O arquiteto Renato dal Pian, que integra o consórcio Revitaliza, surpreendeu, nesta terça-feira, 22, os participantes do terceiro dos dez workshops programados para subsidiar o projeto de revitalização do Cais Mauá.
Ele defendeu a ideia de derrubar a maior parte do “Muro da Mauá”, a cinta de concreto que separa o centro histórico do porto, onde nasceu Porto Alegre.
“Tanto do ponto de vista da segurança, em relação a enchentes, quanto dos custos que implicaria esta solução, ela é viável”, disse Dal Pian.
Para manter os atuais níveis de segurança, seria necessário construir um outro muro de um metro à beira d’água e criar uma estrutura removível que, em caso de emergência, elevaria para os 3 metros a proteção contra enchentes. “A ideia ainda está sendo construída, mas já temos elementos muito fortes para justificá-la”, disse ele ao JÁ.
A ideia, segundo o arquiteto, já foi apresentada ao Instituto de Pesquisas Hidráulicas, da Universidade Federal, e recebeu apoio, conforme testemunhou um representante do IPH presente ao workshop.
O “Muro da Mauá”, com três metros de altura e 2.600 metros de extensão, faz parte de um grande sistema de proteção contra as cheias do Guaíba, para onde confluem quatro grandes rios – Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí. Em 1941, na maior enchente já registrada, as águas subiram mais de quatro metros e arrasaram o centro da cidade.
Esse trauma justificou o projeto de 68 quilômetros de diques, na extensão de quase toda a orla. O muro, entre o cais e o centro histórico, foi a última etapa, concluída em 1974.
A tragédia de 1941 não se repetiu e a necessidade do muro, que separa a cidade do seu porto e suas águas, foi questionada muitas vezes. Mas, até agora nenhum técnico ou governante se atreveu a endossar a ideia de sua derrubada.
Em abril deste ano, quando o assunto veio à tona, o Sindicato dos Engenheiros (SengeRS) promoveu um debate em que o presidente Cezar Ferreira concluiu: “É bem clara a necessidade de tecnicamente manter o sistema de proteção contra cheias do Guaíba”.
Uma carta com as conclusões do evento foi enviada ao prefeito Sebastião Melo (MDB) e ao governador Eduardo Leite (PSDB).
A hipótese com que trabalham os que modelam o projeto de revitalização do cais não elimina o muro: transfere parte dele para a borda do cais, na beira d’água, com uma altura menor (um metro) e uma estrutura suplementar, feita de partes móveis, que em caso de emergência elevam a barreira para os três metros.
É uma solução cara, principalmente pela parte removível que exige equipe de manutenção constante, mas que, segundo Dal Pian, pelos orçamentos preliminares já estimados, é suportável, ainda mais se levar em conta que representa também uma proteção aos empreendimentos a serem feitos no local.
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