Renascer das cinzas

 
Pinheiro do Vale
Rei morto, rei posto, é o ditado.
Isto para dizer que os elementos mais pragmáticos do núcleo duro do Palácio do Planalto, os fiéis soldados da presidente Dilma Rousseff, os que não abandonarão a trincheira, resistindo até a última gota de sangue, já estão traçando cenários para estudar as variadas possibilidades dos fatos novos que podem se produzir a partir desse domingo, 17 de abril.
Há planos para todo o tipo de futuro. Um dos mais interessantes é que sendo cassada num processo nitidamente viciado, internacionalmente reconhecido como fraudulento e conduzido por um conluio de políticos suspeitos, para dizer o mínimo de seus algozes, Dilma surpreendentemente para muitos pode ressurgir como uma grande liderança popular.
É por isto que estes cenaristas estão estudando, com seus juristas, as várias hipóteses de afastamento da presidente relativamente a seus direitos políticos.
Neste caso ela não poderia  ser punida com a cassação de oito anos previstos para políticos depostos em crimes de responsabilidade.
A reportagem do New York Times é uma pista a ser seguida: a matéria acendeu os holofotes do sistema de internacional de apoio a movimentos sociais brasileiros ou estrangeiros sustentados por essas grandes organizações humanitárias que tanta ajuda deram às esquerdas brasileiras no passado.
Deposta, Dilma pode se converter numa estrela da esquerda internacional. O problema é que este desdobramento não lhe interessa muito, neste momento.
É isto que explica sua frase até hoje incompreendida: “Se cair serei uma carta fora do baralho”. Ou seja: “já fiz minha parte, agora me deixem envelhecer em paz”.
Dilma não terá esse descanso. O quadro político é muito favorável a ela nas duas hipóteses. A mais obvia é vencer o processo político ou derrubar o impeachment na Justiça e continuar presidente.
Não é só disto que se fala nos bastidores. Também da outra possibilidade, qual seja: relançado o processo eleitoral, caso por algum motivo pessoal (desencanto), familiar (pressão de mulher e filhos), de saúde, ou legais, Lula desista de 2018.
Neste caso, uma vez mais Dilma será o melhor nome e mais evidente expressão da esquerda para enfrentar o quadro fragmentado que se espera para o próximo pleito nacional.
Rápida análise da imagem que projeta seu desempenho nos últimos meses: mulher honesta, pessoa de reputação pessoal irretocável, lutadora, enérgica e, principalmente (para efeito de marketing eleitoral), vítima de uma conspiração.
Como isto chega no “povão”, no lado positivo: ela bradou que está sendo vítima de um “golpe”, expressão de fácil compreensão, associada à desonestidade.
No jargão popular golpe está, no mínimo, ligado à esperteza negativa. Golpe do vigário, golpe do baú… Mesmo golpe de sorte é suspeito, pois vem mais do acaso que do esforço.
Assim, golpe político é um bom slogan facilmente compreensível para tipificar uma violência, um roubo.
Se cair Dilma terá sido abatida por uma crise incontornável. É verdade que sua derrocada se daria numa baixa de popularidade. Entretanto, assim como ela não pode vencer a própria esquerda e implementar seu programa econômico, também a direita estará de mãos atadas para levantar os recursos necessários para ajustar as contas do Estado.
Sem um choque fiscal não há como regularizar o caixa da União. Não se esqueça de que tucanos e a FIESP fizeram do pato amarelo do imposto seu símbolo de luta. Seus algozes serão assombrados pela mesma maldição.
Em dois anos a crise pode relançar a esquerda e, também, o próprio PT, hoje estigmatizado. O Lavajato se conclui em dezembro, soltando o pé do partido das garras da mídia conservadora.
Se conseguir os meios para manter acesos os movimentos sociais, as ruas não darão trégua à direita, mantendo a pecha de golpismo carimbado na testa dos novos governantes.
É claro que, limpidamente, o candidato é Lula. Mas ele tem tantas barreiras que, como em2008, acossado pela maldição da sucessão em seu gabinete, escolheu um nome improvável, Dilma Rousseff, pode voltar à mesma solução.
Dilma não é maquiavélica. Pelo contrário, é uma pessoa de mente limpa. Entretanto, nos corredores do Palácio fervilham ideias e hipóteses. Em primeiro lugar é preciso contornar a inelegibilidade, não deixando o caldo entornar.
Em segundo articular uma resistência heroica e  produtiva.
Em terceiro, manter-se na mídia, nacional e internacional, atraindo simpatias.
Em tal hipótese, Michel Temer é um sucessor sob medida: impopular, não controla seu partido e, mais ainda, terá de administrar um fracasso anunciado, por mais técnicas que sejam as medidas que seu governo tomar. Com a reeleição em vigor, ele viverá às portas do inferno, no mesmo barco dos demais candidatos.
Dilma poderá ressurgir triunfante das cinzas. Preste-se atenção aos próximos passos, pois ela poderá pular não fora do baralho, como gostaria. O importante é preservar seus direitos políticos. Dilma 2018, quem diria?
 
 

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