Chegamos a 75 milhões de pessoas fora da força de trabalho

A população fora da força de trabalho chega a 75 milhões de pessoas, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) do trimestre encerrado em maio passado, divulgada nesta terça-feira (30/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um incremento de 9 milhões de pessoas (13,7%), quando comparada com o trimestre anterior.

São números alarmantes porque mostram que 2020 está sendo um ano perdido para uma economia que já cambaleava antes, com o Produto Interno Bruto (PIB) estagnado ou em queda nos últimos cinco anos. Em 2019, cresceu 1,1%, seguindo fraca expansão de 1,3% nos dois anos anteriores, conforme dados do IBGE.  Em 2015, a sua queda, em volume, foi de -3,5%, na comparação com 2014. Em 2016, outra queda em relação a 2015, de -3,3%.

Em um cenário desses é natural que a população desalentada – que desistiu de procurar trabalho – chegue a 5,4 milhões, um recorde na série, aumentando 15,3% frente ao trimestre anterior.  A população ocupada ficou em 85,9 milhões, queda de 8,3% (7,8 milhões de pessoas a menos, sendo 5,8 milhões informais), e de 7,5% (7 milhões de pessoas a menos) em relação ao mesmo trimestre de 2019. Ambas as quedas foram recordes da série histórica. Pela 1ª vez, menos da metade da população em idade de trabalhar está ocupada.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) caiu para 31,1 milhões, menor nível da série, sendo 7,5% abaixo (-2,5 milhões de pessoas) do trimestre anterior e 6,4% abaixo (-2,1 milhões de pessoas a menos) do mesmo período de 2019.

Portanto, a população desocupada de 12,7 milhões de pessoas é apenas um dos números ruins e não mostra o real tamanho da desgraça, levando em conta o aumento de 3% (368 mil pessoas a mais) frente ao trimestre móvel anterior (12,3 milhões de pessoas).

Perda de empregos no mundo

O número de horas de trabalho perdidas em todo o mundo no primeiro semestre de 2020 foi significativamente maior do que o estimado anteriormente. A recuperação altamente incerta na segunda metade do ano não será suficiente para retornar aos níveis pré-pandemia, mesmo no melhor cenário, e há o risco de uma perda constante de empregos em larga escala, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com a quinta edição do “Monitor OIT: COVID-19 e o mundo do trabalho”, globalmente, houve uma queda de 14% nas horas de trabalho no segundo trimestre de 2020, o que equivale à perda de 400 milhões de empregos em período integral (considerando-se uma jornada semanal de trabalho de 48 horas). Trata-se de um aumento acentuado com relação à estimativa anterior de uma queda de 10,7% (305 milhões de empregos), publicada na edição do Monitor divulgada em 27 de maio.

Pagamento emergencial

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de muita discussão dentro do governo se acabava ou reduzia os 600 reais nos próximos meses, confirmou que vai prorrogar o pagamento do auxílio emergencial aos trabalhadores prejudicados pela pandemia do novo coronavírus. Guedes participou, nesta terça-feira, de reunião virtual com a comissão mista do Congresso que acompanha as ações de combate às crises sanitária e econômica.

O ministro, que usa expressões como colocar uma granada no bolso do trabalhador – lembrando o personagem do humorista já falecido Chico Anísio, o deputado Justo Veríssimo, que dizia: “Eu quero é que o pobre se exploda, odeio pobre” – afirmou, ainda, que ao pagar o auxílio emergencial, o governo “descobriu” a existência de 38 milhões de brasileiros invisíveis, sem nenhum tipo de documentação. Parte deles são trabalhadores informais, para os quais será lançado um novo programa de auxílio após a pandemia. Esses “invisíveis” estão perambulando em frangalhos há muito tempo pelas calçadas, becos, e vielas de nossas cidades, só não vê quem não quer.

Para não fugir de sua obsessão, Guedes voltou ao tema das privatizações nos setores elétrico, de cabotagem, gás natural e petróleo: “Quatro ou cinco grandes frentes de investimentos para destravarmos juridicamente. Por isso, podemos surpreender o mundo quando voltarmos de modo seguro ao trabalho.” Na sua agenda de curto prazo está o destravamento do investimento externo.

Ao contrário da agenda de Guedes, os governos dos países desenvolvidos há meses responderam a brutal crise econômica causada pela pandemia por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionista, sem se preocupar com o déficit público, para evitar que seus países caíssem num buraco sem fundo. Já o ministro insiste na defesa de um liberalismo anacrônico de Chicago dos anos 1960. Depois da crise de 2008, a expansão monetária promovida por todos os bancos centrais dos países desenvolvidos, desmoralizaram completamente a teoria liberal e suas privatizações.