter a vegetação original nas margens de cursos d’água de até 10 metros de largura, que constituem a grande maioria (90%) dos rios. “Isso significa colocar áreas agrícolas mais próximas dos rios e assim aumentar o seu assoreamento”, afirma Gandolfi.
    Outro professor, Marcos Vinícius Folegatti, recomenda a adoção do conceito de bacia hidrográfica e a observação dos ciclos hidrológicos em cada região, sem o que a nova lei continuará sendo uma ameaça ao meio ambiente. O conceito de bacia hidrográfica foi introduzido originalmente no Paraná nos anos 1980 por técnicos franceses, iniciando uma revolução que se espalhou por algumas regiões do país graças à adesão de técnicos do governo. Não há uma palavra sobre bacia hidrográfica em quaisquer dos códigos florestais, novo ou velho.
    É consenso que o atual Código Florestal, criado em 1965, não conseguiu preservar nem recuperar áreas degradadas, já que prevalece entre a maioria dos brasileiros a noção de que a preservação ambiental prejudica os agricultores. Com seu novo formato feito às pressas para atender aos anseios do Agronegócio, o código de 2011 tende a intensificar o modelo tradicional de ocupação do solo.
    Nas próximas décadas, ocupando principalmente áreas de pastagens degradadas (ex-florestas), as lavouras brasileiras tendem a ocupar 100 milhões de hectares, 10% dos quais irrigados. Se essa expansão não for feita sob uma legislação ambiental mais arejada, com certeza se aumentará o grau de insustentabilidade da nossa agricultura e, por extensão, do modo de vida de toda a sociedade brasileira. Por isso é necessário consolidar um conjunto de leis ambientais capaz de sepultar o modelo de terra arrasada.

  • Associaçõs comunitárias discutem a reforma política

    A União das Associações de Moradores de Porto Alegre -Uampa, promove, às 19 horas de hoje, na Sala 10 do Mercado Público, o encontro “O Movimento Comunitário debatendo a Reforma Política”.
    O evento da Uampa tem parceria com o fórum da reforma Política Porto-Alegrense, composto pelos partidos PMDB, PSOL, PT, PTB, PDT, PSB, PPL, PPS, PSDB, DEM, PP, PCdoB e PR.
    O objetivo é que as associações de bairro discutam o tema e se interem das propostas apresentadas no Congresso Nacional.