Jardim Botânico de Porto Alegre abriga 97 espécies ameaçadas

Andréia está preocupada com o futuro das coleções. Foto: Fernando Vargas

Cleber Dioni Tentardini
Há 97 espécies ameaçadas de extinção nas coleções de plantas reunidas no Jardim Botânico de Porto Alegre.
São bromélias, cactos, orquídeas, espinilhos, araucárias e outras, que não possuem nome popular como Amaryllidaceae (da família do amarílis), Iridaceae (família da bibi), Myrtaceae ( família da goiabeira, araçá e pitanga), Fabaceae (família do pau-brasil, feijão e erytrina-do-banhado) e Pteridófitas (várias famílias de diversos tipos de samambaias).
Dentre as espécies raras, estão preservadas lá o butiá da serra e o pinheiro bravo. Entre as herbáceas há o raríssimo bolão-de-ouro, encontrado somente entre os municípios de Porto Alegre e Pelotas, e a efedra, endêmica no Estado do Rio Grande do Sul, da região da Lagoa dos Patos.
Segundo a bióloga Andréia Carneiro, curadora das coleções do Jardim Botânico de Porto Alegre, a preocupação maior é com a conservação da biodiversidade do Rio Grande do Sul, especialmente espécies endêmicas (que só se encontram no Estado).
“Nós temos essa responsabilidade, de cuidar, pesquisar e disponibilizar para que outros possam estudar. Há um aluno de doutorado da Faculdade de Farmácia da UFRGS, por exemplo, que vem aqui estudar uma espécie rara de cocão, endêmica do RS, do mesmo gênero da planta de onde se extrai a coca. Assim como ele, recebemos vários pesquisadores e estudantes que não precisam procurar as espécies a campo, estão aqui, todas identificadas”, explica Andréia.

Cocão, espécie criticamente ameaçada
Espécie rara de cocão, endêmica do RS/Cleber Dioni
Ripsalis paradoxa, criticamente ameaçada/Cleber Dioni
Ripsalis paradoxa, espécie de cacto, criticamente ameaçada/Cleber Dioni

A bióloga ressalta que o Brasil tem metas a cumprir, por ser signatário de acordos internacionais, especialmente através da Convenção da Diversidade Biológica (CDB)*, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a ECO 92.
Em 2002 houve a adoção da Estratégia Global para a Conservação de Plantas GSPC – Global Strategy for PlantConservation) na 6ª. reunião da conferência das partes da convenção sobre diversidade biológica em Haia. Foram estabelecidas 16 metas.

Andréia está preocupada com o futuro das coleções/Fernando Vargas
Andréia está preocupada com o futuro das coleções/Fernando Vargas

Uma das metas é que os países disponibilizem 60% das espécies ameaçadas de plantas em coleções ex-situ (fora do seu habitat natural), de preferência no país de origem, e inclusão de 10% delas em programas de recuperação e reintrodução. “E quem faz conservação ex-situ é jardim botânico”, diz a curadora.

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Coleção de bromélias do sul do Brasil/Cleber Dioni

O Brasil possui 31 jardins botânicos: um distrital, dois privados, seis estaduais, oito federais e 13 municipais. Estão nos estados do Rio Grande do Sul (5), Paraná (1), São Paulo (7), Rio de Janeiro (4), Espírito Santo (1), Minas Gerais (3), Goiás (1), Brasília (1), Bahia (1), Pernambuco (1), Paraíba (1), Rio Grande do Norte (1), Ceará (1), Pará (2) e Amazonas (1).
No RS, existem dois JBs municipais, de Caxias do Sul e Lajeado, um privado, da Unisinos, um ligado à Universidade Federal de Santa Maria, e o da FZB, o maior, classificado na categoria A porque atende a todos os critérios do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
A ironia é que é que poucos dias depois de o Jardim Botânico ser elevado à categoria A, em 2015, o governo de José Ivo Sartori apresentou à Assembleia Legislativa o primeiro projeto de Lei (300) que autorizava sua extinção no modelo que é hoje, junto com o Museu de Ciências Naturais e o Zoológico, as três instituições da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
Esse projeto não vingou, mas um ano depois, outro projeto com mesmo objetivo foi apresentado e aprovado pelos deputados gaúchos, no final do ano, em meio a um clima de guerra nos arredores de um Parlamento sitiado. Entrou num pacote junto com outras fundações e instituições.
Com a demissão dos servidores, o Jardim Botânico de Porto Alegre pode se tornar um mero parque, perdendo completamente sua função original, e contrariando o que diz o artigo 255 da Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O inciso II afirma que o poder público deve preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

