JOSÉ ANTONIO SEVERO/Por baixo do pano

José Antonio Severo
Havia na Campanha um ditado infantil: atirou no galo, acertou na galinha.
É o que parecem duas medidas altamente polemicas do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Apresenta-se uma coisa, mas o objetivo é outra coisa, ou seja, atender às demandas de parcelas expressivas de sua clientela. As eleições municipais, base de lançamento para a reeleição, estão aí à frente. Falta menos de um ano.
As tais medidas eleitoreiras não podem ser explicitadas como tal, pois são inconstitucionais. As duas visam atender a fatias do púbico bolsonarista, evangélicos e juventude, mas atingem direitos de outrem.
Para atender à mocidade, o governo emitiu a Medida Provisória 905/19, com o denominado Contrato de Trabalho Verde Amarelo, dando incentivos fiscais para empresas que oferecerem o primeiro emprego para jovens entre 18 e 29 anos. Esse grupo, que votou em massa no PSL.
A justificativa para a exceção é inconstitucional, pois excluí da MP pessoas de 30 anos ou mais que estejam desempregadas.
Embora a fração dos jovens dessa faixa etária que apresente maior percentual de desempregados, 27%, o dobro da taxa oficial geral de desemprego do IBGE, a legislação não permite a discriminação.
Se não cair nas votações do Congresso, a carteira verde amarela pode ser inviabilizada na Justiça.
Entretanto, não é a questão dos direitos individuais que move a Oposição para atacar o projeto, mas seu feito eleitoral, atendendo à reivindicação desse segmento majoritariamente governista. Coisas da política.
O mesmo ocorre com a campanha contra as politicas racialistas de proteção aos afrodescendentes.
A justificava foi que a esquerda se apoderou dos movimentos negros e que enfrentar o racialíssimo é uma ação de neutralização ideológica do PT, nos discursos “combate ao comunismo”, um bordão usado para enfraquecer a frente liberada pelo Partido dos Trabalhadores, onde se entrincheiram os arqui-adversários do presidente da República.
Conflito religioso no radar. Um subproduto das mudanças anunciadas nas áreas de políticas identitárias na administração púbica, iniciada com a mudança de comando da Fundação Palmares, poderá acirrar as relações habitualmente tensas e, às vezes, violentas entre evangélicos e religiões de matriz africana.
O novo presidente da Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, é adversário aberto dos movimentos identitários negros que são reconhecidos no Brasil.
A reversão da mobilização dos chamados negros vai dar o que falar.
Começa com a troca de orientação na Fundação Palmares, entidade mater da recuperação da identidade africana na formação do Brasil. Depois, outras partes desse movimento devem ser atacadas pela ala ideológica do novo governo, retirando reconhecimento e apoios oficiais, corte de verbas e algumas regalias.
Esta é a perspectiva neste momento.
Neste segmento da rivalidade religiosa entre evangélicos e seitas afro-culturalistas, as disputas não se restringem ao território brasileiro.
As religiões brasileiras de orientação pentecostal com sede no Brasil vêm liderando uma forte expansão na África como um todo, onde enfrentam a hostilidade das seitas muçulmanas.
As ditas religiões de inspiração animistas, como candomblé o vudu, nos países africanos estão desaparecidas, figurando apenas como identidade folclórica. Além mar dividem-se em islamitas e cristãos. Esta disputa pelas almas é aqui.
Entretanto, embora o movimento negro tenha se apropriado das religiões de matriz africana, é sabido que a população dita branca participa em massa dessas seitas.
No Brasil, todo o mundo (branco, pardo, preto e amarelo) é macumbeiro.
A primeira reação já foi vigorosa em todos os meios, da mídia às instituições ligadas à cultura, História e todos os influenciadores da opinião pública. No entanto, isto parece apenas reforçar o ânimo dos conservadores, como demonstram outras ações nesse sentido, como nos embates com ambientalistas, indigenistas e na orientação da política cultural.
Por outro lado, os conservadores dizem não temer reações efetivas, pois avaliam que os movimentos identitários não detêm a força política que se lhes atribui.
Não obstante as estatísticas apresentarem números expressivos, até majoritários, os situacionistas dizem que os movimentos racialistas não têm a expressão política relevante nas bancadas de parlamentos, ao contrário das corporações, religiões e outros estamentos, suas representações especificas são praticamente nulas nas câmaras e assembleias. Muito barulho, que não será do couro dos tambores.

2 comentários em “JOSÉ ANTONIO SEVERO/Por baixo do pano”

  1. O problema da Brasil é que o bom-humor foi para Cacuia (lugarejo ermo nas proximidades do Rio de Janeiro, hoje controlado pelo CV). Para entender:” todo o mundo” é uma expressão idiomática que se usou no passado, quando no Brasil se davam gargalhas. Certamente não inclui o leitor Mauro..

Deixe um comentário