Pesquisa: 52% dos funcionários de nível superior já receberam proposta de suborno

A entrevista coletiva foi virtual

“Já tentaram te corromper no contexto do serviço público?”

Essa pergunta foi feita a uma amostra de 366 funcionários públicos de nível superior, da administração direta do governo do Rio Grande do Sul.

Mais de metade (52,2%) respondeu que sim. Oferta de presentes (49%) e de propina (33%) foram as formas mais usadas nas tentativas de corrupção.

“Lamentável”, resumiu o presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo, Antonio Carlos Medeiros, na apresentação da pesquisa nesta quarta-feira (28).

Para ele, no entanto, a conclusão mais surpreendente está na segunda parte da pesquisa, que investiga “a probabilidade de engajamento dos funcionários em comportamentos antiéticos”.

Os dados obtidos por perguntas indiretas revelam índices muito menores do que se pode imaginar. “A pesquisa mostra, de um lado, que é grande o assédio aos funcionários, mas mostra também que é muito baixa a tendência do servidor aceitar o suborno. São dados que rebatem a narrativa corrente de que há muita corrupção no serviço público”, disse Medeiros.

A pesquisa inédita resulta de um convênio do Sintergs com o Curso de Pós Graduação em Psicologia, da PUCRS, que já tem um núcleo de pesquisadores trabalhando em temas relacionados à corrupção.

Sob orientação do professor Ângelo Costa, foi desenvolvida como tese de mestrado pelo pesquisador Felipe Vilanova. Foi feita entre fevereiro e maio de 2020.

O universo da pesquisa foi definido a partir do cadastro do Sintergs, que tem cerca de 5 mil filiados. Questionários foram remetidos via e-mail e watts e selecionados os que vieram com as respostas corretas e  completos. Metade dos que responderam tem funções de fiscalização de serviços, obras ou contratos.

Os pesquisadores acreditam que os resultados espelham a realidade do  funcionalismo do Rio Grande do Sul, mas têm dúvidas se eles refletem o que ocorre no cenário nacional, pois não há pesquisas sobre isso.

No que se refere às medidas tomadas pelo governo para combater a corrupção, 42% definiram como “ineficientes” e para 22% “nada mudou”.

Em relação ao “engajamento em comportamentos corruptos”, a média entre os servidores foi de 1,67 – em uma escala de um a nove. O indicador é uma média das respostas para cinco perguntas da pesquisa.

Em estudo realizado anteriormente pelo pesquisador com trabalhadores da iniciativa privada, a média foi de 2,29. Ou seja, a probabilidade de se envolver em corrupção é menor entre os servidores do que entre os funcionários de empresas privadas.

“A pesquisa evidencia a baixíssima tendência à corrupção por parte dos servidores gaúchos, o que contrapõe as narrativas construídas contra o funcionalismo”, disse Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sintergs.

Segundo o pesquisador Felipe Vilanova, “a menor disposição à corrupção entre trabalhadores do serviço público se assemelha ao verificado na Dinamarca”.

A percepção é reforçada pelo pesquisador em Psicologia Social Ângelo Brandelli Costa, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e orientador do trabalho de Vilanova. “A população, em geral, tem imagem contrária, mas a verdade é que os servidores públicos parecem ter menor propensão à corrupção.”

Sintergs lança cartilha 

Com base nos resultados, os pesquisadores elaboraram uma cartilha lançada nesta quarta-feira (28/10), com diretrizes para combater a corrupção no serviço público.

Com base nos dados, os pesquisadores propuseram cinco diretrizes:

1 – Reduzir sensação de esgotamento nos funcionários, priorizando decisões que envolvem recursos financeiros ou licenças públicas no início do expediente;

2 – Promover ambientes de cooperação;

3 – Coibir práticas antiéticas;

4 – Garantir que cargos de liderança sejam ocupados por quem distingue práticas legais de ilegais;

5 – Garantir transparência, efetividade e segurança dos canais de denúncia.

Perfil dos participantes da pesquisa

366 pessoas, entre 28 e 86 anos, todos associados ao Sintergs

91% se declararam brancos

75,7% têm alguma crença espiritual ou religião

65,5% estão na ativa

63,4% são mulheres

49,7% são da classe C

48,1% desempenham atividade de fiscalização

85,2% não têm filiação partidária

file:///D:/Users/J%C3%81/Downloads/Cartilha%20Sintergs.pdf

 

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