Memória e Esperança: Passeio Cultural do Petrópolis Vive

Petrópolis Vive – petropolisvive@portoweb.com.br

O Passeio começou no “centro” do Bairro, na escadaria da Igreja São Sebastião, de frente para o novo prédio, bonito, que ocupa o lugar do saudoso e charmoso Cinema Ritz, tão caro aos que cresceram em Petrópolis.

Aqui se delimita o “fim da linha do bonde”, até hoje mencionado como uma referência. Até os anos sessenta, o bonde era o principal veiculo do bairro. Na verdade, eram dois os fins da linha do bonde: o da João Abott, na esquina do mesmo nome, e o de Petrópolis, ali pela esquina com a Carazinho, ligado ao primeiro por um único trilho. A gurizada às vezes “roubava” o bonde e o conduzia até a João Abott e de volta à Carazinho, para desespero do motorneiro que se distraíra tomando um cafezinho na esquina. Nos álbuns da memória andam de bonde os guris irrequietos e os quietos, que aproveitavam para ler, enquanto subia devagar o morro o “Jabuti”, assim chamado porque nele estava escrito”J.Abott”.

Aqui ainda é o centro de Petrópolis, pela presença da Igreja, do Colégio, dos Bancos, do Supermercado, das “Fruteiras”, Padarias, Barbearias, Ferragens, Lojas de Vestuário, Miudezas, etc. Aqui ainda circulam e se encontram velhos e novos amigos, que resistem e sobrevivem à travessia diária entre “os dois lados” da Protásio e os seus rios de tráfego.

Ainda são vizinhos a Igreja, o Colégio e o fantasma do Cinema, que começaram juntos lá ambaixo na esquina da Carazinho com a João Abott. Naquela época, o novo prédio da Igreja buscava ampliar o sustento para pagar sua própria construção com a renda do Cinema Petrópolis e o Santa Inês ainda era um conjunto de quatro salas junto ao salão paroquial, no térreo do cinema. Isso até os anos cinqüenta.

Depois desse reconhecimento inicial, os caminhadores se dirigiram para a Carazinho e a Av. Caçapava, para chegar ao Parque Tamandaré, conduzidos pelo fio da memória inscrito no livro “Memória dos Bairros: Petrópolis”, de Renata Lerina Ferreira Rios e Maria Augusta Quevedo. Foi o pessoal do Tamandaré, na pessoa da Sra. Clarice Krauss, que conseguiu no Orçamento Participativo a realização do livro que recolheu esses traços de memória que acompanharam o Passeio. O Passeio também foi acompanhado pela representante da Ver. Sofia Cavedon, moradora de Petrópolis.

Nessa tarde, o Parque sediava uma concorrida festa de São João, com a providencial fogueira à espera do seu momento. Lembramos que uma tradição de Petrópolis foi por muitos anos as festas de São João realizadas nas ruas, até com fogueirinhas! Algumas eram famosas.

Foi interessante a comparação do ambiente atual com o antigo, onde bem antes havia o Lago Tamandaré. Do qual resta hoje uma área alagadiça, que parece insalubre aos moradores. Mas a natureza estava ali, nós chegamos depois. E o olho d’água persiste. Talvez ali pudessem ser plantadas algumas corticeiras-do-banhado, árvore nativa que dá belas flores e gosta de solo úmido.

Enfim de volta à Protásio e ao presente, percorremos o trecho entre a Igreja São Sebastião e a Vicente da Fontoura, onde a Smam plantou no canteiro central uma renque de mudas de ipês-brancos e jacarandás. Aproveitamos para conversar com comerciantes e moradores e distribuir um folheto incentivando a rega das mudas. Nessa fase, o maior fator de perda das mudas é a falta de água. A falta de chuva por cinco a sete dias, dependendo do clima, pode ser fatal. Por isso, a carinhosa adoção por parte dos vizinhos, com um balde de água, é decisiva.

Os caminhantes foram muito bem acolhidos e tiveram a grata surpresa de saber que algumas pessoas já tinham iniciado a rega das mudas, como um moço de fala castelhana, dono de um salão de beleza próximo à Igreja e o “Paulão”, muito popular entre a Ijuí e a Borges do Canto.

Ainda deu um tempinho para apreciar o marco de pedra na pracinha Toniolo, onde havia uma placa de bronze (roubada) festejando sua inauguração, à qual compareceu o próprio Presidente da República: Getúlio Vargas!

Cansados e felizes, sentido-se mais integrados à história do Bairro e contentes por ter contribuído com o seu futuro, os caminhantes descansaram à sombra das velhas paineiras, na subida da Protásio, admirando o por-do-sol e sorvendo um merecido chopp.

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