Falta o bigode

GERALDO HASSE
O ex-presidente Lula completou quatro meses na cadeia e a única novidade nesse período foi o crescimento nas pesquisas da candidatura presidencial do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), capitão do Exército reformado por comportar-se inadequadamente como membro das Forças Armadas.
O tempo não apagou o que ele fez nos anos 1980, quando projetou explodir um trecho do centro do Rio. Seria uma ação terrorista, algo parecido com o que resultou no acidente do Rio Centro, onde morreu um dos militares envolvidos num atentado frustrado. Felizmente ele foi detido a tempo. Virou “ficha sujíssima”.
Bolsonaro devia ter sido internado para tratamento psíquico. Ao contrário, ele encontrou uma saída na política. Hoje está no quinto mandato como deputado federal, o que põe em dúvida a sanidade do seu eleitorado. Uma recente matéria de jornal informou que ele enriqueceu na política.
Na sessão em que a Câmara mandou a presidenta Dilma para casa, Bolsonaro fez a declaração de voto mais agressiva e inconveniente: deu um viva ao coronel Brilhante Ustra, torturador-mor na época em que a ditadura militar combatia dissidentes de armas na mão.
Agora, declarado candidato presidencial por um partido sem expressão, o ex-capitão atrai como vice um general aposentado que recentemente andou pregando a intervenção militar no governo federal. É uma chapa pra nenhum extremista botar defeito.
Seria cômico se não fosse trágico. Há desavisados que acham graça nele. Uma pesquisa da antropóloga Esther Moreno, da USP, constatou que jovens da periferia paulistana admiram a linguagem desbocada do deputado. Acreditam que ele destoa dos políticos bem falantes que pontificam nos parlamentos.
Focalizando apenas Bolsonaro, trata-se de uma figura assustadora. Ele é boquirroto, grosso, ignorante, machão e mal informado. Quando aparece em fotos com o cabelo puxado para o lado, lembra Adolf Hitler. Para ficar igual, só lhe falta o bigode do ditador nazista.
Acredito que Bolsonaro é um fenômeno temporário que se apagará no horizonte como um desses fogos de artifício que as pessoas soltam em datas festivas para demonstrar alegria ou simplesmente para “queimar dinheiro” — um desabafo de luxo.
Temo porém o comportamento do eleitorado, que desabafa votando em figuras bizarras, como aconteceu com a eleição do deputado Tiririca, que arrastou consigo para a Câmara cinco correligionários mal votados.
Pode-se argumentar que Tiririca representa o povo e que sua presença em Brasília “não infloi nem diminoi”, pois individualmente um deputado representa apenas 0,2% da Câmara, mas quando se somam as nulidades o total vai se afastando do zero.
Quando passou pelo parlamento brasileiro, durante a Constituinte de 88, Lula concluiu que lá havia, atuando em causa própria ou a serviço de interesses espúrios, 300 picaretas. Ou, seja, a maioria. Ninguém liga porque é o Congresso, “caixa de ressonância dos valores nacionais”. Lá a voz de Bolsonaro é abafada pelos picaretas. E na Presidência da República?
Na Presidência, um destemperado é um risco a temer.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Com mais de cinco milhões de seguidores no Facebook, Bolsonaro zoa, com sucesso, em busca de empatia. Põe uma braçada na frente de seus adversários, em redes sociais, repetindo a dianteira irreverente de uma direita que em campanhas como a do ex-prefeito de São Paulo, João Doria, e do atual do Rio, Marcelo Crivella, ambas em 2016, foi bem-sucedida”.
* Maria Cristina Fernandes, Jornalista em artigo de 13/7/2018 no jornal Valor Econômico.

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