Porque Lula não foi ao Anhangabaú

PINHEIRO DO VALE
Em boca fechada não entra mosca. Foi atentando a esse ditado popular que o ex-presidente Lula tomou a decisão de não comparecer ao palanque oficial do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no 1o de Maio.
As grandes expressões das forças remanescentes da Base Aliada subiram e se postaram ao lado da presidente Dilma Rousseff no ato político contra o impeachment, mas que, também, poderia ser qualificado de semioficial, uma vez que ela anunciou ali algumas medidas de governo, como o reajuste do Bolsa Família e a correção do Imposto de Renda.
Falar manso depois de tudo que Lula andou dizendo em outros palanques pareceria incoerente ou sugeriria um recuo. Abrir a boca era correr um risco desnecessário.
O exemplo  está à frente: o líder da Contag, Aristides dos Santos, dias antes fora chamado a depor na comissão especial do INCRA e FUNAI da Câmara dos Deputados.
Aristides fez uma daquelas bravatas comuns nos discursos de lideranças sem-terra, mas como foi dita no Palácio do Planalto, em frente à presidente da República, deu pretexto para a bancada da direita convocá-lo a depor.
Se fosse ao Anhangabaú, Lula iria falar num palanque que tinha a bordo a presidente. Por ter assinado atos de governo, o recinto poderia ser chamado de um puxado do Palácio. E aí as palavras pronunciadas naquele ambiente poderiam ganhar foros de ameaças concretas em ambiente oficial, oferecendo à oposição os requisitos para levar Lula a depor na Câmara. Seria muito arriscado.
Lula pautou-se pela análise de custo-benefício de sua presença naquele evento. Suas palavras não mais poderiam mudar nada. Na Comissão do Senado as cartas já estão abertas e o resultado dessa fase selado. O que ele falar daqui por diante já estará noutro contexto, será parte de sua campanha eleitoral.
Correr o risco de ter de depor na Câmara acusado de incitar violências seria uma exposição infantil. Os exemplos estão fresquinhos: convocações inúteis de depoentes protegidos por habeas corpus para se negarem a responder a perguntas muitas vezes capciosas. É só vexame inútil.
Melhor não se expor. Sua garganta anda mal, constituindo-se num álibi perfeito para justificar sua ausência. A campanha das eleições está na rua.
No domingo à noite a TV Brasil já botou no ar uma cartão pedindo antecipação das eleições presidenciais. É quase oficial.
Há um movimento forte entre essas correntes no sentido de que a presidente Dilma Rousseff encaminhe o quanto antes, enquanto ainda está na presidência, uma Proposta de Emenda Constitucional mudando as regras e convocando eleição imediata.
Há dúvidas se uma PEC pode mexer numa cláusula pétrea como o mandato presidencial. Mas seu encaminhamento, originado no Executivo, tem força suficiente para botar o assunto no espaço político-legislativo.
Por isto, Lula teria ponderado: se Aristides Santos teve de ouvir calado ofensas a título de inquirição, proferidas com tamanha violência, ele tendo de ouvir calado a tantas ofensas, diante das câmeras, assistido na tevê por sua família, amigos e correligionários, sem pode dizer palavras, era uma verdadeira cadeira do dragão.
Por outro lado, responder aquelas afirmações de deputados protegidos pela imunidade seria um verdadeiro tiro no peito. Melhor não ir ao comício.

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