Diplomação com vaias e agressões antecipa clima político em 2019

Um simples cartaz com as palavras “LulaLivre” erguido pelo deputado estadual mineiro Rogério Correia (PT) foi o estopim de uma briga durante cerimônia de diplomação dos eleitos em Belo Horizonte.
O Cabo Junio Amaral (PSL), que acabara de receber seu certificado, tentou arrancar o cartaz das mãos de Correia, que reagiu, e os dois parlamentares trocaram xingamentos e tentativas de socos.
“Para não permitir tal descompostura com a democracia e com um direito meu como parlamentar, obviamente reagi”, afirmou Correia pelas redes sociais.
Ele diz que vai estudar medidas judiciais cabíveis contra o agressor.
Amaral, por sua vez, alegou que o cerimonial havia tentado coibir “manifestações políticas”, desconsiderando que o evento era eminentemente político. “O pessoal (que organizava a cerimônia) pediu (para não exibir o cartaz) muitas vezes. E então, se não tem ordem, a gente vai lá e resolve”, disse o militar.
Coros e palavras de ordem a favor do ex-presidente Lula eram respondidos com gritos e gestos pela parte do público, em maioria, formada por apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
A cerimônia de diplomação chegou a ser interrompida no momento da agressão.
Antes de Correia, a deputada estadual eleita Beatriz Cerqueira (PT) teve o seu  cartaz “Lula Livre” retirado à força por uma representante do cerimonial.
“Ela disse que meu comportamento estava tumultuando a cerimônia. Discordei. Eu estava apenas com a placa. Não tinha feito, até aquele momento, nenhum gesto com ela além de carregá-la comigo. Era a hostilidade de parte do público que estava atrapalhando, incapaz de conviver com pensamentos divergente do seu.”
Já a deputada federal Áurea Carolina (Psol) portava uma placa para homenagear a vereadora Marielle Franco – assassinada em março, no Rio de Janeiro – durante a sua diplomação. Ela também foi intensamente vaiada e insultada por parlamentares opositores, assessores e apoiadores, entre eles, muitas mulheres, e ainda tentaram tomar-lhe a placa.
Segundo Carolina, foram “gestos de violência e intolerância que nos mostram que seguiremos travando uma luta incansável em defesa da democracia.”
Rio Grande do Sul
Uma das primeiras a ser chamada para receber o diploma como deputada estadual, em evento na capital gaúcha, Luciana Genro (Psol) foi vaiada e hostilizada quando ergueu cartaz pedindo “Justiça para Marielle”, em cerimônia em Porto Alegre.
As manifestações de intolerância foram ainda maiores quando os deputados eleitos pelo PT eram diplomados. “Nossa bandeira jamais será vermelha”, gritavam correligionários e “torcedores” dos deputados de direita.
O fervor intolerante foi ainda maior na vez da deputada federal Maria do Rosário receber o seu diploma. “Bolsonaro, Bolsonaro”, entoavam os defensores do presidente eleito, respondidos pela militância petista com “Lula Livre”.
Bolsonaro foi inclusive condenado danos morais por ofensas cometidas contra Rosário, quando disse não estupraria a deputada petista, porque “ela não merece”.
“Enquanto mulheres que pediam justiça por Marielle foram vaiadas por um bando de fascistas; os deputados homens todos faziam sinal de armas para a plateia, que delirava”, anotou no Twitter a socióloga Rosana Pinheiro-Machado, que acompanhava o evento realizado na Casa da Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa).
Distrito Federal
Na capital da República, os ânimos exaltados também marcaram a diplomação dos eleitos. Ao som de Bella Ciao, hino antifascista italiano, a deputada distrital Erika Kokay (PT) fez o “L” para pedir “Lula Livre” e irritou bolsonaristas. “O fascismo não suporta a democracia”, comentou a parlamentar pelo Twitter.
São Paulo
Na terça-feira (18), em São Paulo, a cerimônia de diplomação dos eleitos também foi marcada por cenas de intolerância e preconceito.
A confusão começou quando a deputada estadual eleita Mônica Seixas (Psol) foi chamada para receber o diploma em nome da Bancada Ativista. Os demais representantes do mandato coletivo tentaram subiram ao palco, e foram barrados pela segurança. O ativista Jesus dos Santos, integrante da Bancada, tentou furar o cerco e foi agredido pelos seguranças e também pelo deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL).
 
A bancada afirma que assessores e acompanhantes de outros parlamentares não foram impedidos de acessar o palco, e denuncia especificamente as agressões contra Santos por ser negro. “Quando fomos impedidas, Jesus dos Santos, militante do movimento negro, do movimento cultural das periferias e codeputado pela Bancada Ativista, subiu ao palco. Um ato de coragem para manter nossa coerência e respeito pelo projeto coletivo pelo qual fomos eleitas. Foi empurrado e agredido, inclusive com injúrias raciais”, afirmaram em nota.
Segundo Santos, Frota teria dito que ali não era lugar para ele. Frota chamou ainda Santos de bandido e disse que o integrante da Bancada Ativista “deu sorte” de não ter sido jogado para fora do palco. A cerimônia, que também foi marcada pelo clima de disputa entre apoiadores de Lula e Bolsonaro, chegou a ser interrompida durante a agressão.
(Com informações e fotos da RBA)

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