Navegar é possível

Embora tenha o próprio nome ligado à abundância de águas que tem, o Rio Grande do Sul invariavelmente evoca uma imagem terrestre, que se confunde com a vida no campo, no manejo do gado, a tropa, a carreta, o Pampa onde nasceu o mito do campeador. É comum ouvir-se, sem ressalvas, dizer que o Rio Grande do Sul foi conquistado “a pata de cavalo”.
É tão comum que soa estranho dizer que foram as águas que determinaram, desde o início, o rumo e o ritmo da conquista e da ocupação do território.
Foi a costa inacessível que retardou por dois séculos a ocupação portuguesa. Em 662 quilômetros de costa, só há três “entradas”: o rio Mampituba e o Tramandaí, onde só podem entrar pequenas embarcações, e o sangradouro que liga a Lagoa dos Patos ao Atlântico, no local onde hoje está o porto de Rio Grande. Só quando foi vencida a barra em Rio Grande, a povoação se propagou, seguindo o curso d’água e se fixando junto aos portos naturais. O caminho das águas foi fundamental em todos os ciclos econômicos, desde o início da formação do Estado.
Nas últimas décadas, as vias navegáveis foram substituídas pelo asfalto. Os caminhões e ônibus passaram a ser preferidos na movimentação de cargas e pessoas. Embarcações como os trens quase sumiram da paisagem. Foi um ciclo.
No presente, a rede fluvial e lacustre volta a ganhar atenção, por conta de grandes projetos em andamento, envolvendo bilhões de dólares. São milhões de toneladas, desde a matéria-prima para as indústrias até o produto final para exportação, que precisam ser transportadas.
A decisão do governo federal de apostar no porto de Rio Grande como uma porta para a Ásia completa o quadro. Há portanto um renascer da navegação no Estado. Neste livro queremos demonstrar que isso é tão possível quanto necessário.
Texto de introdução do livro Navegando Pelo Rio Grande

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