Eduardo Leite, uma pré-candidatura no fio da navalha

Eduardo Leite
Governador Eduardo Leite. Foto: Ramiro Furquim

O governador Eduardo Leite joga uma cartada decisiva para seu futuro com a pré candidatura à presidência da República, lançada no pico de uma pandemia e no limiar de uma crise econômica sem precedentes.

O regime de bandeira preta que ele estendeu a todo o Rio Grande do Sul neste fim de semana pode consagrar sua candidatura ou pode enterrá-la de vez.

O desafio vai além da pandemia, pois, quando ela passar,  vai deixar um rastro de destruição de empresas e empregos, pelo qual ele poderá ser culpado, se prevalecer a narrativa de Bolsonaro e de seus seguidores: de que as medidas restritivas adotadas pelos governadores são inóquas contra o coronavirus e mortais para a economia, cuja recuperação no RS será ainda mais lenta e difícil por conta da crise, já instalada, e dos impostos turbinados que garroteiam os negócios.

Há quase cinco anos o Rio Grande do Sul mantém a aliquota básica do ICMS em 18% e a dos produtos essenciais como combustível, energia e telecomunicações, em 25%.

Por conta disso, é previsível uma queda ainda maior na arrecadação, tornando ainda mais graves as agruras financeiras do Estado, trazendo de volta o fantasma do parcelamento de salários, que por quase dois anos assombrou os servidores públicos.

E não é tudo. Na condição de pré-candidato à presidência, Leite estará sob a mira aguçada do presidente que só pensa em reeleição e de quem o Estado é cada vez mais dependente.

O Regime de Recuperação Fiscal, por exemplo, ao qual o RS tenta aderir há quatro anos. Ele decorre de uma lei aprovada no parlamento, mas sua implementação depende da Secretaria Nacional do Tesouro, comandada por um subordinado do presidente.

Sem contar que o Estado está desde 2017 sem honrar sua dívida com a União, acumulando um saldo devedor que supera os R$ 12 bilhões. A cobrança está suspensa por liminar do STF que, teoricamente não sofre ingerência de Bolsonaro. Mas ele é o credor e liminar, como se sabe, é instrumento precário e transitório. Pode cair a qualquer momento.

Fora isso, há os repasses e auxilios emergenciais do governo federal que até agora tem sido providenciais para o funcionamento da máquina estadual.

Não bastasse tudo isso, Eduardo Leite terá que enfrentar dentro do PSDB, seu partido, um embate com o governador de São Paulo, João Dória, também pré-candidato.

Leite tem, claro, o apoio da imprensa, principalmente da RBS que domina as audiências no RS. Um candidato à presidência seria um lenitivo à auto estima dos gaúchos, ferida pela prolongada crise.

Há que considerar, porém, que a audiência é alta mas a rejeição também e que o governo federal (diga-se Bolsonaro) também tem sua munição em verbas para os canais amigáveis.

Além disso, os demais veículos de comunicação alimentam grave ressentimento com o tratamento preferencial ao grupo de avenida Ipiranga. Os jornais do interior, por exemplo, mais de uma centena aglutinados na Adjori, não escondem o seu desagrado.  E o cobertor é curto.

Neste fim de semana, os veículos  da RBS publicaram uma matéria extemporânea para mostrar que a pré-candidatura de Eduardo Leite dentro do PSDB não é apenas resultado de um movimento liderado pelo deputado Aécio Neves, para retaliar João Dória que quer expulsá-lo do partido.

Nem todo o empenho da repórter Juliana Bublitz consegue tornar convincente a premissa da matéria, de que os emuladores da candidatura Leite dentro do PSDB são lideranças representativa de todas as regiões.

A verdade é  que os caciques tucanos, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,  incluindo Tasso Jereissati,  Geraldo Alkmin e mesmo o presidente do partido, Fábio Araújo, a quem Dória quis derrubar,  todos se mantém em cima do muro, com declarações habilidosas que não descartam outros nomes como Luciano Huck e mesmo João Dória.

Aos 35 anos, com estampa de galã, dono de discurso articulado e aberto ao diálogo, Eduardo Leite é, sem dúvida, um nome capaz de empolgar na campanha presidencial de 2022.

O problema é chegar lá e, nesse fio de navalha em que sua candidatura transita , um passo em falso pode ser fatal, comprometendo irremediavelmente o futuro brilhante que se desenha para ele.

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