A cartola de Temer

ELMAR BONES
Gastei uma tarde quase inteira na internet fuçando, desde os portais dos jornalões  e revistonas até os sites de esquerda, coletivos e “blogs sujos”.
Queria entender as razões do ataque súbito contra Temer na quinta-feira, um golpe que pareceu mortal não só para sua candidatura mas para o próprio mandato.
Cinco de seus amigos mais próximos presos, numa operação denominada “Skala”… “Começou!”, escreveu em rede social o ex-procurador Rodrigo Janot.
As notícias não só acentuavam a absoluta gravidade das prisões, pedidas pela procuradora geral e diligentemente autorizadas pelo ministro Barroso, como davam como iminente uma terceira denúncia, que desta vez contaria com o apoio de Rodrigo Maia e com certeza a maioria na Câmara.
O Globo destacou seu editorialista, Merval Pereira, para sustentar, na manchete do site, que uma terceira denúncia “estava claramente delineada” depois das prisões. “É quase impossível imaginar que se trate de um equívoco ou de uma perseguição política”, são fatos que “estão ligados a práticas políticas de uma vida toda”.
Para o porta-voz, “Temer é um simulacro de estadista” e, tanto quanto Alckmin, “não correspondem ao perfil nem têm a liderança que o país necessita neste momento”.
Miriam Leitão era ainda mais enfática: “Um pato manco, investigado, com sigilo bancário quebrado (?) e cercado de suspeitas, terá que reunir votos para se proteger em uma Câmara esvaziada”.
Pronto. O homem que vinha “nadando de braçadas nas águas turvas da política brasileira” estava, na verdade, já afogado?
Mas a questão persistia: qual a razão de um ataque tão fulminante? No domingo, Alex Solnik ainda perguntava no 247: “Por que prendeu? Por que soltou?”
Estava já desistindo da infrutífera pesquisa, quando veio a notícia do relaxamento da prisão dos amigos do presidente… no sábado à noitinha.
O noticiário já anunciava que Temer dará posse nesta segunda-feira aos seus ministros que substituem os que saíram para se candidatar e levam para suas regiões como principal cacife na eleição a condição de ministro “de um governo que tirou o Brasil da recessão”.
Então, ficou claro: era só uma trava na desenvoltura com que Temer se lançou na candidatura que tenta impor ao centro, para desespero dos setores que se associaram a ele e ao “quadrilhão do PMDB” para derrubar Dilma Rousseff.
Hoje querem descartar o incômodo “companheiro de viagem” e seus amigos, e não conseguem.
Deram-lhe um encontrão, cujos danos a procuradora Raquel Dodge tratou de mitigar ao pedir as prisões na véspera de um feriadão e revogá-las antes que ele terminasse. Nesta segunda feira, a manchete é outra e ele segue candidato.
Canhestramente, como sempre, Temer tira mais um coelho da cartola e, desta vez, ele tem a cara do ministro Barroso.

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