Pesquisadores de plantas medicinais no Horto do Jardim Botânico / Foto Divulgação FZB
Pesquisadores de plantas medicinais no Horto do Jardim Botânico / Foto Divulgação FZB

*Artigos da Convenção sobre Diversidade Biológica relevantes para os jardins botânicos – Contribuições destas instituições para a sua implementação
Artigo 6: Medidas Gerais para Conservação e Uso Sustentável
Participação na elaboração de estratégias nacionais de biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Artigo 7: Identificação e Monitoramento
Ampla produção científica no campo da sistemática vegetal, inventários florísticos e fitossociológicos, levantamento de populações para estudos genéticos e de ecologia, etc.
Artigo 8: Conservação In situ
Contribuições ao desenvolvimento e manejo e gestão de áreas protegidas, restauração ou recuperação de habitats e desenvolvimentos de pesquisas para recuperação e ou manejo de populações de espécies nativas.

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Coleta de novas espécies a serem adicionadas às coleções/Cleber Dioni

Artigo 9: Conservação Ex situ
Desenvolvimento e manutenção de coleções de germoplasma, incluindo banco de DNA ou sementes, banco de genes em cultivos a campo, coleções de tecidos sob cultura in vitro, programas de recuperação de espécies ao seu habitat natural, desenvolvimento e banco de dados.
Artigo 10: Uso Sustentável dos Componentes da Diversidade Biológica
Identificação e desenvolvimento de espécies de valor econômico e bioprospecção de parentes silvestres de plantas cultivadas na horticultura comercial, nos setores florestal e agrícola.

Espécies de cactos preservadas/Cleber Dioni
Coleção de cactos do Rio Grande do Sul /Cleber Dioni

Artigo 12: Pesquisa e treinamento
Pesquisas em muitas áreas relevantes, tais como taxonomia, ecologia, bioquímica, etnobotânica, educação, horticultura, anatomia vegetal e biogeografia. Muitos jardins botânicos oferecem oportunidades de treinamento e cursos em conservação e disciplinas afins, disponibilizados para estagiários no Brasil e no exterior.
Artigo 13: Educação Pública e Conscientização
A educação do público e o desenvolvimento de uma consciência ambiental incluindo programas para promover o entendimento acerca da biodiversidade, sua importância, e consequências de sua perda, são tarefas prioritárias de diversos jardins botânicos. Muitas dessas instituições desempenham papéis importantes no ensino escolar e universitário.
Artigo 15: Acesso aos Recursos Genéticos e repartição de Benefícios
Os mais de quatro milhões de acessos mantidos nos jardins botânicos, em nível global, representam um vasto recurso para a conservação da biodiversidade armazenada, a ser potencialmente manejada no futuro. Muitos já usufruem de benefícios, com a cobrança de ingresso, apoio à pesquisa e compartilhamento de equipamentos, informações, treinamento e espécimes. Desta, e de muitas outras formas, ajudam a fortalecer as instituições parceiras na conservação da biodiversidade.
Artigo 17: Intercâmbio de Informações
Disseminação de informações acerca das coleções e dos resultados de pesquisas, através de literatura publicada e não-publicada e de bases de dados acessíveis. Muitas instituições podem compartilhar dados sobre coleções através do Formato Internacional de Transferência para Registros de Plantas dos Jardins Botânicos (ITF).
Artigo 18: Cooperação Técnica e Científica
Cooperação técnica e científica, eu frequentemente envolve pesquisas em parceria e intercâmbio de pesquisadores e técnicos.

