Brasil é exemplo de crescimento onde o pobre fica mais pobre

A população brasileira desempregada chegou a 14,8 milhões de pessoas no trimestre móvel de março a maio de 2021, aumentando em relação ao trimestre anterior, que foi de 14,4 milhões. Esse número é ressaltado pela mídia corporativa, mas um olhar mais amplo na pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a população fora da força de trabalho chega a 75,8 milhões de pessoas, enquanto a população ocupada, 86,7 milhões.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor Privado – exclusive trabalhadores domésticos –  foi de apenas 29,8 milhões de pessoas. Trabalhadores por conta própria chegam a 24,4 milhões e a taxa de informalidade foi de 40,0% da população ocupada, ou 34,7 milhões de trabalhadores informais.

Os números são muito ruins e deixam claro que a concentração de renda é o ponto fundamental para discutir o Brasil hoje. A mídia corporativa e as entidades empresariais estão festejando a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 5% para 2021. No entanto, a comparação é com os números pífios de 2020, devido a pandemia, com uma economia baseada nas exportações de commodities, especialmente soja. Um crescimento perverso, com a pandemia utilizada para concentrar ainda mais a renda nas mãos de uma minoria.

O PIB do Brasil está estagnado ou em queda nos últimos seis anos. Em 2020, reconhecendo os efeitos adversos da pandemia de Covid-19, o PIB caiu 4,1% frente a 2019, a menor taxa da série histórica, iniciada em 1996. Em 2019, cresceu 1,1%, seguindo a fraca expansão de 1,3% nos dois anos anteriores, conforme dados do IBGE.  Em 2016, houve queda de -3,3%, em relação a 2015, que também teve um decréscimo de -3,5%, na comparação com 2014. Portanto, a crise é anterior a pandemia e, vale ressaltar, posterior aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Segundo o IBGE, entre 2014 e 2019, há uma perda de 4,4% (466,1 mil trabalhadores) no pessoal ocupado em atividades comerciais. Já o número de empresas comerciais caiu 6,9% (106,3 mil empresas) desde 2010. Frente a 2014, a perda foi maior: -11,0% (177,3 mil empresas).

O Fundo Monetário Internacional (FMI), manteve sua previsão de crescimento global de 6% para 2021 no Panorama Econômico Mundial atualizado.  A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, disse que para 2022 a previsão é que o crescimento tenha uma alta de 4,9%. Ela falou com jornalistas na semana passada no lançamento do documento, em Washington.

No entanto, o surgimento de novas variantes do coronavírus coloca o risco de fazer cair a recuperação e de forma acumulada levar à perda de US$ 4,5 trilhões do PIB global até 2025.  A instituição recomenda políticas combinadas e bem dirigidas, ao ressaltar que estas “podem fazer a diferença entre um futuro em que todas as economias experimentarão recuperações duráveis ou que a divergência se intensifique”.  Nesse cenário, “os pobres ficarão mais pobres e a agitação social e as tensões geopolíticas poderiam aumentar”.