Morte de Teori: nada foi esclarecido, tudo vai ficando claro

Bastou um laudo preliminar para enterrar de vez a hipótese de sabotagem na queda do avião que matou o ministro Teori Zavascki e outras quatro pessoas, há uma semana.
O centro de investigações da Aeronáutica, numa nota curta, informou na quarta-feira que o gravador de voz retirado do avião não revela nenhuma anormalidade no voo.
Foi o suficiente, apesar da advertência de que era uma primeira conclusão dos peritos (que não têm nome, nem rostos).
Na verdade, essa conclusão já estava plantada no noticiário da Globo e assemelhadas que, desde o primeiro dia, advertiram seus editores e articulistas para evitar as “teorias conspiratórias”.
Resultado: sem que se saiba quase nada do que realmente aconteceu, já não há mais dúvidas no noticiário. Foi uma lamentável fatalidade que retirou de cena o relator de um processo que envolve todos os caciques da política brasileira, a começar pelo presidente da República.
Afastada a hipótese de crime, o noticiário tenta ver o lado positivo da tragédia e acha razões para otimismo.
A morte de Teori, louvado em prose e verso, não foi em vão. A comoção nacional por seu trágico desaparecimento será o alento dos que acreditam na Justiça. A Lava-Jato vai continuar, revigorada.
Aí começa o segundo ato.
O colunista Merval Pereira, mentor político da Rede Globo e afiliados, amigo íntimo de Gilmar Mendes, lança o nome do ministro Luiz Edson Fachin para relator da Lava-Jato.  Fachin, indicado por Dilma Rousseff para o STF em 2015, é considerado um petista, é “amigo pessoal e de convicções” de Lula e Dilma.
Enquanto as tropas à direita se movem para tirar Facchin da jogada, Gilmar Mendes move suas peças. Janta com Temer, reservadamente, mas se deixa filmar numa cena descontraída no jardim do palácio, com o presidente e Moreira Franco. Diz que tem “relações de companheirismo e diálogo” com Temer há 30 anos.
Isso aconteceu no domingo. Na quarta-feira, Gilmar foi à ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, que tem em suas mãos o poder de indicar o novo relator da Lava-Jato.
Sai do encontro, de meia hora, dizendo aos repórteres que encararia com naturalidade assumir o cargo de relator.
Claro que a indicação de Gilmar é improvável, até por suspeita. Ele já apontou restrições à condução da Lava-Jato. Mas pode ser alguém sob sua influência.
As almas mais puras que habitam as franjas do poder acreditam que a ministra Cármen Lúcia é uma barreira suficiente para conter qualquer plano de esvaziar a Laja-Jato.
Sim, o fortalecimento da ministra é o aspecto mais positivo de todo esse processo pós-Teori.
Mas ela enfrenta circunstâncias adversas. Depois do enterro de Teori, por exemplo, noticiou-se que Carmen Lúcia, na condição de presidente do STF, poderia, em caráter emergencial, homologar as delações dos executivos da Odebrecht, como se esperava que o relator fizesse neste início de ano.
Ergueram-se as reações imediatamente, primeiro veladas, depois personificadas no ministro Marco Aurélio Mello, que advertiu para o risco: uma decisão emergencial poderia dar margem a questionamentos que prejudicariam o processo. Não se falou mais no assunto.
OBSERVAÇÃO: A ministra Carmen Lúcia acabou homologando as delações dos diretores da Odebrecht nesta segunda-feira, 30 de janeiro. Mas, detalhe crucial, manteve o sigilo sobre os depoimentos.

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