A Crise Política Atual e o Impasse de Desenvolvimento

Jaime Rodrigues*
No atual momento é extremamente oportuno e necessário construirmos uma ampla análise sobre a realidade que vivemos em nossa sociedade. É urgente nos prepararmos para a superação da crise política forjada desde muito antes ao golpe realizado com o “impeachment” ao governo de Dilma e sempre com base no ridículo “Fonte para o Futuro”.
Este governo atual e seus apoiadores tem adotado uma orientação antipopular e antidemocrático, diminuindo os salários dos trabalhadores brasileiros, retirando a segurança no trabalho, terminando com sua aposentadoria. Na Condição de Vida dos cidadãos e cidadãs reduz ou mesmo termina com investimentos em educação, saúde, habitação e muitas outras funções e elementos. Junto enfraquece o Estado com privatização de grande parte de sua estrutura e também descaracterizando a força institucional com atividades do poder executivo, judicial e parlamentar.
O Meio Ambiente já está sendo afetado. Uma política de “retração” sem necessidade. Muito grave é a descaracterização da Constituição do Brasil. A orientação e atuação da poderosa mídia no Brasil lidera a informação e o poder de análise limitando a mobilização de toda a população. São respostas conservadoras às questões do momento.
Este debate é importante na trajetória de enfrentamento aos impasses de desenvolvimento no atual “tempo histórico”. Diversas modificações objetivas alteram a estrutura da sociedade e exigem novas soluções em sua dinâmica maior. O domínio atual da condução destas mudanças no país tem sido das forças conservadoras. Um caminho que aproveita deficiências ou vazios nas orientações progressistas que, em outra situação e com outras exigências aplicou um rumo muito positivo. Quais suas características, sua dimensão, a relação que apresenta para as limitações à Democracia atual e qual a capacidade de um país como o Brasil em sua superação destes impasses com benefício popular. São fortes desafios. Um debate que para ser decisivo deve contar neste processo da população a partir das lutas concretas.
 A “transição” que vivemos
Hoje vivemos em uma transformação da sociedade no mundo todo. Suas mudanças são amplas no sentido que abarcam e articulam sua estrutura entre as pessoas e no seu conjunto. Um fator essencial é a tecnologia bastante inovadora, com renovação rápida e que altera todas as atividades. Seu controle tem sido com domínio do Sistema Financeiro.
As Relações de trabalho, Relações de Produção, Valores da Ideologia, Sistema da Política, Os Valores da Cultura, Condições de Vida da População, o Meio Ambiente. Foi implementada uma reorganização das estruturas institucionais do Estado e também das empresas, partidos e entidades de comunicação. Afeta todas as funções e elementos de organização da sociedade nas Formas, Valores e Sentimentos nas relações entre cidadãs e cidadãos. Altera e transforma os valores e modifica o individualismo, o medo, aumenta a violência, faz predominar a concorrência em todas relações. Traz novas características de submissão por imposição de quem domina ou é dominado. Estabelece uma “pastagem” na apresentação e no convívio nas diversas realidades, um caminho de indefinição que permite exercer e aumentar o poder.
No crescimento econômico atual os grandes lucros existem principalmente no Sistema Financeiro. Nas Relações de Produção a rápida mudança da tecnocracia utilizada e a sua complexidade de funcionamento, com seus altos custos   onde pequenos equívocos geram imensas alterações de resultados. Esta enorme insegurança tem sido um dos aspectos para o domínio pelo grande capital. Ao mesmo tempo existem alterações no consumo e do mercado assim como o valor da mão de obra na mercadoria, o que para o capitalismo são conceitos decisivos.
Da mesma forma a dimensão internacional da economia em toda sua combinação sofreu profundas modificações, atualmente um comércio pequeno. Como podemos ver é um panorama muito complexo e com diferenças com a realidade que havia sido alcançado no passado.
A exploração da Mão de Obra aumentou agora mesmo quando o salário, por acaso, seja maior porque a sua produtividade é muito maior. Insatisfeitos, entretanto, o capitalismo quer colocar o trabalhador em situação de enorme defensiva e garantir a exploração agregada no valor na produção. É simplesmente usar e jogar fora. As pessoas têm sido condicionadas hoje à concorrência e oportunismo aos demais com a perda da significativa Solidariedade que a trajetória da vida nos trouxe, são valores recente no capitalismo. Qualquer caminho progressista será necessariamente participativo e democrático. Os trabalhadores ficam sem força para questionar e, inclusive, sem capacidade de preparo para sua própria qualificação profissional. Cada caso é específico e em todos os países e regiões guardam dinâmicas próprias. Sua força real de dominação é conduzida pelo Setor Financeiro.
A sexta economia do mundo
No Brasil estão bastante presentes estes aspectos de crescimento. Hoje a política conservadora atua para exercer domínio ainda maior mesmo com retração no crescimento. Neste sentido se vale dos participantes do atual governo que sempre foram altamente negativos na sua presença e na formulação de caminhos na história brasileira. Suas presenças são oportunistas e procuram “encostar” nas estruturas existentes, mas sempre diferenciados pelo seu aspecto medíocre. A proposta defendida por estas forças nos conduz para uma realidade de Colônia. Concentra na diminuição do Estado, a redução do preço e garantia do trabalho, desmoraliza toda a política para fortalecer seu domínio direto e, junto estabelece o predomínio em setores como a “agroindústria”, privatiza empresas como a Petrobrás, da mesma forma a exploração da água e extração de outros elementos da natureza. Infelizmente as forças conservadoras de tradição histórica e significado mostram debilidade profunda para alcançar um caminho alternativo e consistente. Infelizmente ainda não abriu espaços e, ou, não conseguem soluções mais sérias.
