Demandas

A mídia é a questão central nessa nova conjuntura da era bolsonarista, certo?
Nos grupos tradicionais de mídia, de controle familiar, o impasse está escancarado.
Seu modelo de negócios – o jornalismo sustentado pela publicidade oficial ou privada – está em cheque.  O controle dos canais de massa – as concessões de rádio e televisão – já não é barreira suficiente diante dos abalos do mercado.
Os impressos, jornais e revistas, que já foram carro chefe desses grupos, cheiram mal nas bancas, como peixe estragado.
Mas aí estão, concentrando em poucas mãos os canais de massa e quase todas as  verbas de publicidade, estatais e privadas, conduzindo a opinião pública.
Bolsonaro fez sua campanha pelas redes sociais, mas ele encontrou terreno fértil semeado anos a fio por um noticiário seletivo e interpretações induzidas.
A falência consumada da Abril e a previsível ascensão da Record, com a adesão a Bolsonaro, sinalizam mudanças internas no arranjo corporativo. A rede de Silvio Santos está tomada de um bolsonarismo milenarista.
Novos donos, novos campeões de audiência, mas não é previsível uma alteração significativa no conteúdo e na pauta. A Globo ficará, talvez, um pouco mais crítica no varejo. No atacado, seguirá fiel a seus interesses maiores. A Folha terá uma oportunidade de firmar independência. Resistirá ao cerco?
O que se evidencia, acima de tudo, é a incapacidade crescente desse sistema corporativo, de controles centralizados, para atender às demandas por informação numa sociedade que se democratiza. Ou  não se democratiza?
Cabe a pergunta porque a estas alturas esse sistema vai se tornando um entrave ao processo de democratização.
No outro campo, onde se enquadram quase todas as forças derrotadas no ciclo político que se encerrou com a eleição de Bolsonaro, o que se vê?.
Existe, sim uma mídia alternativa ou de resistência. Ainda não está mapeada, pelo  menos não tenho conhecimento e o que vejo é uma fragmentação muito grande. Cada um na sua trincheira, dando seus tirinhos. Boa parte na defesa, rebatendo o bombardeio da mídia , no “fogo de barragem”, como se dirá no Planalto doravante.
Mas a verdade é que existe um sistema de mídia de resistência ou alternativa, formado por uma infinidade de iniciativas. Muitas ongs, muitos grupos, blogs, portais, rádios e tevês comunitárias, revistas, jornais.
Começa na resistência heróica de um Mino Carta, segue no caminho pessoal do Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada, na Agencia Pública, no Midia Ninja, no Grupo Catarse, na rede Brasil Atual, no Brasil de Fato, da Revista Forum e do Pedro Rovai, do Paulo Moreira Leite e o pessoal do DCM, do 247, e vai ao Antagonista na extrema direita. Sem esquecer o nosso modesto JÁ, com 33 anos de labuta.
Fora do mercado convencional de verbas públicas e privadas de publicidade que sustentam o “jornalismo profissional”, este “jornalismo de resistência” cumpre um papel importante em busca novos caminhos e, principalmente, formas de sustentação.
Mas ele também ainda não dá conta das demandas por informação que a sociedade gera no processo de democratização. Precisa avançar muito, principalmente em integração e sinergia, para dar conta do recado.
As redes sociais são instrumentos poderosos de difusão, mas a produção da informação de interesse coletivo é atividade especializada, de alta responsabilidade.
O direito à informação é garantido na Constituição, mas qual o  modelo de negócio que permitirá  ampliar a produção de informações para atendar às necessidades básicas do processo democrático?
São demandas para 2019.
 
 
 

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