Todas as espécies estão identificadas no JB de Porto Alegre/Cleber Dioni
Todas as espécies estão identificadas no JB de Porto Alegre/Cleber Dioni

Plano de ação para os jardins botânicos brasileiros
Lançado em 2004, o Plano é um documento desenvolvido pelo Projeto Internacional Investindo na Natureza, financiado pelo banco HSBC com o Botanic Gardens Conservation International – BGCI, Earthwatch e a WWF.
Metas do Plano de ação
– Documentar a coleção nacional de plantas vivas e preservadas dos jardins botânicos;
– Manter coleções de referência taxonômicas e coleções-testemunhos de acessos e táxons provenientes de programas de conservação;
-Listar espécies e populações prioritárias pra programas de conservação;
-Contribuir para o conhecimento do estado de conservação dos ecossistemas brasileiros;
-Compartilhar informações sobre a flora e sua conservação;
-Garantir a proteção das espécies nativas e seus habitats originais;
-Garantir a inclusão de, no mínimo, 50% das plantas nativas criticamente ameaçadas em suas coleções vivas;
-Estabelecer programas integrados por bioma para resgate, manutenção e produção de uso atual e potencial;
-Apoiar a produção sustentável de produtos provenientes de plantas de origem nativa e sua conseqüente inserção no mercado, particularmente com o objetivo de reduzir a fome e pobreza;
-Estabelecer metodologias alternativas para minimizar a pressão danosa sobe o meio ambiente;
-Elaborar e compartilhar base de dados com cadastro de plantas matrizes de espécies de uso atual ou potencial da coleção viva;
-Implementar ações para controlar a introdução de plantas invasoras, pragas e doenças;
-Estruturar e institucionalizar equipes de educação ambiental;
-Educar o público em geral e os profissionais do setor para a conservação da biodiversidade; utilizar técnicas e práticas desenvolvidas no local, resguardando a cultura regional;

Além da pesquisa e conservação, JBs são espaços de conscientização ambiental e lazer/Cleber Dioni
Além da pesquisa e conservação, JBs são espaços de conscientização e lazer/Cleber Dioni

-Garantir que a importância vital dos jardins botânicos para a conservação seja reconhecida pelo público em geral, inclusive o governo, empresas e instituições privadas e comunidades locais;
-Buscar autonomia administrativa e financeira, necessária ao cumprimento de sua missão institucional, em consonância com as normas internacionais;
-Formar equipes de trabalho treinadas e capacitadas
-Subsidiar a elaboração de políticas públicas;
-Estabelecer normas e políticas institucionais;
-Compartilhar o trabalho em rede visando o fortalecimento individual e coletivo dos jardins botânicos brasileiros.
Resta a metade da área original
O Jardim Botânico de Porto Alegre já perdeu mais da metade da sua área original. Eram 81,5 hectares em 1958, quando o JB foi aberto, hoje não passam de 36 hectares. E, com a extinção da Fundação Zoobotânica decidida pelo governo do Estado, o futuro da área é incerto.
A área original incluía uma colônia agrícola e a antiga chácara do Visconde de Pelotas, “compreendendo a elevação de um morrinho granítico a 50 metros sobre o nível do mar, vales de alguns arroios à sua periferia, marginados por várzeas de regular extensão”, na descrição do jesuíta Teodoro Luís, conservacionista espanhol que coordenou a implantação do Jardim Botânico.

Ir. Teodoro no Horto de Pelotas/Divulgação

“O terreno sobre o qual se assenta, diz Teodoro, é parte do complexo cristalino do Escudo Rio-grandense, uma das mais antigas formações da terra, revestida por um manto vegetativo sui-generis, que contém algumas espécies encontradas unicamente aqui.”

