Das ladroíces à corrupção

Vilson Antonio Romero (*)
Aumentou a percepção de que a corrupção grassa entre os agentes públicos brasileiros, a despeito das seguidas ações policiais, prisões e etapas ostensivas, em especial, da já decantada Operação Lava Jato.
A relação quase sempre promíscua entre empreiteiros, políticos, funcionários e gestores tem resultado em centenas de escândalos divulgados diuturnamente em todas as mídias.
Apenas a Lava Jato, desde 2004, somente no PR, já chegou próximo de sua 60ª. etapa, com 2.476 procedimentos instaurados, 226 condenações contra 146 pessoas, com pedidos de ressarcimento público de mais de R$ 40 bilhões.
Estas constatações consolidam a posição nacional no Índice anual de Percepção da Corrupção (IPC), divulgado pela ONG Transparência Internacional.
Segundo a ONG, o IPC, aferido desde 1995, é o mais abrangente indicador de medição da corrupção no mundo, reunindo dados de 180 países e territórios.
A pontuação indica o nível percebido de corrupção no setor público numa escala de 0 a 100, em que 0 significa uma nação altamente corrupta e 100 um país muito íntegro.
No indicador deste ano, o Brasil caiu mais fundo no poço. Alcançou sua pior nota desde 2012 passando da 96ª para a 105ª posição no ranking, com somente 35 pontos na classificação. Entre todos os países pesquisados, ponteiam positivamente Dinamarca, Nova Zelândia e Finlândia. No extremo oposto, os mais corruptos são Sudão do Sul, Síria e Somália.
No continente, ficamos no 20º lugar entre os 32 países americanos, numa queda significativa. Em 2012 estávamos na 12ª posição e desde então, fomos ultrapassados por Jamaica, Suriname, Trinidad e Tobago, Argentina, Guiana, Colômbia e Panamá.
O Canadá lidera o ranking nas Américas com a menor percepção de corrupção da região.
A própria regional brasileira da Transparência Internacional alerta que “esforços notáveis do país contra a corrupção podem estar em risco e não foram suficientes para chegar à raiz do problema”.
Temos plena consciência que ainda são necessárias medidas legais e institucionais mais efetivas para coibir a endemia corruptiva que assola a Nação.
Já tivemos uma mudança radical com a Lava Jato, fundamental para mostrar que pelo menos parcela da impunidade está sendo combatida, alcançando de forma inequívoca criminosos do colarinho branco, antes poderosos e inatacáveis.
Apesar de a corrupção campear em solo nacional desde Pedro Álvares Cabral, necessitamos da consciência da sociedade, da articulação entre os Poderes e da mobilização dos cidadãos, para que se vislumbre um túnel e uma luz no final dele.
Já rezava o padre Antonio Vieira, nos idos de 1655: “(…) Dessas mesmas ladroíces, que tu vês e consentes, hei de fazer um espelho em que te vejas – e quando vires que és tão réu de todos esses furtos, como os mesmos ladrões, porque os não impedes, e mais que os mesmos ladrões, porque tens obrigação jurada de os impedir, então conhecerás que tanto, e mais justamente que a eles, te condeno ao inferno (…)” – Sermão do bom ladrão.
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(*) jornalista, auditor aposentado e diretor da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e conselheiro titular da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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