Matador de Marielle vai falar: PF espera que ele entregue os mandantes do crime

Uma fonte não identificada confirmou ao repórter Lauro Jardim, do jornal O Globo, que o ex-sargento da Polícia Militar, Ronnie Lessa, fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

A informação foi postada neste domingo às 15h33 no site do jornal, mas não está na capa da edição impressa desta segunda-feira.  O acordo de delação ainda precisa ser homologado pelo STJ.

Acusado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, Lessa foi preso em 2019.

Logo depois, em delação premiada,  o também ex-PM Élcio Queiroz,  que dirigiu o carro utilizado no crime, confirmou que foi Ronnie Lessa o atirador que matou a vereadora carioca e seu motorista.

O que a PF quer saber agora é quem foi  o mandante ou os mandantes do crime.

Egresso do Exército, Lessa foi incorporado à Polícia Militar em 1992. Como terceiro-sargento da PM, chegou a receber uma homenagem na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em 1998. Depois, passou para a Polícia Civil, como “adido”.

Trabalhou na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
Teria sido nessa vivência como “adido”  que Lessa se tornou um pistoleiro de aluguel.

Trabalhou inicialmente para o bicheiro Rogério Andrade, que estava  em guerra outro contraventor concorrente.

Ágil, corajoso e excelente atirador, Lessa  progrediu rápido na quadrilha de Andrade e logo virou homem de confiança do contraventor.

Em 2009, sofreu um atentado em que perdeu uma perna.

Em abril de 2010, quando uma bomba colocada no carro do bicheiro matou seu filho, Diego Andrade, de 17 anos, Lessa perdeu o cargo de guarda-costas.

Reformado por invalidez, Lessa passou a integrar uma quadrilha de matadores de aluguel,  que espalhou terror na zona Oeste do Rio.

Lessa está no presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Rio.

No início deste janeiro, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues,  que assumiu o caso Marielle há um ano, previu que até março a Policia Federal esclarecerá o crime, com a identifcação dos mandantes.

Ele já estava negociando o acordo de delação premiada, agora anunciado.

 

 

 

Queiroz mandou recado aos Bolsonaro: “Todos vão dançar”

A prisão de Fabrício Queiroz na primeira hora desta quinta-feira  é o mais duro golpe na família Bolsonaro e atinge também o presidente.

Amigo da família há mais de 30 anos e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Queiroz era o articulador do esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio durante o tempo em que ele foi deputado estadual no Rio de Janeiro.

Ele é apontado também como o elo de ligação do senador com as milícias do Rio de Janeiro.

Quando estava hospitalizado no ano passado, com a polícia no seu encalço, Queiroz postou um vídeo em que ele e sua mulher, Márcia, apareciam dançando.

O vídeo foi interpretado como um recado cifrado à família: “Estou dançando, mas todos podem dançar comigo se eu for preso”.  Em outra ocasião ele se queixou de que o cerco da polícia estava se fechando sobre ele e “ninguém fazia nada”.

Há sinais evidentes e numerosos de que desde então ele tem sido protegido pelos Bolsonaro.

Em operação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil, Queiroz foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo, e deve ir para o Rio, onde é investigado. A operação denominada “Anjo” teve o apoio da Polícia Civil.

O MP do Rio também cumpre mandados de busca e apreensão em diversos endereços da capital. Um deles é a casa de Bento Ribeiro, escritório político da família Bolsonaro.

Ele esteve no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio entre 2007 e 2018 e, no período, emplacou sete parentes na estrutura. Além dele, também foram lotados outros sete parentes dele no gabinete de Flávio desde 2007.

Entre os parentes de Queiroz investigados junto com ele, estão a mulher, a enteada e duas filhas, uma delas é Nathalia Queiroz, conhecida por ser personal trainer no Rio.

O endereço onde Queiroz foi preso em São Paulo está em nome do advogado Frederick Wassef que atua na defesa do presidente e do senador Flávio Bolsonaro.

Além da prisão de Queiroz, o MP-RJ obteve na Justiça a decretação de medidas cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, o comparecimento mensal em Juízo e a proibição de contato com testemunhas.

São eles o servidor da Alerj, Matheus Azeredo Coutinho; os ex-funcionários da casa legislativa Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins; e o advogado Luis Gustavo Botto Maia.

Momento da prisão de Fabrício Queiroz (de boné azul) em Atibaia, interior de São Paulo Foto: Reprodução

Alvo principal desta quinta-feira, Queiroz tenta explicar desde o fim de 2018 uma “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão, no intervalo de um ano, em suas contas.

Casa de Fabrício Queiroz em Bento Ribeiro também foi alvo da operação da PF e MPF /  Reprodução

Questionado sobre a movimentação atípica em sua conta, Fabrício Queiroz afirmou que suas transações financeiras eram fruto da compra e venda de veículos usados.

Porém, além da movimentação de R$ 1,2 milhão, o ex-assessor da Alerj também entrou no radar do Coaf por outros R$ 5,8 milhões movimentados nos últimos três anos. Somados, os valores indicam transações atípicas de R$ 7 milhões.