Shakespeare e a resposta ambígua de um enigma, em”Péricles”

 

A coleção de 20 volumes com obras de William Shakespeare apresentada pelo psicanalista, escritor e intelectual Luiz-Olyntho Telles da Silva. Hoje, o quarto volume.

A coleção Shakespeare da Editora Movimento – 4

PÉRICLES

p/William Shakespeare

Tradução interlinear, introdução e notas de Elvio Funck

Porto Alegre, Editora Movimento, 2019, 176p.

Em coedição com EDUNISC, Santa Cruz do Sul, RS.

“Desejoso de casar com a linda filha do Rei Antíoco, o Príncipe Péricles aceita tentar resolver o complicado enigma com o qual Antíoco põe à prova os pretendentes de sua filha. Não obstante a mórbida visão de inúmeras cabeças decepadas, fincadas em estacas, de apaixonados que falharam em achar a resposta do enigma, Péricles lê o enigma, acha a resposta, que envolve o tabu do incesto, e logo se dá conta que enfrenta um drama kafkiano, pois morrerá, quer dê a Antíoco a resposta certa, quer não a dê. Salva-o, em parte, o poder da palavra, que torna sua resposta tão ambígua como o próprio enigma.”

Ato III – Coro [após a cena do casamento]:

 Agora o sono acalmou o alvoroço;

nenhum ruído pela casa senão roncos,

cada vez mais altos por causa da comilança,

nesta solene festa de casamento.

O gato, com olhos que brilham como brasa,

se ajeita junto à toca do ratinho;

os grilos cantam junto à boca do forno,

faceiros por acharem um lugar quentinho.

Himeneu levou a noiva ao leito onde,

perdida sua virgindade,

formou-se um bebê. Atenção, agora

o tempo, que passa tão ligeiro,

preenchei inteligentemente com a imaginação;

o que for mudo no palco, esclareço com minha fala.

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