Dilma vê luz no fim do túnel, em 2018

Geraldo Hasse
A ex-presidente Dilma Rousseff deu um looooongo depoimento à revista Esquerda Petista em que, surpreendentemente, se declara otimista quanto à possibilidade de recuperar as prioridades do estado social a partir das eleições de 2018, desde que haja um debate autêntico sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos anos. “Não interessa quem ganhe, mas haverá um processo político, de dimensão nacional, em que se discutirá. Vai ser uma discussão, dura, crítica, mas vai ter. Por isso a coisa mais grave é não ter eleição em 2018”, disse a ex-presidente, que dedicou a maior parte do depoimento à análise da situação econômica mundial e, no final, explicou porque o PT não ousou apresentar o projeto de controle dos oligopólios de mídia.
Para a economista Dilma, a chave da crise vigente é a “financeirização”, fenômeno global mais ou menos recente cuja principal característica é o predomínio do capital financeiro sobre todas as demais atividades econômicas convencionais – indústria, comércio, transportes, agricultura, governo. Na opinião da ex-presidente, o objetivo da financeirização, mais do que estabelecer o “estado mínimo” e destruir os mecanismos do bem-estar social, é pagar menos impostos, o que acaba gerando como resultado final o aumento brutal da desigualdade econômica e social — obra em andamento no Brasil nas mãos do vice-presidente Michel Temer.
Nem tudo está perdido, acredita Dilma. Por exemplo, ela afirma que, apesar da privatização feita pelo PSDB, o Brasil conserva uma estrutura estatal muito forte: Caixa Econômica, Banco do Brasil, BNDES, Petrobras e Eletrobras. São cinco pernas que permitem gerar investimentos em atividades produtivas, mas até mesmo essas empresas estatais caíram no vício da financeirização. Falando das grandes empresas atuantes no Brasil, ela diz que “todas têm uma variante bancária chamada tesouraria, na qual a parte financeira é, progressivamente, mais significativa que a parte produtiva”.
No Brasil, segundo Dilma, a financeirização é mais intensa porque as grandes empresas, a começar pelos bancos, tornaram-se “sócias da rolagem da dívida pública”, ou seja, “se você depositar no Banco Central, ele te paga a taxa da Selic, entendeu?” Não são apenas os bancos que fazem esse jogo. “A Petrobras também quer a mesma coisa, está endividada em dólar e quer o real ultravalorizado”, diz ela.
Além disso, o empresariado em geral tem uma boa lucratividade no mercado interno de rolagem da dívida. Eis o suprassumo da finaceirização, que a economista e ex-auditora fiscal Maria Lucia Fatorelli quer lancetar por meio de uma auditoria da dívida pública no Congresso – não no atual, natualmente, mas em algum momento no futuro.
Mídia 
Em outra grande vertente do seu depoimento à revista Esquerda Petista, a ex-presidente Dilma reconheceu que faltou força (e coragem e percepção) aos governos petistas para estabelecer o controle sobre os meios de comunicação social.
Em princípio, lá no começo (2003), os governos petistas achavam que a mídia precisava ser controlada economicamente para que não se torne monopólio ou oligopólio, como ocorre com qualquer ramo de negócio. “Isso não é só contra a economia popular”, afirma Dilma, “é contra a democracia”. Ou, seja, “você não pode deixar que se formem conglomerados de jornal, televisão, rádio e revista e qualquer outro”. O órgão existente no governo, o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, nunca fez nada para alterar esse quadro.
Segundo Dilma, ao invés de criar uma lei antimonopólio, o que o primeiro governo petista Lula fez foi  ajudar os principais grupos de mídia a sair de suas crises de sobrevivência advindas da revolução tecnológica (internet). Ingenuidade, bom mocismo e falta de visão de futuro, já que no primeiro momento ninguém do governo petista tinha uma proposta de lei de meios de comunicação, que acabou sendo formulada tardiamente, no fim do segundo governo Lula. O autor, ministro Franklin Martins, jornalista com profunda vivência dentro da TV Globo, acabou ficando fora do governo Dilma, acuado pelo argumento malicioso de que o PT queria controlar o conteúdo dos meios de comunicação, conspirando contra “um dos fundamentos da democracia”.
Dilma admite: “Nós não soubemos colocar bem essa discussão. E fomos ingênuos em relação aos meios. Eles não têm nem princípios democráticos, nem republicanos. Com eles não dá para fazer ‘senta que o leão é manso’. O leão não é manso. Come sua mão, sua perna e sua alma”.
No transição de Lula para Dilma, o governo foi ficando sem força política para sequer propor regular a mídia, . A situação ficou pior com a ascensão de Eduardo Cunha à presidência da Câmara.
Em seu depoimento, a ex-presidente conta que o deputado carioca foi à cúpula da Rede Globo e prometeu barrar a regulação da mídia pretendida pelo governo. Não só barrou todos os projetos petistas como comandou o impeachment presidencial, consumado entre abril e agosto de 2016.

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