José Paulo Bisol (1928-2021) : “Sempre estive do lado de lá do comum das coisas”

José Paulo Bisol, em depoimento à Assembléia RS. Foto: Galileu Oldenburg/Agência ALRS

Por “falência múltipla de órgãos”, morreu às 10h26 deste sábado, aos 92 anos,  José Paulo Bisol, que se autodefinia como “um múltiplo”.

Foi poeta, escritor, juiz, desembargador, cronista esportivo, professor,  apresentador de TV,  deputado, senador e secretário de Justiça, além de ter sido duas vezes candidato à vice-presidência.

“Sempre estive do lado de lá do comum das coisas”, dizia referindo-se à sua trajetória, toda marcada pela rebeldia e por posições arrojadas, às vezes, desconcertantes, sempre em busca de justiça e esclarecimento.

Juiz em início de carreira, chocava os moradores da pacata Livramento dos anos 1960, com suas sentenças polêmicas: “O direito à vida está acima do direito à propriedade”, disse certa vez ao absolver um homem que roubara para levar comida aos nove filhos.

Desembargador aposentado, na Porto Alegre de 1980, ganhou notoriedade falando de poesia, filosofia, direitos humanos e feminismo num programa de televisão, o pioneiro TV Mulher.

Secretário de Segurança Pública, no governo de Olívio Dutra, em 2001, intercedeu pessoalmente para resolver um sequestro e encerrou dando um abraço no sequestrador.

Candidato a vice-presidente da República, defendeu agricultores que invadiram uma fazenda, dizendo que a reforma agrária era um dispositivo constitucional que, ao não ser cumprido, legitimava a atitude do movimento dos sem-terra.

Senador na Constituinte que fez a Carta de 1988, era um crítico implacável do modo como se fazem as leis no Brasil:

“Somos o reino do sigilo. Aqui se legisla e se administra em segredo. Quando a gente vê, tem lei nova em cima ou os trâmites do procedimento são outros. Muda-se a toda a hora a regra do jogo”.

Carreira política

A notoriedade que adquiriu na TV permitiu a Bisol eleger-se deputado estadual pelo PMDB, em 1982, praticamente sem fazer campanha.

Ao fim do mandato, candidatou-se ao Senado e foi um dos mais ativos nos trabalhos de elaboração da “Constituição Cidadã”, sob a liderança de Ulisses Guimarães.

Com Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, foi um dos fundadores do PSDB em 1988 e, como senador, liderou a criação da primeira CPI do Congresso Nacional para investigar o escândalo dos “Anões do Orçamento”.

Para ser candidato a vice-presidência na chapa de Lula, em 1989, mudou para o PSB  e foi alvo de acusações que, depois, não se confirmaram, mas que influíram no desgaste que levou à derrota para Fernando Collor.

Manteve-se como vice na segunda tentativa de Lula para chegar à presidência da República, em 1994.

Na campanha com Lula, em 1994

Desta vez foi acusado de usar a influência política para obter financiamento do Banco do Brasil para comprar uma fazenda e de ter apresentado emendas superfaturadas para beneficiar o município de Buritis (onde ficavam suas terras)

Foi tamanha a campanha na imprensa que teve que renunciar, em favor de Aluísio Mercadante.  Processou todos os jornais que o acusaram – Jornal do Brasil, O Globo, Estado de S. Paulo, Correio Braziliense, IstoÉ e Zero Hora.

Com o dinheiro das indenizações que recebeu comprou a casa em que morava desde que se afastou da vida pública, num condomínio fechado, em Osório (RS).

Em 1998 foi novamente candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, sem êxito. Foi então chamado pelo governador eleito, Olívio Dutra, para a Secretaria de Justiça e Segurança.

Fez uma gestão polêmica, em que combateu a corrupção e tentou desmilitarizar e unificar as polícias civis e militar, motivos de intensa reação nas corporação e ampla repercussão na imprensa, interessada em desgastar o governo petista.

Bisol deixa a esposa, Vera Lúcia Zanette, três filhos, Tula, Ricardo e Jairo, nove netos e um bisneto.

(Com informações do Brasil de Fato, Wikipedia, Arquivo JÁ)

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