Quando as manifestações coletivas ficam imersas no espetáculo, tudo pode acontecer, pois no espetáculo tudo cabe. E será mais espetacular quanto mais catastrófico for.
Seria necessário que a humanidade, adormecida em cada um e em todos, acordasse e pulasse para além do espetáculo.
A humanidade tenta acordar dentro de um ou outro ser humano, mas os demais prontamente a fazem dormir. Não com acalantos, pois os acalantos fariam adormecer os mais eufóricos atores do espetáculo e acordariam a humanidade. Não com pensamento, pois o pensamento é um complicador para o mundo do espetáculo.
A humanidade volta a dormir sob alaridos diuturnos, sob o desdobrar de slogans e de slogans que imitam slogans. Volta a dormir cansada de tanto ver gestos caricatos, de tanto ver naufragadas no espetáculo causas que eram humanas.
Sobram duas perguntas: alcançaremos a vida além dos palcos? Ou: quando será o último ato?
(11.6.2020 )
Miriam Gusmão em sua crônica da quarentena, não consegue dissimular a poeta que é. Texto aparentemente leve, nos faz refletir sobre o tempo que nos toca viver enclausurados , com uma profundidade que vai nos conduzindo a perguntas acachapantes. ?????