PSOL realiza convenção virtual com segurança reforçada contra hackers

Live da deputada Fernanda Melchionna foi invadida. Reprodução

Alvo de dois ataques nesta pré-campanha eleitoral, o PSOL faz cálculos para incluir em seu orçamento gastos extras com segurança digital.

Duas lives com sua pré-candidata, Fernanda Melchionna, já foram invadidas por hackers, com ofensas e imagens pornográficas, impedindo a continuidade da sessão.

No dia 21 de agosto, invasores compartilharam imagens de ódio, fizeram ameaças e reproduziram áudios com gritos e xingamentos no início de uma assembleia virtual. Apareceram imagens do presidente Jair Bolsonaro manipulando armas, mensagens de cunho homofóbico e foi reproduzida uma música referindo-se à esquerda com termos pejorativos, além de ameaças,

“Hoje é só virtual, depois vocês vão ver seus m**”, dizia uma das mensagens.

A equipe da candidata tentou reiniciar a atividade, mas não conseguiu e teve que encerrar o encontro virtual.

Na semana anterior, já havia ocorrido outra ataque semelhante, a deputada federal Melchionna participava de uma live da Articulação Nacional de Luta Contra a Aids, acompanhada de deputados do PT e PSDB, quando o encontro foi invadido.

A convenção municipal, nesta quinta-feira, 10/09,  servirá para teste com um sistema de segurança reforçada, inscrição prévia e aprovação manual para entrada na sessão virtual. A convenção confirmará a chapa Fernanda Melchionna e Márcio Chagas, como candidatos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) a prefeito e vice em Porto Alegre.

“Sabíamos que seríamos alvo de ataques desde o início. Vamos denunciar e tentar nos proteger”, diz o dirigente do PSOL no RS, Bernardo Correa. O partido estuda uma plataforma virtual mais segura e contratou técnicos para organizar e monitorar os encontros virtuais.

Para a deputada federal, as invasões dos hackers revelam a crise da democracia brasileira. “O ódio tem se transformado no instrumento do confronto com as diferenças. Isso é inadmissível. Tentam nos calar com ameaças e agressões. Não vão conseguir”.

A campanha de Fernanda e Márcio chegou a denunciar à polícia e ao TRE a invasão da live. Foi registrado um boletim de ocorrência na Polícia Civil e protocolado um ofício no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Mas tanto no TRE quanto na Polícia Civil a investigação não evoluiu.

O TRE diz que vai intensificar a fiscalização contra Fake News e outros crimes cibernéticos. Há uma equipe de técnicos e foi criada a Comissão de Enfrentamento à Desinformação. Mas que irá agir a partir das convenções eleitorais, que já estão ocorrendo.

Na Polícia Civil, a delegacia especializada em crimes cibernéticos, criada no Estado em 2010, possui apenas cinco agentes e dificuldades para investigar esse tipo de crime, como o JÁ mostrou quando um vídeo circulou no começo de agosto fazendo acusações contra o prefeito Nelson Marchezan Júnior. Também na ocasião foi registrado um boletim de ocorrência. Até agora a investigação não apontou responsáveis.

No PSOL, a convenção municipal servirá para teste com um sistema de segurança reforçada, inscrição prévia e aprovação manual para entrada.

Outros ataques no país, com a esquerda na mira

Não foi só no Rio Grande do Sul, ataques virtuais foram registrados em outros estados. Em pelo menos outras cinco ocasiões.

No Rio de Janeiro, a candidata Renata Souza (PSOL) teve live invadida no dia 20/08. No dia 19, o fato criminoso ocorreu na Bahia, em uma live do pré-candidato Chico Cancela, na cidade de Porto Seguro. Em 18 de agosto, a vítima foi o pré-candidato a vereador William De Lucca (PT), em São Paulo. Já em Olinda, Pernambuco, as pré-candidatas, Eugênia Lima (PSOL) e Cida Pedrosa (PCdoB), afirmam que sofreram ataques cibernéticos.

“É um escândalo que, possivelmente, a extrema-direita esteja se organizando em milícias virtuais para atacar o direito de debate democrático”, enfatiza Melchionna.

No TRE há comissão para enfrentamento de Fake News

Além das invasões cibernéticas, o combate as conhecidas Fake News representa uma das principais linhas de atuação do TRE gaúcho nesta eleição.

Presidida pelo desembargador Jorge Luís Dall’Agnol, a Comissão de Enfrentamento à Desinformação pretende atuar em três eixos: conscientização do eleitor, fiscalização e responsabilização.

“Queremos, primeiramente, intensificar uma educação midiática, para que o eleitor não seja ludibriado e que escolha baseado em informações verdadeiras”, diz Dall’Agnol, que é o diretor executivo da Escola Judiciária Eleitoral do Rio Grande do Sul (EJERS), além de desembargador do TJ/RS.

“Vamos sim receber denúncias, pelo whatsApp e pela internet, e analisar, fazendo uma filtragem para que cada tema seja o mais rapidamente encaminhado, ou ao Tribunal Eleitoral ou órgãos policiais, ou ambos”, explica ao desembargador.

O TRE deve lançar até o dia 15 um número de telefone e uma página em seu site para receber as denúncias. A comissão é formada pelo desembargador Dall’Agnol, o diretor-geral do TRE-RS, Josemar Riesgo, o secretário judiciário da instituição, Rogerio Vargas, o secretário de Tecnologia da Informação, Daniel Wobeto, o assessor-chefe da Presidência, João Marcelo Longhi, o assessor de comunicação, Cleber Moreira, e o gerente do Núcleo de Ouvidoria, Augusto Schulz.

“Temos ainda um subgrupo de tecnologia da informação e técnicos que nos vão dar suporte e há parcerias com órgãos de segurança, como a PF, a Polícia Civil e a Abin”, salienta Dall’Agnol.

A primeira ação concreta do grupo foi a realização de parcerias com as principais rádios do estado para veiculação de peças sonoras, com 30s de duração, contendo esclarecimentos sobre temas referentes à atuação da Justiça Eleitoral e que são passíveis de dúvidas por uma parcela da população. Também haverá campanhas de TV.

É realizado ainda seminários online, o próximo evento virtual, no canal do Youtube do TRE/RS, na semana que vem, deve discutir a segurança da urna eletrônica e as várias Fake News que tentam desqualificar o equipamento. “Há mais de 20 anos em uso, não há nenhuma prova de qualquer fraude na urna eletrônica”, lembra o desembargador.

A Comissão contra a Fake News não chega a ser uma novidade, em 2018 já houve uma equipe que atuou nas eleições. “Mas agora está mais organizada e tivemos tempo para preparar o processo e articular melhor nossas parcerias. Teremos respostas melhores e mais rápidas”, diz Dall’Agnol.

Sobre os crimes cibernéticos e invasões de encontros virtuais, como os ocorridos no caso da candidata Melchionna, o desembargador explica que a comissão não debate exatamente sobre eles, mas qualquer denúncia ao chegar ao grupo terá o encaminhamento adequado.

Os responsáveis, assim que forem identificados pela polícia, podem responder por crimes eleitorais, além do crime cibernético e de injúrias e calúnia. “Atrapalhar, interromper, de qualquer forma um evento de campanha não é permitido. Desde a convenção, qualquer evento virtual de campanha será considerado como ato partidário e intervenções e ataques, mesmo virtuais, serão enquadrados na lei eleitoral”, avisa o desembargador Dall’Agnol.

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Fonte TSE

 

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