Em busca do “centro ampliado”, PSDB deixa candidatura Dória no caminho

Dória e Aécio, em outros tempos

O governador de São Paulo, João Doria admitiu rever sua decisão de disputar a presidência da República, para tentar a reeleição estadual.

Em entrevistas a Folha e ao Estadão, no sábado, 13, Dória atribuiu a mudança de planos ao novo cenário eleitoral, com a volta do ex-presidente Lula, como possível candidato.

De fato o PSDB, com a volta de Lula, está defendendo uma grande frente de centro para quebrar a eventual polarização Bolsonaro-Lula.

Mas o fato é que o nome de João Dória, como candidato à presidência vinha enfrentando resistência dentro do PSDB, principalmente no grupo do deputado Aécio Neves, no qual se inclui o próprio presidente do partido, Fábio Araújo.

Dória tentou expulsar Aécio do partido e antecipar a saída de  Araújo da presidência que ele, Dória, queria ocupar.  Sofreu um revés completo.

Fabio Araújo foi confirmado no cargo pela executiva nacional, Aécio ficou fortalecido e ainda mobilizou um grupo de deputados e senadores tucanos para lançar a pré-candidatura de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.

Agora, fortalecido com a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Aécio está propondo uma frente de centro – um “centro ampliado” – para chegar a um candidato de consenso que possa tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno em 2022.

Com o apoio dos notáveis do partido, como FHC, criou-se uma situação inusitada para Dória: ter que disputar a candidatura à presidência numa frente que inclui Ciro Gomes, o ex-ministro Mandetta e eventualmente Luciano Huck, entre outros.

Dória, que já se colocava como o anti-Bolsonaro, sendo inclusive alvo de ataques do presidente candidato á reeleição, fica numa situação insustentável.

Admitir uma candidatura ao governo do Estado, é um recuo de Dória ante as dificuldades internas.  Embora o estatuto do PSDB garanta prioridade ao governador para a reeleição, nem assim ele encontra condições favoráveis.

Um obstáculo à esta solução estadual é o ex-governador Geraldo Alckmin, que pretende ser candidato ao Palácio Bandeirantes  e conta com o apoio de vários líderes do interior do estado.

Alckmin e Doria, antigos aliados, estão em alas opostas dentro do partido.

Tudo indica que se quiser manter sua candidatura à presidência, João Dória terá que buscar outra legenda. No PSDB ele está exposto a chuvas e trovoadas.

Aécio diz que Dória vive “uma ilusão”

No sábado, 13, o deputado Aécio Neves disse que “o PSDB pode abandonar sua candidatura à presidência no ano que vem” e defendeu a formação de um “centro ampliado” para derrotar Lula e Bolsonaro.

“Temos de radicalizar no centro. Temos de propor, construir um centro ampliado para fazer frente ao Bolsonaro e ao Lula. Centro ampliado tem de ter de Ciro [Gomes, PDT] a PSDB, MDB, DEM, com o [ex-ministro Luiz Henrique] Mandetta, Luciano Huck, o [governador gaúcho tucano] Eduardo Leite e o [presidente do Senado pelo DEM-MG] Rodrigo Pacheco”, disse Aécio à Folha.

“O que o PSDB tem de colocar na balança é a possibilidade de não ter candidatura à Presidência se, nesse conjunto de forças, houver uma candidatura com mais viabilidade”.

O deputado ainda acusou Doria de viver sob a “ilusão de que é o sujeito mais querido do Brasil”: “O governador constituiu em torno de si o que chamamos de CCC, o Conselho do Cargo Comissionado. São pessoas com funções de confiança do governo e que têm função partidária também. Eles se reúnem à noite com o governador para dizer que está tudo bem, que o terno estava muito bonito, a gravata era belíssima e o cabelo estava bem penteado. Aí ele dorme na ilusão de que é o sujeito mais querido do Brasil. Acho que foram esses conselheiros que levaram ele ao equívoco de que poderia tratar o PSDB como uma legenda qualquer”.

“Ninguém será candidato pela imposição. É uma construção. Não se constrói uma candidatura como se preside uma reunião do Lide [grupo empresarial que era liderado por Doria], com um apito na boca, dizendo quem pode falar e quem deve calar. O governador tem virtudes, mas sua obsessão pelo marketing impede que muitas dessas virtudes possam ser vistas”, disse.

Eleito para a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, está recuperando o protagonismo, depois da execração nacional causada pela divulgação de um telefonema seu pedindo R$ 2 milhões ao empresário Wesley Batista. Aécio está considerando a eleição como equivalente à anulação dos processos do ex-presidente Lula pelo ministro Edson Facchin.

“Meu papel agora é suprir as lacunas que a gestão de política externa brasileira. Temos de tentar restabelecer a política externa, temas como o ambiente, de que o Brasil se afastou. Não podemos nos arvorar como Poder Executivo, mas temos instrumentos para discutir mecanismos para permitir a reinserção maior do Brasil no mundo”, declarou.

Sobre a Operação Lava Jato e sobre o papel do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, Aécio foi crítico:

“Houve virtudes [na Lava Jato]. Criminosos foram condenados, presos. Mas a criminalização da política e as arbitrariedades foram enormes. Eu mesmo assinei um documento em favor do direito de Lula de ter um processo legal. O grande mal da Lava Jato foi misturar criminosos e gente de bem na vida política. Janot tinha pretensões políticas. […] Sobre o Moro, não vou entrar no mérito de ilegalidades. Ele ajudou muito a fragilizar muito a Lava Jato na hora em que aceitou ser ministro da Justiça de um governo que ajudou, direta ou indiretamente, a eleger”, completou.

 

 

 

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