Ciência Extraordinária – Os ativos intangíveis da Cientec

Geraldo Mario Rohde *
Ao contestar a postura simplória e reducionista usada para justificar a extinção da Cientec, de que ela faria tão-somente análises, testes e ensaios, commodities  disponíveis e pesquisas igualmente substituíveis pelo mercado, é necessário colocar uma visão histórica que, na qual nos seus mais de 70 anos de atividades, a Cientec sempre se pautou por produzir conhecimento aplicável a questões estratégicas de Estado, como a criação e implantação do Polo Petroquímico, a instalação do Complexo Termelétrico de Candiota e na duplicação da Refinaria Alberto Pasqualini.
Já atuando modernamente no tema dos bens públicos ambientais, participou decisivamente da criação dos comitês de bacias hidrográficas e a Lei das Águas estadual, na criação da Lei dos Resíduos Sólidos estadual e no próprio Código Estadual do Meio Ambiente, atuando nas comissões da Assembleia Legislativa, praticando a issue driven science, ciência e tecnologia aplicada às questões ambientais e sociais.
A verdadeira função da Cientec no Estado sempre foi focada pelo uso de sua inteligência concentrada nas mais importantes questões gaúchas que podem perfeitamente ser observadas, do  ponto de vista econômico, como ativos intangíveis. Este aspecto fundamental de sua atuação está ligado às tecnologias de uso energético da imensa jazida de carvão mineral gaúcha e de suas decorrentes cinzas, a tecnologia inovadora do arroz parboilizado, a prova da inexistência da periculosidade no carvão vegetal produzido no RS e a tecnologia de restauro do patrimônio arquitetônico, incluindo o próprio Palácio Farroupilha. Estes verdadeiros ativos intangíveis, perfazendo milhões de reais nas cadeias produtivas gaúchas, têm exemplo recentíssimo em 2015, em estudo sobre a falsificação de adubos, com um impacto equivalente a 600 milhões de reais para o Estado.
Para mais além, os pesquisadores da Cientec dão assistência ao Ministério Público e à SEMA-Fepam na área ambiental no RS, melhoram a qualidade dos alimentos e da merenda escolar, exportam tecnologias de  aproveitamento de cinzas de carvão para o Ceará e o Maranhão, contribuem de forma notável para a questão estratégica da tecnologia de eletrônica embarcada, e dão consultorias internacionais na Índia e nos Emirados Árabes sobre inspeção e auditorias em tubos de ferro.
Desta forma, desconhecer o imenso patrimônio tecnológico acumulado na forma de laboratórios especiais e equipamentos e o inestimável patrimônio imaterial contido nos seus pesquisadores, mostra que a tentativa de destruir nossa Cientec é um atestado cabal de absoluto desconhecimento do próprio Estado e verdadeiro atentado contra a sustentabilidade tecnológica, estratégica e informacional do futuro do Estado do Rio Grande do Sul.
* Geólogo, doutor em Ciências Ambientais, pesquisador da Fundação de Ciênia e Tecnologia (Cientec)

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