Um escorpião amarelo encontrado à luz do dia no corredor de um prédio no centro acendeu o alerta: Porto Alegre está infestada. Foi o segundo encontrado no mesmo local este ano.
Ainda não se tem a exata dimensão do fenômeno.
O que se sabe é que, desde 2001, quando foi registrada a primeira picada, “a situação na cidade só se agrava”, conforme constata Fabiana Ninov, a única bióloga da Vigilância em Saúde a dedicar-se ao problema.
Seu trabalho tem sido percorrer os locais onde o escorpião é visto, orientando porteiros, zeladores, síndicos, comerciantes sobre os riscos e os cuidados.
O Tityus serrulatus, nome científico do bicho, é o escorpião mais venenoso do continente americano. Sua picada pode ser fatal para crianças e idosos.
Em 2017, foram registrados pelo Centro de Informações Toxicológicas 17 casos no Rio Grande do Sul, sete na capital, em vários pontos da cidade: Assis Brasil, Restinga, Partenon, Ceasa.
Agora, no início deste ano, foi encontrado no centro, na rua Senhor dos Passos. É provável que haja infestações em outros prédios antigos, onde há acumulação de entulhos, pois ele se multiplica velozmente.
Cada fêmea dá 20 a 30 filhotes por vez, uns 160 durante a vida, e sem acasalamento (se reproduz por partenogênese).
De hábitos noturnos, vivem nos esgotos, escondem-se em frestas e rachaduras das paredes, podem escolher seu sapato para se abrigar enquanto você dorme. No meio urbano seu alimento favorito são as baratas.
O Tityus serrulatus chegou ao Sul de caminhão, a cerca de 20 anos, oriundo da região de Minas Gerais e São Paulo, provavelmente num carregamento de hortaliças. Também há relato de alguns vindos numa carga de madeira da China, mais tarde.
Uma centena de tipos de escorpiões habita o brasil, cerca de dez são nativos no Rio Grande do Sul, mas os perigosos são minoria.
O Tityus serrulatus, que não existia no Estado até o ano 2000, é o mais venenoso: pode matar em poucas horas uma criança ou um idoso. Por terem menos água no corpo, a concentração tóxica do veneno é maior.
Em outubro, uma criança de cinco anos foi picada na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Aquele foi o quinto registro do ano. Levada rapidamente ao HPS, foi tratada e se recuperou. Em novembro a Prefeitura emitiu um alerta epidemiológico.
Em janeiro, um deles foi visto num prédio na rua Senhor dos Passos, entre Andradas e Alberto Bins, um ponto comercial movimentado do centro velho. Agora em maio, de novo, no mesmo edifício, misto de comércio e residências. Chamada ao local, a bióloga Fabiana Ninov, da Vigilâcia em Saúde do município, constatou que o subsolo está cheio de entulho, ambiente convidativo para qualquer escorpião.
A visita culminou numa reunião de capacitação de pessoas do prédio para identificar e controlar a presença do escorpião amarelo. Responsável por uma das empresas que funciona naquele endereço, a Barcellos Assessoria Imobiliária, Fernando Barcellos decidiu sugerir ao Secovi, sindicato que reúne construtoras e imobiliárias, promover a capacitação de agentes em todas as imobiliárias, e que estes transmitam a porteiros, zeladores, síndicos. “Foi muito boa esta ideia, é desse tipo de iniciativa que precisamos”, anima-se a bióloga. “É essencial que todos estejam informados e mantenham-se de olhos bem abertos.”
Falta sincronia entre os agentes públicos
O biólogo Ricardo Ott, da Fundação Zoobotânica, lamenta que não exista uma ção integrada entre órgãos estaduais e municipais e compara a situação do escorpião amarelo com a da lexmaniose. “Há 20 anos todos sabem que existe no Morro São Pedro. Agora chegou ao Morro Santana”.
O Estado, avalia Ott, deveria promover financiamento de pesquisa voltada a identificar vetores de lexmaniose. “Qual a causa? Desmatamento, lixo acumulado? Qual é o vetor, qual é o mosquito? Não sabemos”. Em vez disso, quer extinguir a Fundação.
“Se a Zoobotânica fechar mesmo, seria ótimo que viessem trabalhar conosco. O último concurso para biólogo em Porto Alegre foi em 1998, estamos nos aposentando”, diz Fabiana Ninov.
Como manter o escorpião longe
Muita limpeza, rigor com o lixo, acúmulo de entulho de jeito nenhum, telas em todos os ralos, rebocar frestas e rachaduras, consertar rodapés soltos, vedar soleiras de portas e combate às baratas são providências urgentes para que o escorpião não seja atraído.
Em locais de maior risco, como moradias térreas em locais com lixo acumulado por perto, cuidados cotidianos devem ser adotados, como sacudir bem lençóis e travesseiros, vistoriar embaixo das camas antes de deitar e dentro dos sapatos antes de os calçar, colocar telas nas janelas, pias, tanque.
Tudo o que atrai baratas – lixo, louça suja, cebola, restos de cerveja deve ser evitado.
Em abril, foram distribuídas aos agentes municipais de controle de endemias luvas reforçadas e pinças adequadas à captura dos escorpiões. Como a picada não deixa marca, as enfermeiras das unidades básicas de saúde estão recebendo capacitação para reconhecer um caso pelos sintomas, na triagem, para agilizar o atendimento
O que não fazer
Escorpião não é inseto, inseticida só vai deixá-lo mais agressivo.
Quem se deparar com um deve matá-lo, segundo orientação da Vigilância em Saúde, usando um tijolo, pedra, um objeto duro. Pisar nele, só se estiver usando botas. Depois, o ideal é comunicar pelo 156 e encaminhar para identificação.
O soro antiescorpiônico é produzido em SP, MG e RJ, onde sobra matéria-prima, que é o veneno extraído do animal vivo.
Escorpião amarelo: Vigilância alerta para o risco de infestação
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