Candidatos não discutiram como transformar Porto Alegre numa cidade inteligente

Não existe futuro para o planejamento das cidades sem uma camada de inteligência e tecnologia. Por isso, em tempos de eleições municipais é importante refletir sobre a entrevista do professor Su Yunsheng, PHD em Urbanismo Contemporâneo, da Universidade Tongji, de Xangai, especialista em super cidades. Ele está participando do planejamento do Plano Diretor de Xangai até 2035 e falou para a série Expresso Futuro, do Canal Futura, temporada feita na China, e apresentada por Ronaldo Lemos, professor, pesquisador, especialista em temas como tecnologia.

Segundo Su Yunsheng, o planejamento urbano tradicional costuma focar no espaço físico e como podemos desenvolvê-lo. Para o novo Plano Diretor de Xangai até 2035 os planejadores estão mais focados na população. “A China é muito boa na infraestrutura off-line. Por exemplo, na construção rápida de pontes, túneis e infraestrutura como energia, água, tudo isso. É importante como vamos integrar esses ecossistemas sustentáveis com tecnologias inteligentes para construir a próxima geração das cidades. Online e off-line devem estar muito interligadas.”

Para Su Yunsheng, integração é a palavra. “Quando falamos do futuro, por exemplo, de veículos autônomos, precisamos de sistemas rodoviários integrados com a rede 5G e um carro que possa se conectar à rede. Também podemos imaginar um futuro com menos carros nas estradas e, consequentemente, menos trânsito. A população terá mais conveniência, mais tempo de lazer com a família. Isso são coisas que a tecnologia pode ajudar no futuro.”

Ele entende que uma cidade inteligente não é apenas tecnologia. “Uma cidade inteligente precisa também conectar as pessoas. Qualquer dispositivo inteligente tem uma CPU, mas nós temos também nossos cérebros. Se conectar nossos cérebros às CPUs em uma nuvem, sim, teremos cidades inteligentes. A chave é conectar as CPUs aos dispositivos, aos edifícios, aos usuários. Tudo junto. Esse é o caminho para as cidades inteligentes.”

Muito se fala em tecnologia e câmeras, conforme Su Yunsheng. “No entanto, o segredo são as pessoas. Como conectar as pessoas, como fazer todos pensarem juntos e aproveitar a sabedoria coletiva. Para mim, isso é como uma cidade inteligente deveria ser. Precisamos tornar as cidades mais inteligentes, mãos conectadas e convenientes. Para seguir em frente é preciso primeiro ter um bom plano. Assim, cada um saberá o seu papel e trabalhará para um objetivo comum. Só assim podemos despertar o poder das cidades.”

Xangai mudou muito nos últimos 30 anos. Pudong era uma área de cultivo de arroz até 1990, quando o governo chinês decidiu implantar uma Zona Econômica Especial no distrito. A parte ocidental do distrito de Pudong foi planejada para ser o novo centro financeiro da China moderna chamada Lujiazui Finance and Trade Zone. Quando o professor Yunsheng chegou para estudar na Universidade Tongji, em 1993, a área de Pudong era completamente plana. As torres foram construídas nos anos 1990.

Já em Porto Alegre….

Enquanto os chineses discutem o Plano Diretor para 2035, em Porto Alegre o tema passou praticamente ao largo dos debates dos candidatos à prefeitura. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre (PDDUA), instituído em 1999, deve ser debatido pela comunidade e revisto pelo município a cada 10 anos para atender as novas necessidades, conforme o Estatuto das Cidades.

Por isso, durante o mandado do Nelson Marchezan Júnior (PSDB) – 2017/2020 – deveria ter acontecido uma série de reuniões na comunidade, com o envio de um texto para aprovação da Câmara de Vereadores até o final de 2019.

Em agosto de 2019, Marchezan preferiu assinar  um memorando de entendimento com a ONU-Habitat, braço da Organização das Nações Unidas que atua com assentamentos humanos. Uma consultoria técnica para auxiliar no processo.

Já a tentativa de transformar Porto Alegre numa smart city (cidade inteligente), é também constrangedora. Em julho de 2015, ainda na administração de José Fortunati e seu vice Sebastião Melo, foi dada a largada para o projeto de revitalização do 4ª Distrito de Porto Alegre.

Em 2018, transformar Porto Alegre em uma smart city continuava como tema de um workshop promovido pela Aliança pela Inovação no Tecnopuc. A iniciativa das universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Unisinos contou com a presença do prefeito Nelson Marchezan Júnior, que provocou os participantes a construir essa nova realidade de forma coletiva. O ano  de 2020 está acabando e a cidade inteligente ainda não saiu do papel.

Porto Alegre já foi uma referência brasileira em termos de harmonia de seu desenvolvimento, articulando de maneira permanente os interesses da cidadania, do meio ambiente e do crescimento urbano sustentável. Em 1914 criou um Plano de Melhoramentos. A primeira legislação data de 1959, com o Plano Diretor da Cidade. Posteriormente, foram promulgados, em 1979, o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento. Tudo isso, no século passado.