GERALDO HASSE/ Saída pelas urnas

Nas redes sociais que estão tirando a função social dos botecos e nas filas das lotéricas onde o povo paga as contas e faz sua fezinha, muitas pessoas oscilam entre o desencanto e a revolta, mas a maioria parece não estar entendendo o que se passa.  Precisamos refrescar-lhes a memória.
Entramos no sexto ano de vacas magras na economia, ciclo que começou com o inconformismo de Aecio Neves com a vitória de Dilma na eleição presidencial de 2014.
Chorar a derrota faz parte do jogo, mas não é democrático conspirar, como fizeram os perdedores. Também não faria sentido apostar em soluções pela violência.
É verdade que Dilma facilitou, mas o impeachment veio como uma avalanche.
Tivemos então dois anos e meio de Michel Temer que botou Meirelles na Fazenda e iniciou o processo de desmanche dos pilares da mínima democracia social garantida pela Constituição de 1988.
Primeiro Temer congelou o orçamento por 20 anos. Foi um choque de gestão neoliberal em nome de ajuste fiscal.
Segundo, fez uma reforma focada na retirada de direitos dos trabalhadores para atender reclamações de empresários, que queriam reduzir custos operacionais.
A combinação dessas duas medidas – gelo orçamentário e reforma trabalhista — aprovadas pelo Congresso é responsável pela estagnação da economia que se prolonga dramaticamente com o aprofundamento do arrocho fiscal, a redução da massa salarial, o desemprego, o subemprego e a queda das vendas da maior parte das mercadorias.
Como os governos têm poucos recursos para investir em infraestrutura e no atendimento de necessidades básicas da população, cai a geração de empregos e se amplia a miséria; com o rebaixamento da qualidade de vida, congestionam-se postos de saúde, hospitais e as calçadas próximas de bancos e supermercados onde carentes e desvalidos pedem ajuda.
Um dos retratos da grave situação social brasileira está no aumento do número de pessoas pedindo comida, roupa e dinheiro nas ruas. Tornou-se comum ver catadores carregando sacos plásticos com materiais recicláveis ou empurrando carrinhos de supermercados nas calçadas. São formas de trabalho autônomo numa sociedade em transformação por medidas políticas e/ou por vias tecnológicas.
Milhões de pessoas não compreendem o que acontece, mas percebem que nos andares de cima há festa: dos privilegiados do mercado financeiro, dos bacanas da vida executiva, dos marajás dos serviços públicos, entre outras festas espantosas em que poucos se divertem enquanto a maioria cata migalhas ao redor.
Os governos, com o presidente Bolsonaro à frente, estão fazendo um estrago considerável no acervo de direitos civis e humanos do povo brasileiro.
Há algumas exceções, mas no geral estamos em marcha à ré. Inverteu-se a norma democrática segundo a qual o estado existe para ajudar a maioria a progredir na vida por meio da oferta de infraestrurura, escolas, postos de saúde etc. Não é exagero afirmar que o governo federal atua na contramão da democracia.
A bola da vez é o desmanche do INSS, cujo enxugamento o tornou incapaz de dar conta das demandas da sociedade após a reforma previdenciária promovida para favorecer o sistema financeiro. Se passar para a iniciativa privada, a gestão do fundo da Previdência Social poderá até ter custo menor do que o do funcionalismo do INSS, mas terá de gerar lucro (hoje equivalente a zero no sistema estatal).
Pela lógica que rege a atual política econômica, entregue às mãos do economista Paulo Guedes “Posto Ipiranga”, a saída para o governo é vender ativos estatais grandes, médios e pequenos.
Estamos a caminho disso na União e em alguns estados e municípios. A venda da Dataprev, por exemplo, colocará em mãos privadas o maior banco de dados do país, configurando um crime de lesa-pátria.
Em resumo, o que está acontecendo no Brasil é uma insanidade, mas nada justificaria uma intervenção das Forças Armadas, como pedem algumas pessoas. Golpes são intrinsecamente ruins.
A saída tem de ser democrática. Pelo voto consciente em outubro.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Desenvolvimento sem educação é criação de riqueza apenas para alguns privilegiados”
Leonel Brizola

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