O regime dos caciques

O voto em lista não tem pai nem mãe. Mas a criatura virá para o centro do palco e pode arrebatar a cena. Financiamento público de campanha puro é sinônimo de voto em lista partidária.
A luta pelo voto sai das ruas e vai para as convenções partidárias.
Lista é o modelo europeu e que funciona na maior parte das chamadas democracias avançadas da Europa e Ásia. Monarquias ou repúblicas. Socialistas ou neoliberais.
É o regime dos caciques, banindo dos plenários os comunicadores, bigbrothers, atletas e palhaços profissionais. Salvo alguns tropeços para confirmar a exceção da regra, como a estrela pornô Cicciolina, na Itália.
No escurinho dos conluios começa a briga de foice pelo lugar na lista. Normalmente o líder (como se diz na Europa) entra em primeiro. Mas isto no parlamentarismo. Aqui deve ser diferente.
Vão se esmurrar caciques, corporações, minorias, religiosos, puxadores de voto leigos ou ateus e assim por diante. E os majoritários, presidente e vice, governadores, senadores?
O objetivo imediato é tirar o “centrão” do jogo, em nome da governabilidade. Haveria um objetivo secundário que seria dar chapa a políticos acusados de corrupção. Pode ser que se crie também uma cota para indiciados.
O fundamental é que com a proibição de uso de dinheiro próprio ou de terceiros por candidatos individuais, não haverá forma de ratear os recursos do Fundo Partidário. Terá de ser tudo canalizado para as listas.
Mesmo as contribuições legais, individuais de pessoas físicas controladas pelo CPF do doador, não podem ser usadas por candidatos individuais. Entra no caixa do partido e vai para o rateio.
Este é o problema. Ninguém quer falar disso, mas todos sabem que no fim do túnel a chamada “classe política” vai se justificar com a necessidade inexorável de entregar aos partidos a administração dos recursos.
Então a lista é a única forma de fazer uma eleição igualitária, dirão.
Porque isto? A Justiça Eleitoral, apoiada nas polícias, vai vigiar e controlar todos os gastos legais e descobrir os ilegais. Ninguém terá coragem de burlar a Lei, pois a mão da moça de olhos vendados será pesada.
Contra a força não há resistência, dizia-se no Rio Grande nos tempos das revoluções. O ditado político volta a assombrar partidos e candidatos, só que desta vez são os grampos da Polícia Federal e não mais os mosquetões do Provisórioss do Dr. Borges de Medeiros.
A percepção dos profissionais do ramo (dirigentes, burocratas de partidos e marqueteiros eleitorais) é que não vai dar para gastar nem um centavo por baixo do pano nem falar bobagem ao telefone.
Também não vai ser possível fazer encontros fortuitos, nem receber pacotes suspeitos, nem pagar contas em dinheiro.
Cuidado com o que os dedos teclam nos e-mails, tweeter, face book, redes sociais.
Também estão expostas aos hackers as movimentações financeiras. Cuidados com palavras ditas ao vento: quem estiver militando em campanhas deve falar sempre com a mão na boca.
Quem estiver metido em política que ande sempre com as mãos à mostra, os bolsos para fora das calças, tudo bem à mostra porque não há como escapar da vigilância fina. Qualquer passo em falso pode gerar uma impugnação.
Tudo em nome do aperfeiçoamento da democracia, da verdade eleitoral e da lisura do pleito. Dinheiro só do Fundo Partidário. Financiamento púbico de campanha. Sair desses limites é um risco para lá de arriscado.
É inesgotável estoque de grampos, infinito o número de câmaras e microfones. A parafernália eletrônica aposentou os antigos “ratões” dos tempos da ditadura. É de fazer inveja aos abelhudos do SNI dos tempos do Presidente Médici.
A jovem democracia brasileira parece que levou a extremos inimagináveis o velho lema da antiga UDN: “O preço da Liberdade é a Eterna Vigilância”. Bota vigilância nisto.
Sonho de uma noite de verão? Quem viver verá, dizia o velho Acácio.

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