Em nossa história desde a República Nova construímos estruturas muito fortes como a indústria, uma forte mão de obra (inclusive qualificada). Igualmente temos soluções de agricultura, comércio e serviços. Nosso Estado é sólido e importante em sua atuação em todos aspectos da sociedade. No processo de desenvolvimento deverá ser atualizado, mas não reduzido.
Nossos governos recentes foram de sucesso e melhorias na sociedade. É evidente de limites, erros e deficiências, mas nada em que o diálogo aberto e participativo não possa superar e inclusive construir valores novos e necessários. Não temos dívidas no exterior, guardamos uma reserva de 380 bilhões de dólares, somos um país continental, temos uma possibilidade ampla para autonomia e nossos “inimigos” do exterior estão muito débeis. E mais ainda, temos importantes “amigos” no mundo para construir ou avançar. Nós somos fortes, mesmo sendo um país que teve 350 anos de escravidão, mais uns tantos de coronelismo e no entanto alcança ser a sétima potência do mundo, disputando a sexta.
Esta orientação de querer nos humilhar é reacionário. Ocorre que no atuai momento a política dos “containers” apresenta uma solução de colônia para o tempo atuai. É violenta, não aceita diálogo, é impositiva e autoritária na política e relacionamento. Impõe valores de submissão na relação de toda a sociedade. Ocorre que sua estrutura mostra ser fraca e superada, rapidamente apresenta defeitos. Uma solução progressista, no entanto, não surge sem uma luta clara e sem uma proposta que permita avançar em tempos de domínio do poderoso sistema financeiro.
Esquerda
As forças progressistas apresentam políticas de confronto baseado quase que só em questões imediatas de questionamento às desastrosas atitudes do governo e seus sustentadores. Não apareceram valores maiores de autocrítica às suas deficiências e debilidades que facilitaram a realidade atual. Não alcançamos ainda uma avaliação da crise que vivemos e, menos ainda, foram conseguidas alternativas de propostas. O grande mérito já iniciado é o início forte de um Processo Político Progressista. Surgem novas e grandes lideranças, antigos líderes como o do ex-presidente Lula que está renascendo com alto reconhecimento de sua liderança. Junto podemos ver importante organização popular e movimentos com questões novas e acompanhadas de soluções fortes. Muita coragem, acompanhadas de perguntas que exigem determinações em superar nossos limites.
Um tema muito presente neste questionamento é saber como atingir a chamada “periferia e sua população” de nossas enormes cidades brasileiras. Qual é o caminho para sua inserção na sociedade e como podem se movimentar em nosso país que concentrou uma das maiores quantidades destas Metrópoles no mundo. Fenômeno em parte construído pela recente ditadura a partir de um acelerado êxodo rural em tempo muito curto. Da mesma forma todos nós queremos saber como será a sociedade na época atual.
É evidente que é impossível previsões antecipadas e absolutas. Mas as perguntas e formulação de diretrizes são elementos necessárias para, na prática e na luta debatermos e construirmos o futuro.
Mais Democracia
Nossa luta é complexa e grande. Sua evolução nos ensina que a participação é fundamental. Trata-se de um fator para nos indicar que a luta é para ser construída pela população e por ela decidida. Os caminhos de representatividade não podem pretender a mesma importância prática que representou no passado do Brasil e em diversos países. Este significado é de força e caráter de solução assim como a própria possibilidade de ser revolucionário e transformadora. Soluções amenas são muito limitadas o que não quer dizer o “radicalismo”. O próprio capitalismo encontra dificuldades de definir propostas e ser aceito.
Esta pontualidade de questões sugeridas é só um exercício. Não tem pretensão de fazer afirmações mais complexas. A proposta progressista mostra ser oposta ao que os conservadores adotam até agora. A definição de Sociedade é inovadora e efetivamente deve ser construída para estruturar sua dinâmica. A Nação que foi extremamente determinante no estabelecimento do capitalismo em tempos mais remotos deve ser retomado, agora para garantir o Desenvolvimento da Sociedade, superar a polarização, modificar a Relação de Trabalho, favorecer a pequena e média empresa, ampliar o diálogo com os mais ricos e qualificar a Condição de Vida do país.
Para alcançarmos esta situação é fundamental reorganizar a Democracia com Participação e Poder Direto Ampliado. Garantir e qualificar o Estado é fundamental porque esta Sociedade depende de sua presença. Várias questões essenciais aparecem neste sentido, em condições imediatas e na reorganização futura. É decisiva a reforma fiscal, alterar a sistemática dos juros na relação financeira, defender a Nação na relação de comércio externo. As exigências hoje são em grande parte de nova condições técnicas, portanto é necessária sua transformação para beneficiar ao Cidadão e à Cidadã, o que é diferente da simples “modernidade” várias vezes colocado.  É urgente nova Assembleia Constituinte a nosso país e, como coerência de proposta é fundamental que sejam Eleições Diretas.
* Urbanista/Historiador

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