A vida no limite

Maria da Conceição de Araújo Carrion*

Sugestivo o título que o Governo do Estado escolheu como lema  para a Semana do Meio Ambiente 2006. Ironia ou visão correta da realidade? Uma breve incursão por alguns aspectos das políticas governamentais que identificam a atual administração estadual não resistiria à tentação de se afirmar que é a mais pura e cristalina verdade: a vida está sim no limite.
Para demonstrar o nosso entendimento, tomemos como exemplo apenas três entre tantos projetos e ações da atual administração estadual que demonstram a desastrosa visão de “desenvolvimento sustentável”, tão propalada hoje pelas autoridades governamentais e aplaudida estrategicamente pela iniciativa privada:

– dar incentivos  e apressar a mudança da matriz econômica da metade sul do Estado, com a introdução da monocultura de eucalipto e pinus, árvores exóticas, em parceria com as grandes empresas da celulose. Sabe-se que isto significa uma ameaça à biodiversidade do Pampa, mudando, inclusive, hábitos da tradicional cultura gaúcha calcada na realidade pampeana. Pergunta-se, ao fazer isto, o Governo está ou não colocando em risco o meio ambiente e a vida neste Bioma?

– incentivar o uso do carvão  mineral como fonte de energia, sabendo que o uso do carvão compromete: 1- a disponibilidade dos recursos hídricos, 2- degrada os ecossistemas e reduz a biodiversidade; 3-emite poluentes que afetam perigosamente a saúde humana 4- provoca chuva ácida, originada pela combinação da emissão de materiais particulados oriundos da exploração do carvão que, diga-se de passagem, podem viajar até 3.000 km de distância. Enfim, ao optar e incentivar um combustível ultrapassado e pernicioso à saúde e ao meio ambiente, está ou não o Governo do Estado colocando a vida em risco?

– pergunta-se, ainda, ao incentivar e desenvolver, em parceria com a iniciativa privadae com o Governo Federal, megaprojetos hidrelétricos na bacia do rio Uruguai, para citar apenas uma das nossas bacias, desalojando das terras de seus ancestrais milhares de famílias, inundando, caso todos as usinas previstas venham a se concretizar, pelo menos 3.000 km² de florestas nativas, terras agriculturáveis e áreas urbanas e, portanto fazendo desaparecer a biodiversidade da região, o Governo está ou não colocando o ambiente e a vida em risco?

Os fatos estão a demonstrar que esse processo de destruição do nosso planeta tem de ter um basta, o que só ocorrerá com a adesão, felizmente cada vez mais crescente, da consciência coletiva à questão socioambiental. Ou começamos urgente o debate público sobre a necessidade de mudança dos  padrões de produção e consumo da sociedade atual, ou estaremos condenados à nossa própria extinção no planeta Terra.

Comecemos  a agir nesta direção, afinal, A VIDA ESTÁ realmente POR UM FIO.

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