Marina Silva: o mundo de olho no Brasil

Por JOSÉ ANTONIO SEVERO
A eleição de Marina Silva seria a vitória do antipetismo, e a chegada ao governo de uma terceira via, pois levaria junto de roldão o PSDB, que é a versão acadêmica da mesma vertente da antiga esquerda paulista, que domina e divide o eleitorado do Brasil em dois.
Não haveria nada de mais num sistema democrático liberal, pois a alternância do poder não é apenas uma teoria, mas resultado natural e previsível da exaustão de uma corrente majoritária, substituída por outra. Isto já era preconizado pelos cientistas políticos. Só que se esperava isto para 2018 ou 22.
No Império o bipartidarismo alternativo assegurou a estabilidade política do Brasil, que foi uma ilha de jogo político eleitoral na América Latina convulsionada pelas rebeliões armadas, gerando seus produtos costumeiros, as ditaduras mais ou menos caudilhistas, comandadas por generais vencedores de batalhas.
No Brasil, do alto de sua legitimidade monárquica, Dom Pedro II promovia a alternância por decreto. Quando percebia que a corrente governante se exaurira, dissolvia o parlamento, convocava eleições e favorecia a formação de governos ora liberais ora conservadores.
Na República essa alternância não se deu. A mudança de hegemonias sempre foi tumultuada.
Os cafés com leite da República Velha foram apeados por uma revolução, em 1930. A vertente castilhista de Getúlio Vargas só foi cair de fato em 1964. Dutra era caudatário de Vargas e Jânio não chegou a governar. A UDN subiu ao poder pelo golpe de 1964, mas tampouco ficou muito tempo, pois já em 1969, com o AI-5, nada sobrou dos conspiradores que derrubaram João Goulart. Depois vieram os originários da antiga oposição reunida no MDB e fracionada no pluripartidarismo atual.
Marina vai mudar esse quadro, se vencer.
A novidade será que ela traz para o governo uma nova maioria desagregada, unida em torno de teses desconexas e hostis à política convencional. Compõem uma formidável força eleitoral, mas sem representação política. É uma manifestação da democracia de massa, que se esgota no fenômeno eleitoral.
Entretanto, passada a eleição, o regime demanda a representação organizada, que ficará ainda nas mãos das forças derrotadas nas urnas majoritárias, mas maciçamente vitoriosas na eleição parlamentar. O mesmo eleitorado elege dois animais diferentes. Como isto vai funcionar na prática para gerir o estado ninguém pode ainda dizer com certeza.
GOVERNO MARINA
Num exercício de cenário futuro, que se poderia dizer a olho nu? Marina poderá montar precariamente uma base parlamentar com pequenos partidos de esquerda e alguns segmentos religiosos.
Dificilmente atingira um terço da Câmara e quase nada no Senado Federal. Teria, em tese, um governo algemado. A alternativa seria compor uma coalisão no estilo PT/PSDB, ou como dizia José Genoíno, ex-presidente do PT, uma coalização para governabilidade. Então de nada valeria sua pregação. Seria o passo atrás, a traição do eleitorado, tal qual Fernando Collor. Pode ser, isto já vimos.
No entanto, na área internacional, Marina poderá ser a maior estrela do cenário mundial devido ao apoio entusiástico que arrancará de todas as militâncias ambientalistas, pacifistas e defensores das chamadas minorias discriminadas.
Não foi por nada que ela foi convidada pelas autoridades do Comitê Olímpico Internacional para desfilar na abertura das Olimpíadas de Londres.
A presidente Dilma, presente ao evento, quase teve um treco quando a viu marchando entre as celebridades mundiais. É uma boa pista para se previr como ela aparecerá na mídia: ambientalista famosa, figura amazônica, líder de uma potência mundial, a primeira presidente da nova política que deverá dominar o Ocidente neste século XXI.
Lula foi muito famoso e popular mundo a fora, mas ainda era uma expressão do Século XX: operário da indústria, esquerdista moderado e nascido na pobreza. Marina é pobre de família, mas não foi isto que a projetou. Muitos pobres chegaram ao cume no Brasil.
Ela é a herdeira de Chico Mendes, ícone mundial. Também diferente do líder petista, ela tem formação universitária, historiadora e psicopedagoga, formada na Universidade Federal do Acre e pós-graduada na federal e na PUC de Brasília, além de ter iniciado estudos na Universidade de Buenos Aires. Não é pouco. Ela faz parte da elite intelectual.
Como ambientalista ganhou uma dezena de prêmios internacionais de primeira linha. Ela foi chamada pelo New York Times de “Ícone do Movimento Ambientalista Mundial” e uma das dez personalidades brasileira mais influente. É a musa do aquecimento global. Marina será uma presidente com muita mídia. Há que ver como ela conciliaria se eleita, sua fraqueza política interna com essa expressão global. De qualquer forma o mundo está de olho no Brasil.

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