Irmão Teodoro Luis , batizado Ramon de PEÑAFORT MALAGARRIGA y HERAS

A implantação de um Jardim Botânico na capital gaúcha foi decidida pelo governador Ildo Meneghetti  e efetivada pelo secretário de Obras, Euclides Triches, que depois foi governador do Estado.
Na comissão figuravam cientistas, médicos, engenheiros, arquitetos e urbanistas, como Edvaldo Pereira Paiva, Alarich Schultz, padre Balduino Rambo, Curt Mentz, F. C. Goelzer, Ruy B. Krug, Guido F. Correa, Nelly Peixoto Martins, Paulo Annes Gonçalves, Deoclécio Bastos, além do senador Mem de Sá e do jornalista Say Marques, um dos idealizadores da Feira do Livro de Porto Alegre.

Foi no período do governo militar que o Jardim Botânico teve suas maiores perdas. Os governadores nomeados doaram partes do terreno do JB a várias instituições: o Clube Farrapos, da Brigada Militar ; o Hospital São Lucas, da PUC; o Círculo Militar, do Exército; a vila Juliano Moreira, a Escola de Educação Física da Ufrgs; e os laboratórios da Fepam, hoje abandonados.

Do alto do Botânico, era possível ver o hospital da PUC

 

Na imagem de satélite, a área original do JB

A ideia de organizar um Jardim Botânico em Porto Alegre era muito antiga.
A primeira iniciativa foi de Dom João VI, o rei português que veio para o Brasil em 1808. Uma de suas primeiras iniciativas foi criar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um dos mais antigos do País.
D.João doou mudas de eucalipto para um futuro JB de Porto Alegre, mas nunca chegaram na capital

D.João doou mudas de eucalipto para um futuro JB de Porto Alegre, mas nunca chegaram na capital

D. João chegou a mandar as primeiras mudas para Porto Alegre. Mas as mudas ficaram retidas em Rio Grande, onde algumas foram plantadas das quais existe um único remanescente, que é o eucalipto histórico da cidade.
Outras tentativas foram feitas, sem sucesso. O agrônomo Paulo Schoenwald chegou a doar terras ao Estado para a criação de um Jardim Botânico.
Na década de 30, o professor e agrônomo Gastão de Almeida Santos chegou a iniciar um Jardim Botânico no bairro da Azenha, mas se tornou inviável devido à pressão da expansão imobiliária.
Só em 1953 ( Lei Nº 2.136), uma área de 81,5 hectares, originalmente ocupada pela Colônia Agrícola Juliano Moreira do Hospital Psiquiátrico São Pedro, foi destinada para a criação do Jardim Botânico de Porto Alegre.

Entrada do JB e, ao fundo, sede da Colônia Agrícola

A comissão apresentou o anteprojeto inicial do Jardim Botânico em 26 de outubro de 1956. Seis meses depois a área foi liberada e, em 10 de setembro de 1958, aberta ao público. Em 1959, a Lei n° 2.022 formalizou a denominação de Jardim Botânico.

Em 1960, foi iniciada a construção da Casa das Suculentas, também conhecida como Cactário, tendo sido inaugurado em 1° de maio de 1962, pelo governador Leonel Brizola.

Cactário/Arquivo JB/FZB

Há uma outra placa que ficou escondida por 40 anos e marca um plantio de mudas no JB, no Dia da Árvore, em 1959, pelo governador Leonel Brizola, acompanhado de seus secretários, Alberto Hoffmann, da Agricultura, e Mário Maestri, de Obras Públicas. E só foi redescoberta porque o funcionário autor da proeza, seu Julião Prado, hoje aposentado, esteve em 2016 no Jardim Botânico e contou que alguns militares haviam ordenado que a placa fosse retirada e quebrada por constar o nome do líder trabalhista. Seu Julião optou por preservar a história e apenas virou a pedra com a inscrição voltada para o chão.

