Babel

À falta de critérios racionais, o governo alimenta a confusão

Há quem considere normais as caneladas dos primeiros dias de governo, mas são tantas e tamanhas as divergências que se pode imaginar que os novos governantes estão gozando com a nossa cara.

Lembram-se da Torre da Babel, metáfora bíblica sobre a desinteligência entre os homens na Antiguidade?

Para não viajar nos equívocos, a saída mais inteligente é esquecer o diz-que-diz e tentar sacar as tendências básicas, os rumos, o norte, pois é notório que, a despeito das trombadas, o governo tem o seu Norte.

Assim, excluídas as bolas chutadas fora por figuras individuais do novo governo, o que temos na mão, com certeza, são as seguintes diretrizes:

1 – liberalismo na economia

2 – obscurantismo nos costumes

3 – retrocesso na educação

4 – desrespeito ambiental

5 – reviravolta na diplomacia com submissão ideológica ao império ianque e rejeição às parcerias com a China, a Rússia e outros países suspeitos de gostar do socialismo, seja lá o que isso venha a ser

6 – renúncia à soberania nacional mediante o aprofundamento da  política de Michel Temer de entrega às petroleiras estrangeiras das jazidas do pré-sal, dispensando a Petrobras de exercer sua maior especialidade – a operação em águas profundas.

7 – A “venda” apressada à Boeing da Embraer, uma empresa estratégica que não está à beira da insolvência

São casos contraditórios e discutíveis. que não resistem a uma análise superficial.

Por exemplo, a crítica ao “globalismo” levantada pelo novo chanceler Ernesto Araujo destoa da adesão incondicional aos EUA, líder do processo de “globalização” das finanças e das tecnologias.

Já o apelo às raízes nacionais (“leiam José de Alencar”, recomendou o chanceler Araujo), é um disparate diante da subordinação aos interesses dos EUA; seria mais lógico se o dito cujo recomendasse a leitura de escritores como Steinbeck ou Faulkner, dois luminares da literatura norte-americana. Ou indicasse os filmes de John Ford ou Tarantino.

Fora as baboseiras ditas por ministros saídos do anonimato para as luzes da Esplanada de Brasilia, o que mais espanta no novo governo é o jogo duplo que combina a condenação de boas práticas das gestões petistas à bajulação dos ricos.

A pretexto de coibir concessões do PT aos carentes e pobres, o governo corre o risco de abrir a porta para favorecer quem não precisa de benefícios oficiais.

O que configura uma forma gratuita de corrupção.

LEMBRETE DE OCASIÃO

“Quem nasce no Brasil ou funda um país ou vive da revolução dos outros.”

Altair Martins, escritor, no romance Terra Avulsa (Record, 2014)

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