GERALDO HASSE / Tungando os pobres

Embora tenha mantido o Bolsa Família, o atual governo federal não demonstra vontade de encarar os problemas sociais decorrentes da falta de trabalho, educação e saúde. Prova disso é a notícia de que o Ministério da Economia reduziu de R$ 1.039 para R$ 1.031 o salário mínimo de 2020.
É uma pequena tunga de R$ 8 por mês que significa menos R$ 100 na receita anual do trabalhador formalmente empregado e, consequentemente, menos nas contas do FGTS e do INSS além de, naturalmente, reduzir a capacidade de consumo de milhões de pessoas.
Reduzir o poder de comprar do salário mínimo em plena estagnação econômica não é somente maldade, é burrice: ao arrochar os ganhos das classes mais baixas, o governo reduz as possibilidades de retomada da economia, cujo crescimento depende da ativação do consumo de todos.
Ao sinalizar ao público que não liga a mínima para a prosperidade dos mais pobres, o governo inibe as decisões de investimentos na produção, no comércio, na logística etc. Em consequência da incerteza que paira sobre a economia, os possíveis investidores se acomodam aplicando seus capitais em títulos do mercado financeiro, cujos rendimentos não correm os riscos das atividades produtivas tradicionais.
Estamos submetidos à lógica do ministro Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, que enriqueceu como operador de fundos de investimentos. Ele tem carta branca para facilitar as coisas para os ricos, favorecidos pelo enxugamento da máquina pública, em nome da implantação do Estado Mínimo. Onde vamos parar?
O governo tem a força, conta com o apoio dos grandes meios de comunicação e dispõe até de habilidades especiais para instrumentar seu poder, mas não tem capacidade de fazer o mal de modo ilimitado e indefinidamente. Em algum momento, o governo federal terá de prestar contas de suas ações e explicar seus objetivos. O presidente Jair Bolsonaro não tem pretensões de estadista, mas não é crível que massacrar os pobres seja um objetivo estratégico de longo prazo.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Uma democracia começa com três refeições diárias”. (Millor Fernandes)

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