Antigo viveiro/Arquivo JB/FZB
Produção de mudas

A partir da década de 1970, diante de crescentes evidências de ameaças à flora regional, o foco do trabalho do Jardim Botânico passou a ser a conservação das plantas nativas do Estado, enfatizando a manutenção de coleções “ex situ” (fora do ambiente de origem) e incrementando as incursões botânicas.
Nessa época, foi construído um prédio para a TV Educativa do Estado, que não vingou. Em 1972, o imóvel passou a abrigar a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, criada nesse ano através da Lei nº 6.497.
Em 1974, a área do JB estava reduzida a 43 hectares. No ano seguinte, passou a contar com um viveiro de produção de mudas e, em 1983, a ter uma sede administrativa e setor de serviços, abrigados no subsolo da FZB, onde permaneceu até o ano de 1997, quando foi construída a sede própria. Com a criação, em 1986, do Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), o Jardim Botânico foi registrado como órgão voltado para o fomento à cultura.

Placa marca início da FZB no governo do coronel Triches

Em 1988, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (Fapergs), foi inaugurado o Núcleo de Educação Irmão Teodoro Luis. A partir de 1997, o Jardim Botânico teve outro salto de crescimento através do projeto Pró-Guaíba. Foram construídas instalações para o Banco de Sementes e casas de vegetação para abrigar coleções de cactáceas, bromeliáceas e orquidáceas.
Em 2003, o JB foi declarado Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul, pela Lei nº 11.917. Em 2004, foi publicado o Plano Diretor do Jardim Botânico de Porto Alegre.
Atualmente, é considerado como um dos cinco maiores jardins botânicos brasileiros, com um acervo significativo da flora regional. O local abriga mamíferos, répteis, anfíbios e peixes, mais de 100 espécies de aves, além das cerca de 3 mil espécies de plantas.

Além das pesquisas, o JB é referência em conservação e espaço de lazer dos gaúchos/Cleber Dioni

Placa com nome de Brizola ficou 40 anos enterrada
Uma placa alusiva a um plantio de mudas no Jardim Botânico de Porto Alegre ficou 40 enterrada por razões políticas.
A pedra com a placa marcam o Dia da Árvore, em 1959, quando o então governador Leonel Brizola, acompanhado de seus secretários, Alberto Hoffmann, da Agricultura, e Mário Maestri, de Obras Públicas participaram do plantio simbólico de mudas no Jardim Botânico de Porto Alegre.

Militares mandaram destruir placa porque tinha nome do ex-governador/ Cleber Dioni Tentardini

Anos depois, com o golpe militar e Brizola no exílio, os militares que tomaram o poder ordenaram que fosse retirada e quebrada a placa onde estava gravado o nome do líder trabalhista.
Quem salvou a peça foi um funcionário, Julião Mello do Prado, que em vez de arrancar a placa, apenas virou a pedra, deixando a inscrição voltada para chão.
Depois, quando veio a redemocratização, ele mesmo recuperou a placa, mas só contou a história no ano passado, quando já aposentado, visitou o antigo local de trabalho.
“Governadores plantavam mudas aqui”, diz primeiro jardineiro do Botânico

Seu Julião e a placa do Brizola que ele preservou/Cleber Dioni Tentardini

De Ildo Meneghetti a Simon, todos os governadores gaúchos que Julião de Mello Prado conheceu pessoalmente estiveram no Jardim Botânico de Porto Alegre para plantar mudas de árvores nativas. “Eles faziam questão de vir aqui, uns mais que os outros como o Brizola, o Triches, lembro também do Guazelli, do Jair Soares, o Collares”, eu me dava muito bem com eles porque comecei os jardins aqui e no Palácio Piratini”, diz.
Seu Julião é um dos primeiros funcionários do Jardim Botânico. Começou em 1957, há 60 anos, portanto, ao lado do padre Teodoro Luiz, o fundador, quem o convidou para trabalhar como jardineiro. O local ainda não havia sido aberto ao público.

