A atitude do governador Eduardo Leite ao declarar-se gay em rede nacional de televisão tem muitas implicações, mas o que interessa a todos são os efeitos políticos, de uma decisão motivada por interesses políticos, uma vez que o governador como ele mesmo diz nunca teve problemas em assumir a sua orientação sexual. Não a proclamava porque “não era o caso”. Agora é.
Pré-candidato a candidato tucano à Presidência da República, o governador sabe que não tem como entrar numa campanha eleitoral cruenta como a que se avizinha, tendo uma questão como essa nas sombras.
Ao tomar a iniciativa de declarar (ele não esperou nem o Pedro Bial perguntar), certamente está considerando os dividendos eleitorais de uma atitude que se alinha com uma das causas emblemáticas do Século 21, a diversidade de orientação sexual.
Eduardo Leite é um dos quatro pré-candidatos a candidato do PSDB para a eleição de 2022, disputando com João Dória, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio.
Foi sua assessoria que procurou Pedro Bial acenando com a manchete que podia render?
Ou foi iniciativa da Globo, ao perceber Eduardo Leite como a tão sonhada terceira via, capaz de alijar Bolsonaro, barrar Lula e, sobretudo, manter o projeto neoliberal em andamento?
Os desdobramentos dentro do sistema Globo indicam que há uma clara aposta no governador gaúcho. Farta cobertura no jornal O Globo, o farol ideológico do grupo, inclusive o furo na coluna da Patrícia Kogut, que antecipou a revelação da entrevista.
E, no dia seguinte à entrevista, uma análise no Globo, dizendo que Eduardo Leite “tornou sua vida privada uma não-arma para ser explorada por adversários no jogo sujo das disputas políticas”.
“Não há mais como dizer que Leite esconde algo de seus eleitores”, diz o texto, taxativo.
Depois discorre sobre a gestão de Eduardo Leite que ” assumiu o governo de um estado marcado por divisões políticas prolongadas e finanças arruinadas”.
Não chega a dizer que ele equilibrou as finanças do Estado, mas insinua: “Conseguiu construir um apoio na Assembleia estável o suficiente para tentar pôr ordem no Caixa do estado”.
Numa matéria do início de maio O Globo já tinha destacado a fé de Eduardo Leite no ideário liberal.
Seja como for, o gesto deu outra envergadura à pré-candidatura do governador gaúcho, no momento em que ele precisa se viabilizar dentro de seu próprio partido.
As prévias do PSDB estão marcadas para 17 de outubro e os pré-candidatos devem inscrever-se entre 01º e 10 de agosto, para iniciar a propaganda intrapartidária a partir de 01º de setembro.
Leite está pelo menos dois meses à frente.