Higino Barros
As paisagens de Cambará do Sul serviram de cenário essa semana para as filmagens do longa metragem “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, uma realização da Walper Ruas Produções, com direção e roteiro de Tabajara Ruas. O diretor do filme, Tabajara Ruas, respondeu ao JÁ quatro perguntas sobre a obra:
Já – O que representa “A Cabeça de Gumercindo”, na sua carreira como cineasta?
Ruas – A Cabeça de Gumercindo Saraiva tem uma importância diferente: foi um projeto bem pessoal, o roteiro eu escrevi a partir de uma legenda gaúcha, que é o Gumercindo Saraiva. Ele realmente foi morto em uma tocaia, teve a cabeça decepada e enviada ao Governador que não quis recebê-la. Não se sabe o que foi feito desta cabeça.
Aí entra a ficção, aí entra a história que criei: o major paulista Ramiro de Oliveira, a quem foi confiada a missão, parte para a Capital carregando a cabeça, saindo no noroeste do RS, com uma pequena vanguarda de mais dois oficiais. O filho de Francisco, instado pelo tio Aparício, sai atrás do trio, com um grupo de mais 5 rebeldes, na tentativa de resgatar a cabeça, numa perseguição que cruza o Estado.
Episódios de aproximação e afastamento entre perseguidor e perseguido, confrontos e desafios num duelo de vontades movem os dois líderes até o encontro final em Porto Alegre. Fica aqui a dúvida: o que será feito da cabeça? No filme apresento a minha versão.
O roteiro ganhou o concurso Prodecine 01, do fundo setorial do Audiovisual em 2013, sendo um dos 22 contemplados entre 142 inscritos e o único da região sul. E eu fiquei muito feliz, porque os analistas elogiaram muito o roteiro, dizendo entre outras coisas, que transpunha à perfeição o gênero western a uma situação histórica de nosso País.
JÁ – O que difere e o que coincide com as obras anteriores?
– Meus filmes anteriores “Netto perde sua alma”, “Netto e o domador de cavalos” e “Os Senhores da guerra” eram produções épicas, gigantescas, com batalhas a cavalo, muitos figurantes.
Este filme é mais contido, tem cenas de ação e luta, mas com pouca gente. Então é mais simples no modo de fazer. Por outro lado, aposta mais na dramaturgia, nos personagens que são mais densos, mais cheios de nuances.
Mas é também um filme de época, baseado em fatos históricos. Gostamos de fazer estes filmes, eles têm permanência, mostram nossa História de uma forma que a aproxima do público. Nossos heróis surgem de carne e osso, tem emoções, se movimentam. E contam uma história que daqui a cem anos vai fazer o mesmo sentido que agora.
JÁ – Como é fazer cinema no Brasil, tão conturbado, de hoje.
– Fazer cinema no Brasil continua sendo um desafio. Resolvemos boa parte do problema de produção, com a Ancine, o FSA, as políticas de Lei do Audiovisual. Mas ainda não temos público, não soubemos trazê-lo de volta para as salas de exibição. Por isso sempre digo que fazemos produtos audiovisuais, para que depois da estreia no cinema passem na TV. Netto perde sua alma e Netto e o domador de cavalos tiveram milhões de espectadores nas exibições que tiveram, após 5 anos em cartaz no Canal Brasil. E até hoje, mesmo assim, seguem sendo exibidos nas escolas de todo Estado a cada época da semana farroupilha.
JÁ – Como se chegou ao nome do filme? Ele remete ao “Traga-me a cabeça de Alfredo Garcia”; do Sam Peckinpah.
– A história deste filme é baseada na novela “Gumercindo”, lançada ano passado pela Besouro Box. Mas no filme, mantivemos o nome do ensaio que me inspirou a escrever este livro, que é “A cabeça de Gumercindo Saraiva”, que escrevi com o Elmar Bones nos idos de 1997. O ensaio foi o livro mais vendido da Feira do Livro de Porto Alegre naquele ano, teve edição também no Uruguai, e o prefácio foi do então presidente uruguaio Sanguinetti. Mas todo mundo achou que o nome era forte, por isso buscamos manter. Falei com o Elmar e ele concordou em usarmos “A cabeça de Gumercindo Saraiva” como título do filme.
Cenários no interior
Os parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral se transformaram no set de filmagens da produção que mostrará para o mundo as belas paisagens do local. Entre elas, o magnífico Cânion da Fortaleza e a deslumbrante cachoeira do Tigre Preto. Tudo isso, para emoldurar a história que acontece no final da revolução federalista de 1893.
Nesta fase, está sendo utilizado um drone que ajudará a registrar com mais impacto a trama que percorre vários municípios gaúchos. O filme mostra a epopeia do capitão maragato Francisco Saraiva e cinco cavalheiros numa exasperante caçada para resgatar a cabeça de Gumercindo Saraiva, cortada pelos legalistas e levada como troféu ao governador Júlio de Castilhos, pelo major Ramiro.
No fim desta semana as filmagens seguem para Gravataí. A catedral de São Miguel das Missões; o Theatro e também o Hospital São Pedro, em Porto Alegre, também serão cenários desta aventura.
“A cabeça de Gumercindo Saraiva”: Tabajara Ruas filma um western em terras gaúchas
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa

Deixe um comentário