Seu Julião, primeiro agachado (da esq p dir) e colegas (em pé) Anarolino, João, Antônio, Euclides e Mário, Elói e Dário

Acompanhou a criação da Fundação Zoobotânica, e quando achou que seria devolvido à Secretaria de Obras Públicas, onde estava registrado, o primeiro diretor da FZB, o professor gaúcho Albano Backes, o convidou para continuar no JB e com um salário maior.
Neste domingo, 19 de março, foi um dia especial para esse jovem alegretense de 93 anos e memória irretocável. Foi dia de visitar seu antigo local de trabalho e moradia, contar causos, rir, se emocionar, rever árvores que ele plantou há pelo menos 50 anos e visitar a famosa placa que registrou o plantio de mudas 1959 pelo governador Brizola, e que ele não deixou ser quebrada pelos desafetos do líder trabalhista.
A cada dez passos, parava e indagava ao filho Julio: “Essa aqui é aquela figueira que eu plantei?” Sim, pai, há 50 anos. E o angico? E aquelas com frutas? Algumas caíram com o temporal no verão passado. O filho Julio conhece cada palmo do local. Foi morar com o pai lá quando tinha um ano, e trabalha há 40 no JB. É um dos três funcionários mais antigos em atividade por lá.

Orgulhoso defronte à figueira que plantou há 50 anos/Cleber Dioni Tentardini

Um ou dois anos depois da abertura do JB, foram construídas seis casas para servir de moradia aos funcionários. Irmão Teodoro entendeu que assim a área ficaria mais segura, porque era quase tudo campo aberto, sem cercas, e transitavam livremente por lá criadores de animais e os pacientes da colônia agrícola do São Pedro.

Preparação para o plantio /Arquivo JB/FZB

“Eu e mais outros dois que plantamos todas essas árvores mais antigas aqui. O Irmão Teodoro era muito rigoroso com tudo, nada passava sem ele perceber, nem os milhos que eu plantei na frente da minha casa, escondido dele, quer dizer, achava que ele não sabia, mas eu estava enganado”, diz.

Construção do orquidário /Arquivo JB/FZB

JB pode integrar Patrimônio Cultural e Histórico do município
O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) apresentou projeto que propõe o tombamento do imóvel onde está a sede do Jardim Botânico de Porto Alegre. Se aprovado o projeto, o imóvel passará a integrar o Patrimônio Cultural e Histórico do Município de Porto Alegre, ficando vedadas alterações que o modifiquem ou descaracterizem.
O Jardim Botânico é considerado um dos cinco maiores do Brasil, possuindo um acervo significativo da flora regional. Em 2003, tornou-se também patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. “Com a missão de realizar a conservação integrada da flora nativa e dos ecossistemas regionais, tornando-se um centro de referência para a pesquisa, a educação, a cultura e o lazer, contribuindo para a qualidade de vida, o Jardim Botânico possui 8 mil exemplares de 650 espécies da flora nativa do Estado”, afirma o vereador.

Se tombado, JB nao podera ser modificado_foto FZB

Além do manejo, da manutenção e da ampliação das coleções vivas de plantas, o Jardim Botânico realiza pesquisas com plantas ameaçadas de extinção e diversas atividades educativas e culturais. “E um pulmão verde da Capital, um dos locais mais aprazíveis da cidade, notabilizando-se pela guarda de significativas coleções científicas”, completa Sgarbossa.

Um comentário em “Jardim Botânico de Porto Alegre abriga 97 espécies ameaçadas”

  1. O que nós cidadãos podemos fazer p evitar o está acontecendo c o Jardim Botânico e como salvá-lo? E a
    Fundação ? A gente pede s ajuda de quem para evitar a extinção?

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