Brasil na contramão do mundo civilizado

A China e a Rússia enviaram telegramas para as embaixadas do Brasil denunciando problemas com alimentos brasileiros por falta de controle e pedindo providência ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Moscou reclamou do índice de agrotóxico acima do limite permitido em relação a 300 mil toneladas de soja só em 2020. Os chineses relataram pelo menos seis registros de presença do novo coronavírus em embalagens de carne e de pescado.

Não são só os chineses e russos que reclamam do uso de agrotóxico principalmente na soja plantada no Brasil. Dentro do país, isso também acontece. As perdas milionárias em lavouras gaúchas causadas pela deriva do agrotóxico 2,4-D têm gerado uma crescente discussão sobre o uso do produto. Entre os setores atingidos no Rio Grande do Sul, estão produtores de uva, vinho, pêssego, maçã, mel, azevém, milho, campo nativo e oliva. Eles são unânimes em defender a suspensão imediata do uso do 2,4-D. O governo gaúcho criou uma série de cuidados, mas não proibiu o uso.

Além disso, o Ministério da Agricultura liberou mais 39 agrotóxicos em abril para uso dos agricultores, segundo publicação no Diário Oficial. Até o momento, em 2021, foram registrados 106 agrotóxicos.

Dados do Ministério da Economia apontam que o Brasil importou 335 mil toneladas de agrotóxico em 2019. O número representa recorde em uma marca histórica iniciada em 1997 e crescimento de 18% em relação a 2018. Ao todo, a importação desse tipo de produto aumentou 11 vezes desde 2000.

A indústria de fertilizantes no Brasil cresce, em média, entre 2% e 3% ao ano, mas em 2020, o aumento foi de pelo menos 6%.  Com o salto, conforme números das indústrias de agrotóxicos, é possível que, em 2021, as vendas no país superem, pela primeira vez, a marca de 40 milhões de toneladas.

E não é só a soja que enfrenta problemas no exterior entre os produtos brasileiros. Um novo relatório contra carnes brasileiras foi divulgado este ano na Europa pela ONG Friends of the Earth Europe, que acusa a produção brasileira de ser associada à violação de direitos humanos e ao desmatamento.

No relatório consta que o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e o segundo maior no mercado de carne de frango e que a União Europeia é central na importação de carnes de pelo menos quatro grandes frigoríficos brasileiros. Eles são acusados pela ONG de estarem ligados a desmatamento, perda de biodiversidade, trabalho forçado e violação dos direitos de povos indígenas.

Os números mostram isso. O desmatamento na Amazônia atingiu em março passado o pior índice para o mês nos últimos dez anos, segundo um levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgado nesta segunda-feira.

Foram 810 km² desmatados na Amazônia Legal, área equivalente à cidade de Goiânia. O total da devastação é três vezes maior do que a área desmatada em março de 2020, quando 256 km² foram subtraídos da floresta.