Lula guarnece a última fronteira

Pinheiro do Vale
O ex-presidente Lula assumiu o comando do último reduto da resistência da presidente afastada Dilma Rousseff na batalha do impeachment.
Ele se instalou numa suíte do hotel Royal Tulip Brasília Alvorada, o cinco estrelas mais próximo do Palácio da Alvorada e de frente para o Palácio do Jaburu, onde vive o presidente interino Michel Temer.
O Royal Tulip fica à esquerda de quem vai pela via EPP (a avenida presidencial) chegando à península presidencial, com o Alvorada ao centro e o Jaburu à direta.
Esse hotel é uma reconstrução recente sobre um antigo esqueleto arquitetônico dos tempos da fundação da cidade, em 1956, abandonado porque o grupo empreendedor faliu e seus restos ficaram na laje por mais de 50 anos, até ser recuperado e concluído.
Seria o Brasília Alvorada Hotel, hoje integrante da rede internacional Royal Tulip. Projeto de Oscar Niemayer, idealizado por Juscelino Kubistchek para hospedar dignatários que viessem ao Brasil, plantado num dos locais mais nobres e bonitos da sua capital.
Bem pensado, fica no meio de uma grande área verde, protegido de olhares indiscretos e  completamente seguro.
No governo Lula o espólio do hotel Brasília desembaraçou-se e assumiu seu lugar na paisagem da cidade. Agora está ali para o que foi planejado: um lugar para adequado a reuniões políticas.
Na península, os três presidentes podem se ver das janelas de seus quartos.
Com toda a discrição, longe de telefones celulares e fora do alcance de câmeras de tevê ou teleobjetivas de fotógrafos abelhudos, Lula pode receber suas visitas. Qualquer coisa, poderia falar com Dilma pelo muro ou dar uma chegadinha à casa do Temer sem ser incomodado.
Sem gravata, a bordo de um taxi ou de carro comum, um senador do baixo clero pode entrar e sair sem ser reconhecido.
Seu objetivo é virar entre 10 e oito votos no plenário do Senado. Segundo as pesquisas Dilma teria 18 votos seguros, embora sua base oficial indique 22.
O quórum para derrubar o impeachment é de 28 votos. Falta pouco. O golpe contabiliza 61 votos.
O cardápio das conversas já é conhecido. Lula diz que vai assumir o governo como virtual primeiro ministro, sem perigo de desmandos ou descumprimento de acordos. Dilma como rainha da Inglaterra daria a condição legal para a re-estabilização do novo governo petista.
Como executor bem mais do que fiador do novo governo, Lula conduziria o País até as eleições dos 2018, com a garantia de que o PT apoiaria um candidato de outro partido.
Esta possibilidade pode abalar a frágil aliança do golpe, rachando o PMDB e trazendo de volta partidos da antiga Base Aliada.
Um sinal de que há mais objetos no ar do que aviões de carreira, como dizia o gaúcho Barão de Itararé para falar dos mistérios da política, é que Lula e Temer estão agindo coordenadamente para controlar a eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados.
Eduardo Cunha está ferido, mas não morreu. Segundo estimativas ele ainda controla 200 votos no plenário da Câmara.
Os grandes caciques, Lula e Temer, não podem deixar que o baixo clero retome o comando daquela Casa. O grande pilar dessa negociação é que nenhum dos dois é candidato. Este é o acordo de paz para trazer de volta aos chefões paulistas o controle da política.
Sem isto vai tudo por águas baixo, tanto o golpe quanto a recondução da presidente afastada. Uma das manobras é dar mais tempo para o processo de Eduardo Cunha tramitar, deixando que sua base vá se desidratando.
O mais provável é que sua cassação somente ocorra nos mesmos dias da votação do impeachment no plenário do Senado.
Não é improvável que Dilma e Cunha estejam na berlinda, no mesmo dia, um de cada lado das  torres gêmeas do Congresso Nacional.

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