João Freitas, negro de 40 anos, mais uma vítima do racismo estrutural

Mesmo depois de ser imobilizado, os seguranças continuaram agredindo João Freitas

O assassinato de um homem negro espancado até a morte por seguranças brancos no estacionamento do hipermercado Carrefour faz voltar-se para Porto Alegre o foco dos movimentos antirracistas do mundo inteiro.

João Alberto Freitas, de 40 anos, ao desentender-se com uma funcionária do mercado provocou uma explosão do racismo estrutural por parte de dois seguranças que foram chamados para retirá-lo do local.

As circunstâncias do crime ainda não estão esclarecidas, mas os primeiros relatos indicam que após o suposto desentendimento com uma funcionária do local, Freitas foi levado para o estacionamento do supermercado. Ele teria se irritado com a atitude agressiva dos guardas e dado um soco num deles.

Os vigilantes revidaram e, mesmo depois de terem dominado o homem, seguiram espancando-o com socos e ponta pés. Mesmo com pessoas gritando: “Estão matando o cara”… eles não pararam.

Os dois guardas envolvidos foram presos em flagrante. Conforme a Brigada Militar, um deles é policial militar temporário. Vídeos mostram Freitas sendo agredido com vários socos na cabeça, mesmo após ter sido imobilizado.

A 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP) da Polícia Civil investiga o assassinato. A morte ocorreu dentro do hipermercado Carrefour, localizado na avenida Plínio Brasil Milano, em Porto Alegre.

A titular da 2ª DPHPP, delegada Roberta Bertoldo, explicou nesta sexta-feira que a motivação para a vítima ser agredida e morta ainda está sendo investigada.

“O que nós temos sobre esse caso é que aconteceu algum tipo de incidente que não está ainda completamente esclarecido”, disse, referindo-se ao que originou o espancamento. Ela já adiantou a linha da apuração do crime. “É homicídio triplamente qualificado”, adiantou.

Conforme Roberta, as primeiras informações recebidas relatam que o cliente foi conduzido pelos seguranças até o lado externo do estabelecimento. “Ao passar pela porta giratória e acessar o estacionamento, a vítima desferiu um soco nos seguranças e a partir de então esses dois começaram a agredir severamente a vítima até que  infelizmente entrasse em óbito”, relatou, acrescentando que ocorreu  excesso na condução da situação dos seguranças. “Incompreensível para qualquer pessoa”, frisou.

Todos os envolvidos, inclusive funcionários e testemunhas, devem prestar depoimentos e apresentarem as respectivas versões.

“Precisamos ouvir testemunhas que tenham presenciado o ocorrido”, observou. “Quem não impediu a agressão responde também, ao meu ver… A moça de camisa branca é a fiscal com a qual a vítima teria se desentendido, mas não está confirmado isso ainda. Ela não impediu as agressões e ainda ameaçou pessoas para que não filmassem”, completou a delegada Roberta.

As imagens das câmeras do estabelecimento e de celulares que gravaram o espancamento, vistas nas redes sociais, serão analisadas. “Imagens com maior amplitude de horário serão coletadas”, garantiu.

Laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) estão sendo aguardados para esclarecer a causa da morte. A titular da 2ª DPHPP lembrou que a vítima estava pressionada no chão com duas pessoas em cima.

A esposa da vítima estava fazendo compras junto. Em depoimento na delegacia, ela contou que o casal estava no caixa e o marido “teria feito algum gesto” para uma fiscal, mas a delegada Roberta Bertoldo considerou que não justificaria a agressão. A titular da 2ª DPHPP ressaltou que, por enquanto, não existem indicativos de que a vítima tenha agredido alguém dentro do hipermercado.

 

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