Pandemia é tema de canção nos dez anos de parceria entre Raul Elwangger e Daniel Wolff

Higino Barros

Há 40 anos, Raul Elwangger faz parte da geração de músicos que vem compondo a trilha sonora urbana e rural gaúcha. Desde “Pealo de Sangue” gravada por interpretes do quilate de Mercedes Sosa, Raul disse a que veio. Já Daniel Wolff, mais novo, integra o que há de melhor na tradição do violão brasileiro, que mistura popular com considerável conhecimento erudito,  Pois os dois se juntaram agora, em tempos de pandemia, e lançam o álbum “Na Rua da Margem”  que celebra dez anos de parceria da dupla.

O trabalho intercala canções inéditas com releituras de sucessos anteriores em arranjos focados principalmente no instrumento de ambos: o violão e tem participação especial de Fernanda Krüger. O álbum conta também com diversos convidados , como Ayres Potthoff, Nelson Coelho de Castro, Giovanni Berti, Cristina Capparelli, Rodrigo Alquati, Veco Marques, Elieser Fernandes e Viktoria Tatour. As músicas são todas de autoria de Daniel e/ou Raul, incluindo parcerias com Ferreira Gullar, Pery Souza e Fernanda Krüger.

Nas entrevistas abaixo, com perguntas em comum, os dois músicos falam de “Na Rua da Margem” e de outros temas.

Foto Elenice Zaltron/ Divulgação

ENTREVISTA COM RAUL ELWANGGER

Pergunta: Como se deu o encontro musical de vocês? Em que ano e
circunstâncias?
RE: Foi um caso de interesse reciproco espontâneo. Assisti a alguns
concertos do Daniel, em especial um que teve repertório muito
apreciado por mim (Joaquin Rodrigo com a OSPA) e fomos
travando amizade, até que Daniel me convidou a compor e
cantar em seus discos que tiveram um estilo ligado à musica
popular. A partir disso, confiamos em que poderíamos ter um
álbum realizado a 4 mãos, e criamos Na Rua da Margem, ao qual
somamos Fernanda Kruger.

Pergunta: O que há em comum (e diferente) no trabalho de vocês?
RE: A música erudita, sua criação, execução e docência, é a praia
artística do Daniel. No meu caso, é a música popular, com a
esperança de criar uma MPB com personalidade própria aqui do
sul. Sendo as praias diferentes, cremos que podem se inter-
estimular, alimentando com riquezas de uma praia as potencialidades da outra, como aliás fizeram Dvorak ou Gnatalli.
Nessa aventura nos jogamos, estamos nesse percurso, para mim
bastante prazenteiro pois fui estudante do Instituto de Belas
Artes quando criança e do Conservat[orio Manuel de Falla em
Buenos Aires quando adulto.

Pergunta: Música em tempos de pandemia. Como tem sido?
RE: Como atividade pública, social, de desfrute, de convívio, tem sido
péssimo, ou nem sequer “tem sido”. Como profissão e fonte de
renda, tem sido um desastre, aumentado pela irresponsabilidade
da maioria dos governantes e uma parcela da população que os
segue. Como compositor, já tenho o hábito do trabalho solitário
e individual, onde a ouriversaria atenta em cada nova criação-
arranjo-poesia, é fonte de riqueza interior e ajuda o decorrer
destes tempos sinistros.

Pergunta: Qual maior prejuízo? A ausência de público, a perda econômica,
e outras?
RE: Vivemos uma grande perda, em todos os sentidos; uma perda
cultural que afeta cada escaninho da vida. Perdemos: VIDA!

Pergunta: Algo mais ?
RE: Tem sido um privilegio trabalhar com a Fernanda e o Daniel.
Espero ter contribuído. Falamos de Porto Alegre, das pestes que
nos assolam, prestamos homenagens, resgatamos e relemos
canções (com Pery Souza e Ferreira Gullar), mesclamos técnicas
eruditas e populares, Daniel com seus solos outorgou um status
qualificado às canções, convocamos músicos populares e
eruditos para tocar. Para mim, que desde os tempos da Frente
Gaúcha da MPB ando em busca de uma música “nossa”, é um
importante novo passo.

Foto; Tiago Becker/ Divulgação

ENTREVISTA COM DANIEL WOLFF

Pergunta: Como se deu o encontro musical de vocês? Em que ano e circunstâncias?
DW: Eu, desde adolescente, já era admirador do trabalho musical do Raul. Em 2008,participei de um arranjo de um show dele com a Orquestra de Câmara da ULBRA. A partir daí, fomos nos aproximando e, em 2010, fizemos uma turnê juntos no Rio Grande do Sul, tocando músicas nossas em arranjos para dois violões (estes arranjos foram agora gravados no
disco Na Rua da Margem). A seguir, fizemos duas canções juntos, uma gravada no meu disco Canção do Porto (2014), outra no álbum Iberoamericano (2018), e o Raul participou dos shows de divulgação de ambos os discos. Eu toquei também em uma canção num disco dele.
Em 2020, decidimos compor novas canções juntos e gravá-las junto com as músicas que já tocávamos antes. O resultado é o disco Na Rua da Margem.

Pergunta: O que há em comum (e diferente) no trabalho de vocês?
DW: Eu tive uma formação formal mais completa (faculdade de música, mestrado, doutorado, pós-doutorado) enquanto o Raul teve um aprendizado mais instintivo. Isto aparece em nossos estilos, que se complementam lindamente. Ambos temos uma preocupação em lapidar bem o trabalho, revisar cada letra, cada nota, cada harmonia, várias vezes.

Pergunta: O que define o trabalho atual. Ele se caracteriza como?
DW: Diferente dos meus discos anteriores, nos quais algumas canções tinham acompanhamento de grupos maiores (banda, orquestra de cordas, big band), este é um disco mais intimista, com arranjos camerísticos, com poucos instrumentos.

Pergunta: Música em tempos de pandemia. Como tem sido?
DW: Em 2020, pela primeira vez em mais de 25 anos, não viajei ao exterior para tocar e dar cursos de música. Foi um ano bem diferente. Mas consegui participar em eventos internacionais por video conferência, o que me permitiu algumas coisas que antes eram impossíveis. Por exemplo, em um dia de julho, dei aula em Nova Iorque pela manhã, participei de uma mesa redonda na Argentina à tarde e toquei um concerto em Nova Iorque à noite.

Pergunta: Qual maior prejuízo? A ausência de público, a perda econômica, e outras?
DW: Certamente, a perda econômica e a ausência de público são os maiores prejuízos. Mas também sinto muita falta do contato pessoal, fazer música junto a outras pessoas. A tecnologia de videoconferência ainda não permite um ensaio de qualidade, em tempo real, feito à distância.

Foto: Elenice Zaltron/ Divulgação

FICHA TÉCNICA

Técnico de som: Tiago Becker

Mixagem: Daniel Wolff e Marcos Abreu

Masterização: Marcos Abreu

Capa: Luiz Jakka

Gravado em outubro e novembro de 2020 no estúdio Soma (Seiva do Peito e Cabana de Santa-fé utilizam material gravado no estúdio Ted áudio em 2013 e 2018, respectivamente).

LINKS PARA OUVIR O DISCO

YOUTUBE

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kc22oguRuWTHq68DWxlQD3NLFmhlLNfzM

SPOTIFY:

https://open.spotify.com/album/5tS1DbMPDmvjD59Lchy7HE?si=lYB1oSFbTSWTBI10pd0Nbw

APPLE MUSIC:

https://music.apple.com/br/album/na-rua-da-margem/1553527852

TRATORE

https://www.tratore.com.br/um_cd.php?id=28947

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