A Carris e o sucateamento programado

Jeferson Fernandes*

Há pouco dias recebemos na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS a visita de funcionários da Companhia Carris Porto-alegrense.

Na oportunidade, foi realizado o relato do quadro atual dessa que é a mais antiga empresa de transporte coletivo em atividade no país, que neste mês de junho completou 145 anos.

Conforme explanou Rogério Escouto, funcionário da Companhia, “na atual gestão municipal, não há mais nenhum tipo de diálogo entre a direção da empresa e os funcionários, que sofrem perseguição e assédio moral, como a revista forçada de seus pertences ao saírem diariamente do trabalho.”

E o que é mais agravante, segundo Alvani Germann, também funcionária, é que todos os sinais dão conta de que a Companhia está sendo preparada para ser entregue à iniciativa privada.

Atualmente, a Carris é juridicamente uma sociedade de economia mista com o controle acionário da Prefeitura Municipal, que detém 99,9% de suas ações.

Ainda segundo eles, há meses os funcionários vivem com a agonia de ver de 40 a 70 veículos diariamente parados nas garagens, aguardando consertos e pequenos reparos.

O resultado disso a população conhece de sobra: linhas com ônibus superlotados, atrasos constantes, veículos já oferecendo péssimas condições de conforto e segurança aos seus usuários.

Enfim, o quadro ideal para que a população passe a odiar a Carris e defender a sua privatização.

Aliás, o então candidato Marchezan Jr. já havia proferido sua sentença sobre o futuro da Carris. Em entrevista concedida em outubro de 2016, a Daniel Scola, da Rádio Gaúcha, declarou:

A Carris dá prejuízo de R$ 50 milhões. Alguém lucra com o prejuízo da Carris. E não é o cidadão. Nós vamos chegar e sentar com todas as pessoas que trabalham lá e explicar que a Carris não é para eles. A Carris é de Porto Alegre. A Carris não pode dar prejuízo.”

E quando perguntado objetivamente sobre a possibilidade de privatização, afirmou: “Esse é o futuro dela se continuar dando prejuízo.”

Ou seja, joga sobre os funcionários toda a culpa do alegado déficit e não propõe nenhuma política de recuperação financeira e modernização da frota. É um sucateamento programado.

Deixa-se o ambiente de crise chegar a um ponto crítico incontornável, para depois anunciar a morte dessa que já foi considerada pela Associação Nacional dos Transportes Públicos como a melhor empresa de ônibus urbano do Brasil (1999 e 2001).

É do DNA dos neoliberais o sucateamento de patrimônio público para depois entregá-los à iniciativa privada. Neste caso específico, um sucateamento que iniciou na coalizão de governo anterior e está sendo aprofundado pela atual administração.

E não se trata de um assunto menor, periférico. Estamos falando de uma verdadeira instituição pública, que até poucos anos atrás era motivo de orgulho e satisfação pela excelência dos serviços prestados à cidadania porto-alegrense.

Precisamos somar forças políticas e sociais para buscar frear esse ímpeto privatista que busca condenar um dos maiores símbolos de cidadania de Porto Alegre a virar artigo de museu.

*Deputado Estadual, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

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