Higino Barros
A terceira exposição a ocupar a Galeria Escadaria, no alto do viaduto Otávio Rocha, Centro Histórico de Porto Alegre, traz um tema que está na ordem do dia no Brasil e no mundo todo A proteção ao meio ambiente. Chama-se “Pantanal, a beleza ameaçada”. E não traz imagens da devastação realizada na região, ao longo dos tempos. E sim fotos da natureza, os animais e a paisagem exuberante que caracteriza o Pantanal.
É um olhar duplo, dos fotógrafos Daisson Flach e Douglas Fischer. No texto de apresentação da exposição, eles explicam a motivação do trabalho, cujo valores das vendas de fotos serão integralmente repassados a instituição Banco de Alimentos.
O curador da mostra, fotógrafo Marcos Monteiro e responsável pela Galeria da Escadaria, respondeu às perguntas enviadas por email pelo JÁ Porto Alegre.
PERGUNTA: Como defines a próxima exposição da Escadaria?
RESPOSTA: A Exposição Pantanal vem sendo planejada desde janeiro juntamente com o Douglas e o Daisson. As imagens retratam de forma brilhante esse mundo pouco conhecido que é o pantanal brasileiro .
PERGUNTA: Como tu conheceu o trabalho dos fotógrafos.RESPOSTA:
RESPOSTA: O Douglas Fischer é um amigo que conheço e admiro há alguns anos e o Daisson Flack me foi apresentado em janeiro e seu trabalho me impactou pela excelente qualidade artística.
A exposição, nas palavras dos seus autores:
Pantanal, a beleza ameaçada
“A exposição “Pantanal, a beleza ameaçada” nasce de uma grande e
longa e amizade, construída a partir de muitas afinidades, entre elas a
fotografia. Em 2018, decidimos que era o momento de realizar uma viagem com o objetivo específico de fotografar vida natural. O destino escolhido foi o Pantanal mato-grossense, maior planície alagável do mundo, com uma biodiversidade riquíssima, que se espalha pelos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, adentrando também território paraguaio e boliviano.
A primeira expedição, em 2018, levou-nos ao Parque Estadual do
Encontro das Águas, em Porto Jofre, ponto final da Transpantaneira, estrada- parque que inicia em Poconé, no Mato Grosso. Logo ao cruzar o portal da Transpantaneira, um grande e preguiçoso jacaré e um sobrevoo de araras azuis anunciou a força e a diversidade daquele maravilhoso, raro e frágil bioma brasileiro
Em uma curta expedição de quatro dias, fizemos cerca de doze
avistamentos de onças em ambiente natural. Deslizando de voadeira pelas
águas do rio Piquiri e seus corixos, encontramos vida, vida e mais vida, com
seus contrastes, seus tantos cantos e sons. Tudo ali, simplesmente existindo diante de fotógrafos extasiados. Não há como falar do Pantanal sem hipérboles, sem os clichês que acompanham o vislumbre de uma beleza que parece tão irreal, onírica.
Voltando para casa, com milhares de imagens feitas e outras milhares
na memória, tínhamos a certeza de que fora apenas a primeira visita nossa. E foi. No setembro seguinte, partimos para a nossa segunda incursão pelo pantanal. Entramos pelo Mato Grasso do Sul, explorando a região do Pantanal de Corumbá, mais especificamente as regiões do Passo do Lontra e Nhecolândia, andando pela Estrada-parque do Pantanal, na área banhada por águas do Rio Miranda.
Dessa vez, fomos recebidos na entrada da estrada por um sobrevoo de
colhereiros, com seus inconfundíveis bicos e plumagem rósea.
Toda a beleza e a potência da natureza pantaneira estava novamente lá,
mas havia um outro componente, tangível, perigoso, desolador: a fumaça
nublava o céu pantaneiro, o azul se diluía em cinzas. Na estrada, podíamos ver as queimadas nas fazendas, gaviões e aves de rapina em grande atividade, um estranho halo em torno do sol. Mais de uma vez a fumaça envolveu toda a paisagem. À noite, o noticiário trazia tristes notícias do fogo que vinha queimando extensas áreas, inclusive no parque que visitáramos um ano antes.
O fogo quando chega, queima tudo: a onça, o cervo, o gavião, a garça-moura, o macaco, o lobito, o tuiuiú, o cardeal, a capivara, a sucuri, o pato, a
biguatinhga, o tamanduá. A beleza tenta fugir e, aprisionada, sucumbe. Os que escapam, começam de novo, esperançosos na chuva que há de encher o Pantanal novamente e trazer esperança para tudo o que vem. Como milagre, a beleza rebrota, resiliente, o ar vai ganhando cores, mas as cicatrizes ficam. Essa exposição, realiza o sonho de soltar os bichos na urbe, ocupar a cidade com a beleza ameaçada, trazer aos olhos o que lá existe e precisa de cuidado. É o vislumbre de um Brasil de antes do Brasil, uma conexão íntima com a natureza pujante que persiste e grita.
Com a sensível curadoria de Marcos Monteiro, a exposição é aberta,
gratuita, democrática, livre e solidária. No coração de Porto Alegre, em um dos mais icônicos espaços públicos, o viaduto da Otávio Rocha, um convite ao olhar à sensibilidade e à urgente reflexão sobre o futuro dos biomas brasileiros e sobre a responsabilidade que temos em sua preservação.
“Pantanal, beleza ameaçada” é uma declaração de amor e um
manifesto.”
Daisson Flach e Douglas Fischer
Quem são:
Daisson Flach: Advogado, professor universitário, tem como temas
fotográficos prediletos natureza e música. Realiza sua exposição de estreia
Douglas Fischer, procurador regional da República, professor e fotógrafo, com ênfase em natureza e urbano.