Birutas: Atem os cintos, o piloto não é confiável

GERALDO HASSE 
A História não registra quem inventou a biruta, o prosaico saco de pano hasteado nos aeroportos para orientar os pilotos de avião sobre o sentido do vento.
Talvez tenha sido ideia do Alberto dos Santos Dumont, um dos brasileiros mais criativos da História.
Pra quem inventou um veículo capaz de voar, criar a biruta foi fichinha: certamente Beto a bolou na mesma hora em que teve a ideia de atar o relógio no pulso, porque não tinha uma terceira mão pra tirar o patek philipe do bolsinho da calça enquanto fazia suas experiências aéreas nos arredores de Paris.
Por que falo de biruta? É a metáfora da hora.
Estamos sob nova direção pela vontade de 55% dos eleitores que decidiram: o Brasil deve caminhar pela direita após andar por alguns anos pela via da centro-esquerda.
Cabe perguntar se os brasileiros votaram baseados na biruta ou inspiraram-se em alguma sugestão do vento (“Blowing in the Wind”, como diz a canção) ou, ainda, no desejo secreto de cantar “Marcha, Soldado”?
É simplesmente absurdo que o exercício do voto, pilastra da democracia, tenha se tornado um espasmo quadrienal praticado a partir de sinais de fumaça emitidos por alguns aprendizes de feiticeiro que assopram dicas para os candidatos: “Diga que vai fazer isso porque é isso que as pessoas querem ouvir…”
Aí, depois de algumas semanas de bate-boca no rádio e na TV, os eleitores vão lá e apertam algumas teclas com a convicção de que estão fazendo a coisa certa.
Agora praticado em urnas eletrônicas que não emitem comprovante, o voto se tornou um exercício mais simbólico do que efetivo porque as campanhas eleitorais caíram nas mãos dos falastrões da marquetagem, que aplicam aos candidatos as técnicas de venda de produtos de consumo.
Encerradas as votações, os eleitos passam a responder à orientação de equipes que obedecem a planos macro de dominação político-ideológica.
A partir daí, os eleitores são arquivados por quatro anos e passam a ser considerados apenas consumidores.
Pergunnta-se por que não se usam os recursos da eletrônica, celulares, internet etc. para aprimorar de fato a democracia mediante consultas periódicas — mensais, bimestrais ou trimestrais, por exemplo — sobre questões fundamentais da vida das pessoas, famílias, comunidades?
Se as pessoas se acostumaram a digitar coisas  nos teclados em geral, por que não poderiam teclar SIM ou NÃO em relação a temas como PREVIDÊNCIA?
Por que as decisões fundamentais têm de ficar exclusivamente na mão de parlamentares que trocam seus votos por favores oferecidos por intermediários poderosos?
No fundo, birutas somos nós, os cidadãos.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“É preciso que o fruto apodreça antes que a semente nova possa se desenvolver”.
(Do I Ching)

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